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Santos enfrenta mudanças climáticas com plano de adaptação

Publicado: 20 de março de 2020 - 15h23

Lançado em 2016 de forma pioneira em todo o País, o Plano Municipal de Adaptação à Mudança do Clima de Santos (PMMCS) é a mais importante ferramenta da Cidade para traçar cenários e estratégias de enfrentamento dos efeitos de desastres naturais e para adaptação às mudanças climáticas.

Após a instalação dos geobags na Ponta da Praia, iniciativa inédita no País e que já reduz os efeitos erosivos das ressacas e alta da maré como no último carnaval, especialistas atuam em um trabalho pioneiro no Monte Serrat, onde moradores são incentivados a preservar o meio ambiente com foco no desenvolvimento socioeconômico, e na elaboração do Plano Municipal da Mata Atlântica (PPMA).

Apoiado pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo governo da Alemanha, por meio do Projeto ProAdapta, o PMMCS tem o suporte de especialistas e acadêmicos. Foi criado por meio de decreto, poucos meses após o Plano Nacional de Adaptação do Clima, junto à Comissão Municipal de Adaptação à Mudança do Clima (CMMC).

Por meio dele e de parcerias com a alemã Deutsche Gessellschaft fur Internationale Zusammenarbeit (GIZ), são definidos cenários, áreas vulneráveis e estratégicas de atuação e intervenção. E, desde a criação do plano, seus integrantes reforçam que eventos climáticos como o forte temporal do início de março serão cada vez frequentes e intensos.  

“O plano tem sido uma importante referência para implantarmos ações na Cidade contra as consequências de eventos climáticos. Desde o começo, buscamos apoio acadêmico e nos tornamos referência internacional. Cada passo dado é fundamental para a gente compreender melhor e se adaptar às mudanças irreversíveis do clima, envolvendo a comunidade em nossos objetivos”, disse o secretário de Meio Ambiente, Marcos Libório.

A implantação, em 2018, da barreira submersa na Ponta da Praia vem apresentando bons resultados. O projeto-piloto envolvendo Prefeitura e Universidade de Campinas (Unicamp) permitiu a instalação de sacos de areia em formato de ‘L’ para reduzir a força das ondas.

“É uma tecnologia de baixo custo, que pode ser facilmente remoldada para enfrentar condições futuras em decorrência das mudanças climáticas. A gente já percebe acúmulo de areia entre os bags e a praia, e isso é bom. Onde não tem geobag, a onda entra com mais energia”, explicou Eduardo Kimoto Hosokawa, vice-coordenador da Comissão Municipal de Adaptação do Clima (CMMC). Segundo ele, os geobags ajudaram a conter a força da água durante a elevação da maré em fevereiro último. Em outros trechos da orla, a água chegou às alamedas entre os quiosques. Alguns canais ficaram assoreados.

 

MONTE SERRAT

 

Outro trabalho inédito implementado pelo PMMCS envolve os moradores do Monte Serrat. Segundo a consultora da GIZ, Danielle Almeida de Carvalho, o pioneirismo está em envolver a comunidade dos morros em ações de conscientização e convencimento de que preservar o meio ambiente reduz os efeitos das mudanças do clima e gera benefícios econômicos.

A ação utiliza uma metodologia denominada AbE (Adaptação baseada em Ecossistemas). “É um meio de se adaptar às mudanças do clima utilizando os ecossistemas a nosso favor, porque eles prestam serviços, nos dão benefícios. Abordamos com a comunidade a possibilidade de hortas de plantas medicinais, plantio de espécies frutíferas ou a criação de um roteiro turístico”. O trabalho realizou duas atividades com os moradores em fevereiro. “Dessa forma, teremos encostas com menos desmatamentos e uma população mais disposta a evitar ocupações em áreas de risco. Todo o trabalho é desenvolvido em conjunto com a Defesa Civil”, frisou Eduardo Hosokawa.

 

MATA ATLÂNTICA

Bioma com papel importante no equilíbrio da natureza, a Mata Atlântica está presente nos manguezais e encostas dos morros de Santos e tornou-se outro foco de ações do PMMCS. “A Mata Atlântica pode ajudar o ser humano a se adaptar às mudanças climáticas. O plano vai identificar áreas remanescentes, os maiores vetores de pressão (como a expansão de ocupações regulares e irregulares, ou de atividades econômicas) e apontar caminhos para reduzirmos essas pressões”, explicou Greici Pedro, engenheira agrônoma da Semam.

Em fase de elaboração, o PMMA também identificará quais são as áreas onde não há mais Mata Atlântica para que seja recuperada. “Há áreas em morros, por exemplo, que não devem ser ocupadas e que podem ser revegetadas”. O decreto nº 8.883, do último dia 11 de março, constituiu um grupo de trabalho e as secretarias que vão elaborar o plano. O PMMA terá parceria do GIZ e precisa ser aprovado pelo Conselho Municipal da Defesa do Meio Ambiente (Comdema), após ampla participação da sociedade.

 

NÍVEL DO MAR

 

O plano e a comissão municipal surgiram após Santos ser escolhida para participar do Projeto Metropole, em 2015, quando o Município integrou uma importante amostra para estudos climáticos, dividindo espaço com Selsey (Reino Unido) e Browardy County (EUA). O Metropole projetou elevações do Nível Relativo do Mar (NRM, até 2050, entre 18 e 23 centímetros em relação ao nível médio de 2000, podendo chegar a até 45 centímetros em 2100.

A elevação do nível do mar, o aumento de temperatura global e do regime de chuvas estão entre os principais fatores de eventos climáticos extremos. “Há uma tendência de aumento de chuvas e eventos como o último temporal vão aumentar, muitas vezes de forma até não previsível. Um plano municipal com apoio acadêmico e ações estratégicas é fundamental para reduzir impactos”, afirmou Ronaldo Christofoleti, Coordenador da Comissão Consultiva Técnica Acadêmica (CCTA), que dá apoio à comissão municipal. Para aprofundar os estudos sobre o tema, está sendo composta a Seção de Mudança do Clima (Seclima).