Seu navegador não possui suporte para JavaScript o que impede a página de funcionar de forma correta.
Conteúdo
Notícias

Referência sobre economia criativa no Brasil divide experiências em Santos

Publicado: 26 de julho de 2022
16h 42

Doutora em Arquitetura e Urbanismo e autora, pela USP, da primeira tese brasileira sobre cidades criativas e de livros pioneiros sobre o assunto no país, Ana Carla Fonseca, dividiu sua experiência de consultoria e curadoria em economia criativa e desenvolvimento territorial em painel da Expo Cidades Criativas Brasileiras, no Blue Med Convention Center, em Santos.

A profissional, que atua junto a mais de 250 empresas privadas e instituições brasileiras e estrangeiras, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), abriu o painel “A Revolução das Cidades Criativas” explicando que não há unanimidade na definição do conceito, mas os locais que recebem essa chancela têm três características em comum: conexões, inovação e cultura.

Segundo a ONU, atualmente, 54% por cento da população mundial vive em áreas urbanas, mas esse número pode subir para 70% até 2050. “As cidades surgem como espaço de encontro; uma cidade é um conjunto de pessoas com oportunidades distintas”, diz. Nesse cenário, a criatividade ganha espaço nas discussões sobre desenvolvimento, passando a ser vista como um importante ativo econômico. Segundo Ana Carla, conexões no âmbito das cidades criativas significam ligações entre diferentes classes sociais, entre diversas áreas da administração, amarração entre presente, passado e futuro do lugar e a conexão entre os setores público, privado, sociedade civil e academia.

“Como superar desafios? Uma cidade criativa se reinventa”, afirma e, para ilustrar, cita como exemplo a criação do Centro Cultural Moravia, na cidade de Medellín, na Colômbia, erguido sobre uma gigantesca montanha de dejetos, que levou décadas para se formar: “Eles despoluíram quimicamente o ambiente, construíram um prédio, plantaram diversos canteiros de flores e capacitaram a população do entorno, que tirava sustento do lixo, para trabalhar no novo empreendimento.” O lugar é um dos locais mais visitados da cidade. “Medelín passou por uma transformação e virou referência em várias questões como essa, de inovação.”

Ao falar de cultura, Ana Clara sublinha que esse conceito não pode abranger apenas a cena artística, “embora ele seja muito importante”, destaca. “Falo sobre a alma da cidade, sobre o espírito dos lugares, uma ideia antiga que, acredito, tenha dado origem aos padroeiros, pois eram protetores desses espaços.” Ela cita como exemplo o grupo “Anjos do Belo”, formado por cidadãos de Florença, na Itália, que estão unidos em defesa do patrimônio do município. “Eles trabalham em parceria com a prefeitura, mas não esperam o poder público para, por exemplo, limpar uma estátua que amanheceu pichada”.

Durante a apresentação, ela deu outros exemplos de como uma cidade pode explorar seu potencial criativo com experiências diversas e citou a criação de marcas-território, como a Mancha, empresa que criou uma tinta orgânica e atóxica para crianças e adultos, com elementos dos biomas brasileiros. “O material tem textura, cheiro e sabor; o chocolate, por exemplo, é um quase um problema (risos), porque a gente se lambuza e come de verdade, com as crianças”.

Ela também contou a criação de uma logomarca para quatro diferentes comunidades de bonequeiras do Vale do Jequitinhonha, um trabalho que durou três meses. “Como resultado, criamos uma imagem semelhante a todas elas: uma moça com um jarro na cabeça. Mas, a partir das escolhas tabuladas de cada artesã, nasceram quatro selos, com diferenças na estampa do vestido, no desenho do vaso, no modelo do brinco e no arranjo de cabelo.” Ela conta que em pouco tempo, quem revende esse trabalho já sabia reconhecer, pela etiqueta, à qual comunidade pertencia a peça recebida.

Ao final da apresentação, depois de ouvir apenas alguns dos cases lembrados pela pesquisadora, não resta dúvidas sobre o motivo pelo qual o jornal espanhol El País apontou a palestrante, em 2013, como uma das oito personalidades brasileiras que impressionam o mundo.