José Bonifácio além da Independência. Marcas no Brasil e no mundo
Fernanda Mello
A Cidade comemora todo dia 13 de junho o nascimento de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patrono da Independência, brasileiro e santista que fez a diferença na história muito além do capítulo dedicado ao 7 de setembro e ao Grito do Ipiranga. Em 2025, são 262 anos do nascimento de Bonifácio que se deu em 1763, na então Vila de Santos, na antiga Rua Direita, hoje Rua XV de Novembro.
José Bonifácio é um dos grandes brasileiros de todos os tempos. Foi um visionário com ideais que ainda hoje a sociedade persegue: igualdade e respeito por todas as pessoas, reforma agrária, preservação do meio ambiente e defensor de escolas e universidades públicas, entre outras bandeiras. Foi e é importante para Santos, influenciando o brasão quando este fala na liberdade; para o Brasil, com a Independência e o seu projeto de nação; para Portugal, onde lutou contra a invasão francesa e implantou as primeiras siderúrgicas modernas, e para o mundo pelas suas descobertas na Ciência, até hoje válidas.
NA HISTÓRIA
Nos livros de história, aparece como Ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros, conselheiro de dom Pedro I e tutor de Pedro II. Ele foi mesmo o grande mentor da Independência do Brasil. Partiu dele e de dona Leopoldina a carta relatando as imposições de Portugal ao Brasil. Voltando da Vila de Santos, após visita às fortalezas e à família de Bonifácio, Pedro já estava às margens do Riacho do Ipiranga, em São Paulo, quando recebeu a carta comunicando as determinações das Coroas Portuguesas que queriam reduzir os poderes do príncipe regente. “José Bonifácio foi inteligente, aproveitou o momento em que muitos brasileiros estavam revoltados com as atitudes de Portugal em relação ao Brasil e articulou a reunião do Conselho de Estado, que deliberou sobre a Independência do Brasil e o envio da mensagem a d. Pedro, que já estava de volta para o Rio de Janeiro”, explica Dionísio Almeida, historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams).
“O dado está lançado e de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores. Venha V.A. quanto antes e decida-se, porque irresoluções e medidas d´água morna, à vista desse contrário que não nos poupa, para nada servem e um momento perdido é uma desgraça”, José Bonifácio, ao Príncipe Regente, dias antes da Independência e do Grito do Ipiranga.
MARCO NA CIÊNCIA
Entre 1800 e 1808, Bonifácio havia conquistado o reconhecimento como cientista: descobriu e classificou diversos minerais, entre eles, a petalita e o espodumênio, dos quais mais tarde se extrairia o lítio, um marco na história da Ciência. Por essa descoberta, ele é o único cientista brasileiro relacionado à introdução de um elemento da tabela periódica. Mais de dois séculos depois, o lítio é essencial para a indústria eletrônica e farmacêutica, tecnologias sustentáveis, como baterias de celulares, veículos elétricos e sistemas de energia renovável. A Universidade de Coimbra criou, especialmente para ele, a cadeira de Mineralogia.
HERANÇA
Além de objetos pessoais como cartas, louças e a insígnia que aparece nas pinturas do Patrono da Independência, a economista, empresária e descendente de José Bonifácio, Graziela Ribeiro de Andrada, 58 anos, moradora de São Paulo, diz que herdou os mesmos valores. “José Bonifácio foi o único estadista que o Brasil realmente teve. Seus valores eram a igualdade e a justiça e ele pagou o preço por isso com o exílio. Ele era pela Pátria e para o povo”. Das vezes que vai a Nova Iorque, ela visita a estátua em homenagem a ele instalada no Bryant Park, em Manhattan. “Faço questão de ir lá e deixar umas flores para ele. Também vou muito a Santos”. O presidente do Movimento Pró-Memória de José Bonifácio, Arlindo Salgueiro, acredita que ainda há um longo caminho para o Brasil valorizá-lo à altura. “Ele é reverenciado em países como França e Portugal. Temos as leis que o tornaram Herói Nacional e Patrono da Independência e que cria o Programa Memória de José Bonifácio, todas aprovadas por unanimidade. Agora, a legislação precisa ser executada na sua totalidade para a sua implementação e difusão a fim de que José Bonifácio seja um ícone, uma referência para o Brasil”.
Artigo de Bonifácio chama atenção para mudanças climáticas
Em 1823, em um de seus artigos mais conhecidos, o santista, considerado precursor da Ecologia no Brasil, chamava a atenção para o cuidado com o meio ambiente e com a vingança da natureza. “ (...) nossas preciosas mattas vão desapparecendo, víctimas do fogo e do machado destruidor, da ignorância e do egoísmo; nossos montes e encostas vão-se escalvando diáriamente, e, com o andar do tempo, faltarão as chuvas fecundantes que favoreçam a vegetação e alimentem nossas fontes e rios, sem o que o nosso bello Brasil, em menos de dois séculos, ficará reduzido aos páramos e desertos da Lybia. Virá, então, esse dia (dia terrível e fatal), em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos”.
A presença de José Bonifácio em Santos
- Rua XV de Novembro, antiga Rua Direita, onde Bonifácio nasceu na casa da família
- Palácio José Bonifácio, sede da Prefeitura inaugurada em 1939, presta homenagem ao santista
- Praça José Bonifácio, no Centro Histórico, outra homenagem
- Praça da Independência, destaca-se pelo monumento em homenagem aos irmãos Andradas, José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos
- Pantheon dos Andradas, na Praça Barão do Rio Branco, o mausoléu do Patriarca da Independência e seus irmãos. Ele deixou expresso em testamento que queria ser enterrado na terra natal
- Boniselfie, monumento instagramável de José Bonifácio em tamanho real, na Praça Barão do Rio Branco
- UME José Bonifácio, na Avenida Conselheiro Nébias, 219, Vila Nova
Esta iniciativa contempla o item 4 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Educação de Qualidade. Conheça os outros artigos dos ODS.