Fams recebe fotos de presos políticos da década de 40
Fotos de Carlos Marighella, David Capistrano da Costa (pai do ex-prefeito de Santos), presos no extinto presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, além de outros que participaram da história de luta da primeira fase de ditadura militar no país (19391945), foram doadas à Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) pelo operário de construção civil Mário Barbate, ex-preso político. Mais de 20 imagens retratam o cotidiano nos presídios de Fernando de Noronha e na extinta Colônia Agrícola do Distrito Federal Dois Rios, em Ilha Grande. Barbate foi preso político de 1940 a 1945 e passou por cinco cadeias de diferentes localidades. Militante do partido comunista, ele nunca mudou sua ideologia ou modo de pensar. Foi um período muito difícil e sofrido da minha vida, mas uma experiência incrível, lembra emocionado. Ele foi preso em São Paulo durante o manifesto 10 anos de Miséria e Tirania, quando entregava panfletos contra o governo do então presidente Getúlio Vargas. Com apenas 21 anos, Barbate foi o preso mais novo da época, passou um ano na Casa de Detenção de São Paulo, onde foi investigado, interrogado e condenado por 16 anos a sentença foi depois revisada e sua pena reduzida para oito anos. Na época em que passou pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo, chegou a ter Monteiro Lobato como companheiro de presídio. Sua inquietude e seu jeito dentro da cadeia eram totalmente diferentes do que eu imaginava ser o escritor, conta, ressaltando que Lobato permaneceu apenas três meses preso. SOFRIMENTO Já condenado, Barbate saiu da Capital e, antes da transferência para Fernando de Noronha, veio à Santos, onde passou uma noite na Casa de Câmara e Cadeia hoje patrimônio histórico e sede da Oficina Cultural Pagu. Aquela noite de 13 de dezembro de 1941 foi algo inesquecível e muita sofrida, conta. Logo no dia seguinte, ele e mais 13 colegas foram para Pernambuco, embarcando depois para Fernando de Noronha. Sua vida de presidiário se estendeu por mais dois meses. Éramos uma turma bem eclética. Havia jornalistas, operários, metalúrgicos, pintores. Todos organizados. Nunca houve desentendimentos, relembra ele quando foi para Ilha Grande, onde passou os três últimos anos como preso político. Figuram entre seus colegas de presídio David Capistrano da Costa, os jornalistas Pedro e Paulo Mota Leite e Joaquim Câmara Ferreira, entre outros profissionais de imprensa, militares e operários. As fotos serão reproduzidas pelo setor iconográfico da Fams, para serem depois integradas ao acervo de mais de 350 mil imagens da instituição.