Seu navegador não possui suporte para JavaScript o que impede a página de funcionar de forma correta.
Conteúdo
Notícias

Com talento e oportunidades, artesãos de Santos movimentam a economia criativa

Publicado: 17 de março de 2023 - 16h17

NILTON SERGIO 

Categoria que encanta pelas habilidades manuais e movimenta a economia criativa, os artesãos comemoram seu dia neste 19 de março (domingo). Trata-se de uma homenagem a São José, o padroeiro da categoria - a Bíblia usa a palavra “tekton”, que quer dizer “aquele que trabalha com as mãos”, para descrever a atividade do pai de Jesus.

No Brasil, a profissão foi regulamentada por lei federal em 2015. Dados do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab) mostram que o País tem  cerca de 8,5 milhões de artesãos, a maioria  mulheres que vivem diretamente da própria produção. O setor representa aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto (PIB) e movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano.

O projeto Feito em Santos, da Secretaria de Empreendedorismo, Economia Criativa e Turismo (Seectur), é um verdadeiro termômetro da atividade no Município. Iniciado em 2020 para apoiar os pequenos negócios criativos durante o período de isolamento social, consequência da pandemia de covid-19, funciona como um balcão on-line intermediando, gratuitamente no Instagram @feito.emsantos, a exposição de produtos artesanais confeccionados pelos empreendedores e artistas locais. É uma forma de incentivar e valorizar a cultura regional por meio da economia criativa.

Atualmente, o Feito em Santos conta com 1.000 artesãos cadastrados e mais de 13 mil seguidores. Adriana Coelho, dona da marca Agulha Azul Ateliê, é uma das cadastradas e, trabalhando apenas com materiais reaproveitados, demonstra o potencial dos artesãos de colaborar com a conservação da natureza. 

Adriana trabalha com materiais reaproveitados - foto: Raimundo Rosa 

Adriana atua com costura criativa reaproveitando jeans há cerca de dois anos. Mas, seu amor pelo artesanato começou muito mais cedo. “Entrei no mundo das linhas, agulhas e tecidos com cinco anos. Eu gostava muito da boneca Suzy. Eu não tinha, mas, para brincar, fazia roupinhas para as bonecas das minhas amigas”.

Pela origem humilde, a artesã se acostumou a produzir objetos de casa por conta própria, como brinquedos, cortinas e móveis. “Acabou primeiro virando uma terapia. Hoje é a minha vida e, agora, meu sonho é ensinar isso para outras pessoas. Vejo que as novas gerações só mexem com celular, estão perdendo as habilidades manuais”.

FEIRAS E EVENTOS

Os cadastrados do Feito em Santos também têm a possibilidade de participar de feiras e eventos promovidos pela Prefeitura, que possibilitam o aumento da lucratividade e da sua rede de contatos.  Neste fim de semana (18 e 19), por exemplo, a Seectur promove a Feira Feito em Santos Mulher, na Casa da Frontaria Azulejada, após abrir inscrições gratuitas para 60 artesãos de Santos participarem.

Tradicional ponto de exposições, Casa da Frontaria Azulejada receberá a feira Feito em Santos Mulher - foto: Raimundo Rosa/arquivo

Somente no ano passado, a Seectur promoveu 64 feiras de economia criativa. Neste ano, foi realizado o projeto Verão Criativo que, durante a temporada de férias, realizou 24 feiras com milhares de opções de compras, gastronomia variada e cerveja artesanal para diversos pontos da Cidade como o Centro Histórico, morros, Zona Noroeste e orla.

Integrantes do Feito em Santos também recebem orientações para melhorar as vendas e dicas de como se posicionar nas redes sociais. Um grupo de 29 artesãs participou do 1º Programa de Aceleração de Empreendedores Criativos, em 2022, por meio do qual aprendeu como melhorar a gestão de seus negócios com conteúdos fornecidos pelo Sebrae.

Segundo Adriana, as aulas do programa de aceleração a ajudaram a dar mais foco em seu negócio. “Antes eu produzia um pouco de tudo. Comecei a me concentrar no nicho de bolsas, mochilas, nécessaires e acessórios”. Mesmo o material que sobra de sua produção é aproveitado, segundo a artesã. Com os restos de jeans, são produzidos enfeites de mesa, aventais, almofadas e outras peças de decoração.

