O governador Mário Covas já vinha apresentando problemas de saúde desde 1998, quando foi detectado um tumor maligno na parede lateral esquerda da bexiga. O problema foi sanado após cirurgia no dia 4 de dezembro daquele ano, com a reconstrução do órgão com tecido retirado do intestino. Dez dias depois, uma nova operação foi necessária para que um tumor benigno, situado na próstata, fosse extraído.

Um dos professores de Covas no Colégio Santista, nos anos de 1939 e 1940, foi Ludovico Jayer, o Irmão Guido, de 85 anos, que também lecionou para outro governador, Paulo Egídio Martins. O mestre lembra de Covas como um aluno muito ativo, alegre e brincalhão, com grande facilidade para fazer amigos. Era um jovem muito convicto em suas posições: o que era branco, era branco; o que era preto, era preto, recorda-se o professor. Quanto ao seu desempenho escolar, Ludovico garante que o governador era atento aos estudos, mas sempre foi fanático por uma bola de futebol, lembra.

Ele afirma que Mário Covas foi seu mestre, mas apresenta um perfil muito diferente do professor. Discrição é a característica de Geraldo Alckmin, vice de Covas desde 94, que agora assume o governo do Estado. Nascido em Pindamonhangaba em 7 de novembro de 1952, Alckmin é formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Taubaté e se especializou em Anestesiologia, no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo. Como o antecessor, pertence ao PSDB.

Meio-dia e meia. Havia um silêncio incomum, nas ruas do Centro, especialmente a Amador Bueno e a Avenida São Francisco, abertas apenas para os pedestres e à espera do cortejo com o corpo do governador Mário Covas. Quanto mais próximo da Praça José Bonifácio, maior o número de pessoas que foram até lá dar adeus ao santista ilustre.

Saudado por fogos e muito aplaudido pela multidão, o cortejo trazendo o corpo do governador Mário Covas chegou à Avenida São Francisco às 12h50m desta quarta-feira. A partir do cruzamento com a Rua Frei Gaspar, os batedores que acompanharam o carro de bombeiros durante o percurso na Rodovia dos Imigrantes, foram substituídos por quarenta homens da Cavalaria da Polícia Militar.

Entre primos e primas de primeira e segunda geração, de 17 a 80 anos de idade, somavam mais de 20, no Cemitério do Paquetá, reunidos, desde as 11h30, junto à capela, aguardando a chegada do cortejo vindo da Capital. Os parentes, grande parte senhoras entre 70 e 80 anos, muitos vindos de São Paulo, Brasília e uma parte residente em Santos, sentados e descontraídos, falaram com emoção e carinho de Mário Covas, lembrando passagens de quando ele era menino e já gostava de comandar brincadeiras, garantindo que um dia seria prefeito de Santos.

"Não são palavras de despedida, são palavras de permanência. Você, Mário, foi consagrado. Eu vi pelas ruas de São Paulo. Consagrado quer dizer: foi sagrado junto, junto do seu povo. Seu povo, nosso povo reconheceu em você um líder, reconheceu suas virtudes. Quiséramos nós possuí-las. De coragem, de firmeza, de amor à democracia, de dureza quando necessária, mas também de ternura, também de emoção, também de amor.

O governador Geraldo Alckmin teve uma postura discreta durante todo o funeral. E tão logo foi encerrada a cerimônia, retirou-se rapidamente, ao lado da esposa, mas foi acessível à Imprensa na saída do cemitério, falando em tom baixo e didático, seu pensamento sobre a perda que o País sofreu. Mário Covas foi um professor, uma escola política permanente. Ensinava não pelas teorias mas por exemplos de coragem e pelas práticas de amor ao próximo.

A grande crença de Covas foi, acima de tudo, na democracia. (José Gregori, ministro da Justiça). Ele formou uma geração de políticos que têm o dever de seguir o seu exemplo. (Tasso Jereissati, governador do Ceará). Foi o mais bem acabado exemplo de homem público da sua geração. (Aécio Neves, presidente da Câmara dos Deputados). Com a morte de Covas, perdem aqueles que fazem política corretamente. (Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT). Padrão de dignidade e seriedade. Tipo que não existe igual. (senador Pedro Simon, PSDB/RS)

Foi um dos maiores contingentes de guardas municipais destacados para um único evento. Ontem (7), uma centena de guardas atuou no interior do Cemitério do Paquetá cumprindo com muita determinação a tarefa de cuidar da segurança do grande número de familiares e autoridades que participaram do sepultamento do governador. O subcomandante da GM, Amazor Ribeiro de Barros, ressaltou o comportamento das pessoas no interior da necrópole, dizendo que houve "muito respeito e disciplina,o que evidentemente facilitou a nossa tarefa".