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Vila Belmiro, o pacato bairro santista que estremece ao som da torcida, faz 112 anos

Publicado: 13 de fevereiro de 2022 - 8h31

A ‘vila mais famosa do mundo’, reconhecida por ser a casa do Alvinegro Praiano, completa 112 anos nesta segunda-feira (14). Preservada, com sobrados geminados que trazem a arquitetura dos anos 30 e 40, a Vila Belmiro, em Santos, oscila entre tardes pacatas de conversas entre vizinhos e noites onde o grito da torcida do Peixe ecoa por cada canto. 

Pelas ruas estreitas e arborizadas do bairro, as crianças brincam enquanto os aposentados passeiam com os pets e os atletas andam rumo ao treino diário. O ar interiorano da pequena vila, onde todos se conhecem e se cumprimentam frequentemente, esbarra no universo futebolístico que paira sobre a região, presente nas casas em preto e branco, nos comércios alusivos ao Santos Futebol Clube e na estátua de Zito, ex-jogador do time que faleceu em 2015.

Apesar da cor verde se destacar no sobrado onde mora Jonilda Prado, de 58 anos, a aposentada garante ser santista ‘roxa’, um dos motivos que a fizeram se mudar para a Vila Belmiro há 20 anos. “Em princípio, queríamos uma casa maior por causa dos cachorros. Quando achamos essa e vimos que era ao lado do estádio, enlouquecemos”, conta. Hoje, duas décadas após a mudança, a moradora está totalmente integrada ao bairro. “Conheço todo mundo e todo mundo me conhece”.

Jonilda, inclusive, reforça a boa convivência que tem com os vizinhos do entorno e com os trabalhadores que estão sempre às quintas-feiras em frente à sua casa. “Eu sempre ajudo o pessoal da feira pegando água gelada para eles e eles sempre me dão algumas frutas meio amassadas para eu colocar para os passarinhos”. O quintal da moradora é uma verdadeira floresta particular, com plantas de todos os tipos e tamanhos. “Até os saguis aparecem por aqui”.

Pela calçada, o jardim de Jonilda se estende. Nos canteiros externos, a aposentada cultiva uma espécie comestível para uso próprio e dos vizinhos, num exercício de generosidade. "Plantei ora-pro-nóbis. É uma planta muito boa, cheia de proteína, que as pessoas podem passar e levar um pouco”. Jonilda, que é natural de Ubatuba, cuida do bairro como quem cuida da própria casa. “Quero passar o resto da minha vida aqui, porque Santos é a cidade que escolhi para viver e a Vila me recebeu muito bem”.

"A VILA É UM BAIRRO COMPLETO"

“É um bairro realmente muito hospitaleiro”, confirma a empresária Carla Matos Dias, de 52 anos, que nasceu na Vila Belmiro. “Vivi aqui durante meus 30 primeiros anos de vida, saí da Vila para morar em outro bairro, porém retornei para montar um comércio. É um lugar muito bom tanto para viver quanto para trabalhar”. Segundo a empresária, “todos são amigos” e, por ali, o costume de falar ‘bom dia’ a quem passa ainda não se perdeu.

Na infância, Carla lembra de passar bons momentos nas ruas da Vila e do Marapé, bairros que se confundiam na época. “Eu fazia parte de um grupo da Igreja São Judas com crianças de vários bairros dessa região e, pelo que eu me lembro, sempre foi assim: todo mundo sempre muito junto, porque aqui é um espaço pequeno, então todos se conhecem e interagem”. O ar de cidade pequena só é quebrado pela torcida do Santos FC, que enche as ruas e, consequentemente, o restaurante de Carla. “Dia de jogo é uma verdadeira loucura, é surreal”.

Atualmente, a empresária mora na Encruzilhada, mas confessa que sente saudades do local em que nasceu. “As vezes eu penso em voltar”. Segundo Carla, a Vila é um bairro completo. “Aqui nós temos todas as coisas importantes e necessárias para uma vida boa. Você tem farmácia, mini-shoppings, excelentes restaurantes, enfim, tudo. Super recomendo. Quem puder, que venha conhecer a Vila!”, finaliza.

O BAIRRO

Delimitado pelo quadrilátero formado pelas avenidas Ana Costa, Pinheiro Machado e ruas Carvalho de Mendonça e Joaquim Távora, a Vila Belmiro ocupa 636.116,64m². Antes chamado de Vila Operária por abrigar chácaras de japoneses que produziam tomates e funcionários de empresas instaladas na Vila Mathias e Jabaquara, o bairro recebeu o nome ‘Belmiro’ em homenagem ao ex-prefeito Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, que exerceu o cargo durante dois mandatos (1911-1914 e 1917-1920). O político foi o responsável pelo loteamento da área.

Atualmente, o bairro conta com mais de 3,8 mil residências e cerca de 8,6 mil habitantes. Além do número expressivo de bares, restaurantes e lanchonetes, por volta de 60, ainda conta com 21 escolas (uma municipal, duas estaduais e 18 particulares); três hospitais; três praças: da Bíblia, Fernandes Gasgon e Olímpio de Lima - espaços de recreação onde pessoas de todas as idades se divertem, seja passeando, jogando cartas ou brincando no playground.

A Vila Belmiro também abriga três grandes construções importantes para a história santista. A primeira delas é o Estádio Urbano Caldeira, coração da região e do Santos FC, que revelou grandes atletas como Pelé e Neymar Jr., além de ser o motivo pelo qual o bairro é considerado a ‘vila mais famosa do mundo’. No mesmo prédio, fica o Memorial das Conquistas, museu que guarda a história do time e homenageia diversas personalidades e momentos importantes para o Peixe.

Colada no estádio, mais precisamente na esquina da rua Paissandú com a D. Pedro I, fica a casa onde foi gravada, em 1977, a terceira versão da novela Éramos Seis, da TV Tupi, que simulava a São Paulo dos anos 20. Não muito longe dali, está situado o complexo hospitalar da Beneficência Portuguesa, que há quase 100 anos auxilia na manutenção da vida santista, se tornando referência em tecnologia hospitalar na região.

 

Fotos: Carlos Nogueira (aérea/estádio), Rogério Bomfim e Nathalia Filipe / PMS