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Ritmo, cores e temas diversos marcam primeira noite do Santos Carnaval 2024

Publicado: 3 de fevereiro de 2024 - 11h57

Caterina Montone e Luigi Di Vaio

Teve de tudo um pouco: maracatu, doces, homenagens, momentos de afirmação racial, sucessos da Xuxa.... A primeira noite do Santos Carnaval 2024, nesta sexta-feira (2) e madrugada de sábado (3), fez as escolas de samba levantarem o público nas arquibancadas da Passarela do Samba Dráuzio da Cruz e agitou a galera que estava nas sacadas dos prédios vizinhos na Zona Noroeste.

Além do ritmo, as agremiações deram um show de cores e adereços com seus carros alegóricos. Apresentaram-se, pela ordem, Padre Paulo, Bandeirantes do Saboó e Vila Mathias, todas lutando pelo título do grupo de acesso. Na sequência, foi a vez do grupo especial, com a  Zona Noroeste, União Imperial, X-9 e Real Mocidade.

Quem deu boas-vindas ao público foi a Corte Carnavalesca que, este ano, está representada por Fábio Rocha Baptista (Rei Momo), Arlene Pereira Marcolino (rainha) e Priscila Mara Gomes de Almeida (princesa). Completaram a hierarquia festiva Marcos de Brito Silva e Tereza Cristina Pereira Félix, respectivamente, cidadão e cidadã samba.

A primeira noite do Carnaval santista recebeu ainda um convidado especial: Neguinho da Beija-Flor. O jovem de 74 anos esbanjou simpatia acompanhando escolas, passeando pelo público e não negando nenhuma foto pedida pelos fãs. "É uma honra ser embaixador do Carnaval de Santos".

O Santos Carnaval 2024 teve uma 'pegada' diferente: a implantação da quarta cabine de jurados fez as escolas mudarem de estratégia este ano. Se antes elas se permitiam "relaxar" depois de passarem pelas três cabines, este ano elas mantiveram a ginga e o pique por toda a avenida.

PADRE PAULO

Nascida no Estuário, a Mocidade Independente de Padre Paulo abriu o Santos Carnaval 2024. A escola entrou na Passarela do Samba Dráuzio da Cruz às 21h02, ao som do samba-enredo ‘Maracatu - Resistência e Manifestação’. A parte final do enredo "Maracatu, africanidade" levantou o público que estava na arquibancada.

A agremiação evidenciou uma das mais importantes manifestações culturais brasileiras, trazendo a história do maracatu desde suas origens em Pernambuco, combinando tradições africanas, portuguesas e indígenas, até seu histórico de resistência ao representar as lutas do povo e sua grandiosidade cultural, religiosa e ancestral. 

BANDEIRANTES DO SABOÓ

Com um enredo de dar 'água na boca', a Bandeirantes do Saboó levou ‘Uma Doce Magia’ à passarela. Já na entrada, às 22h08, o público relembrou o sucesso "Doce Mel", da apresentadora e cantora Xuxa. A escola reuniu 700 integrantes - incluindo fadas, o famoso personagem Chapeleiro Maluco, bruxas e magos - divididos em dez alas que coloriram os olhos de quem via os carros decorados com pirulitos, balas e bombons.

E as guloseimas não ficaram só nos adereços, os componentes distribuíram doces e muita alegria para a galera.

A agremiação comparou o trabalho artesanal de cozinheiros e confeiteiros ao dos grandes alquimistas de outrora, em busca de suas fórmulas e ‘receitas’ perfeitas.

VILA MATHIAS

Última escola do  grupo de acesso a entrar na noite de sexta-feira, a Vila Mathias prestou uma homenagem a uma das mais tradicionais escolas de samba da Capital, a Barroca Zona Sul, que este ano completa seu cinquentenário. A agremiação entrou na passarela às 23h15, com anjos de branco e verde.

O enredo ‘Exaltando o Reduto de Gente Bamba, a Vila Canta a Faculdade do Samba’ foi apresentado com uma explosão de cores, não limitado ao amarelo e azul do pavilhão da Vila Mathias.

Com 600 componentes, desfilou com uma deusa guerreira, um índio empurrando arco e flecha e, entre os destaques, a ala das baianas que reverenciam Nossa Senhora. O desfile lembrou momentos marcantes da agremiação, desde a fundação até a ascensão à elite do carnaval paulistano, passando pelos grandes enredos, trajetórias de seus baluartes e conquistas.