Neste ano, o programa está de volta e vai treinar 40 pequenos empreendedores da área de gastronomia

Produção de suvenires acaba em casamento 

Para Orlando Kuul e Daniele Beust, o artesanato é muito mais do que um trabalho. A parceria para produzir lembranças da Cidade acabou evoluindo para um relacionamento que já dura 15 anos.

Orlando trabalha com as miniaturas em resina há cerca de 22, após iniciar como hobby. No dia em que recebeu uma grande encomenda, precisou contratar Daniele para ajudar na pintura das peças. “Sempre fiz alguma coisa em casa. Ele me chamou por causa do prazo curto e foi tanto trabalho que acabou virando o nosso casamento”, diverte-se Daniele.

Orlando e Daniele se uniram graças à produção artesanal - foto: Raimundo Rosa 

A parceria vai muito além do matrimônio. Segundo Daniele, trabalhando em casa eles não têm hora para começar ou parar e, juntos, até criam novas peças. “Atuamos entre 10 e 12 horas, todos os dias. Tem peças que podem demorar até 15 ou 20 dias para ficar prontas”. 

“Sempre gostei de trabalhos manuais em papelão, madeira, cartolina, metal. Fui me aprimorando e as pessoas começaram a gostar, então não parei mais. O artesanato é uma grande paixão”, conta Orlando.

Vendendo seus produtos todo sábado e domingo na Feira Feito em Santos Valongo (Largo Marquês de Monte Alegre), o casal tem como peças de mais sucesso as miniaturas do bonde, além de pequenos barcos, caminhões e ônibus. “O bonde é a cara da Cidade, tem muita procura de turistas e colecionadores daqui”, explica ele.

Categoria ganhou espaço exclusivo em prédio histórico 

Os artesãos santistas ganharam recentemente um presente, justamente no aniversário de Santos (26 de janeiro): a Prefeitura inaugurou a Casa do Artesão, dentro da histórica Casa do Trem Bélico, espaço focado em cursos para pequenos empreendedores locais com novos métodos e inovações na área de artesanato.

Casa do Trem se transformou em espaço para artesãos - foto: Francisco Arrais 

Já foram realizados três cursos no equipamento: ‘bijuteria de vidro float com pintura em sanduíche’, ‘Arte em resina’ e ‘Crochê moderno’

No local também funciona a Loja Colaborativa Feito em Santos, uma feira itinerante cujos expositores ficarão no local por 60 dias e, após o período, vão ceder o espaço a outros profissionais. A troca será por meio de chamamento público, em que os empreendedores poderão se candidatar a expor.

Para demonstrar a capacidade do espaço, há uma exposição com venda das formandas do Programa de Aceleração e Empreendedores Criativos. São 28 expositoras que ficarão no local até 25 de março, de quinta a sábado, das 11h às 16h. 

FeirArte é pioneira do gênero no Brasil

O artesanato santista também pode se orgulhar pela Cidade abrigar aquela que é considerada a primeira feira de rua do gênero do Brasil, a FeirArte.

Somando cerca de 70 expositores, a FeirArte marca presença há  mais 50 anos no Boqueirão (sábado, das 14h às 21h) e mais de 30 em frente ao Sesc Santos, na Aparecida (domingo, das 14h às 21h), com muita gastronomia, vestuário, moda, artesanato e pet.

"Ela é um patrimônio da Cidade, originou todos os outros coletivos que trabalham hoje com artesanato em Santos”, orgulha-se a artesã Maristela Henrique Silveira, que atua na FeirArte desde 1989.

Atualmente, Maristela trabalha com marionetes produzidas com material reciclável. Mas, nestes anos todos de feira, já produziu ou vendeu artigos em cerâmica, madeira e resina. "Hoje enfrentamos a concorrência dos produtos industrializados. Mas, se você trabalha com paixão, vale muito a pena ser artesã. A prova é que mudei bastante de produtos e sempre consegui vender. Se você perseguir seu sonho, dá para empreender com sucesso no artesanato". 

Maristela faz marionetes com tampas de garrafa PET - foto: Marcelo Martins