UNIDOS DA ZONA NOROESTE

Com as cores vermelho, verde e branco, a Unidos da Zona Noroeste turbinou sua apresentação colocando uma réplica de um caminhão na passarela, prestando um tributo à classe dos caminhoneiros. A proposta foi a de valorizar a luta diária desses trabalhadores pelas estradas Brasil afora e seu fundamental papel para o desenvolvimento do País. O Galo - destaque do primeiro carro alegórico - não só é o símbolo da escola, como também era uma referência ao horário que muitos trabalhadores acordam para ganhar o 'pão' nas estradas Brasil afora.
A Unidos da Zona Noroeste fez uma homenagem a São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, representado em um carro alegórico, mostrando o anseio de reencontrar a família e dar a ela uma condição melhor. Nossa Senhora, a Padroeira do Brasil, abençoou a pista e os integrantes da agremiação, ostentando as cores azul e dourado.
Uma curiosidade envolve a agremiação este ano: sua madrinha é a Mocidade Amazonense - e as duas disputam juntas o Grupo Especial este ano. O enredo apresentado foi ‘Com fé em São Cristóvão e nas rodas de meu caminhão, hoje o galo transporta o futuro da nação’, do carnavalesco Dionísio Mago.

UNIÃO IMPERIAL

"O negro é ouro, é joia rara. A resistência que não se cala", o refrão foi cantado nas arquibancadas, camarotes e frisas da passarela, quando a União Imperial entrou em cena, à 01h33, com o enredo 'Azeviche, a ascensão da áurea cor'. A agremiação do Marapé mostrou um samba para reafirmar a relevância social e étnico-racial da negritude como símbolo do movimento político e libertário na Cidade.

Mas o que é azeviche? Muitos que estavam na festa devem ter se perguntado. É uma pedra preta, milenar e valiosa e foi representado na narrativa por figuras relevantes na luta por igualdade, combate ao preconceito e ativismo negro, como Pai Felipe, Quintino de Lacerda, Luiz Gama, Esmeraldo Tarquínio, Alzira Rufino (todos em memória), e Djamila Ribeiro.

 Dos 1.400 componentes divididos em 14 alas, tendo como um dos destaques a modelo e dançarina Scheila Carvalho como mestre de bateria.

X-9 

Com o enredo "Meu Nome é Favela", a X-9 entrou na passarela às 2h46, com 2.300 componentes distribuídos em 16 alas, apresentando um tema de grande apelo popular. Em busca do vigésimo título, a escola provou que "resistir é viver com alegria" - como diz a letra cantada pelo público em euforia.

Intercalando entre alas, protestos eram formados por componentes da Pioneira acorrentados e encapuzados, formando a palavra 'favela'.

O último carro alegórico clamava por "paz, saúde e educação" - palavras escritas em caixas no colo de um menino em cima de uma montanha de lixo.

REAL MOCIDADE SANTISTA

Os corações que tendiam bater mais fraco na madrugada mudaram de ideia às 0406, quando a Real Mocidade Santista trouxe a campo uma emocionante homenagem a uma das grandes artistas da música brasileira: a paraibana Elba Ramalho. "Oi tum, tum, bate coração" veio das caixas de som e levantou a galera.

O enredo ‘Oxente, Real Mocidade, Santista! Elba, a sua história faz história. Ai que saudade d’ocê!’ veio com referências ao cordel, aos ritmos consagrados pela cantora e pelos grandes sucessos que marcam seus mais de 50 anos de carreira. A 'Festa do Interior' veio para fechar a primeira noite do Carnaval Santos 2024.

PÚBLICO SE EMOCIONA

O prefeito Rogério Santos destacou que se tratava de uma noite muito especial. "As escolas e o público estão promovendo um Carnaval maravilhoso para todos prestigiarem. Estamos com escolas de samba fortíssimas. Este ano, contamos com maior número de julgadores e novas regras de rebaixamento. A disputa vai ser ainda maior, com resultado mais interessante para quem estiver assistindo".

Quem não conteve a emoção de estar mais um ano acompanhando toda a folia do Carnaval santista foi Andreia da Silva, 55, que não deixou de mostrar sua torcida. "Todo ano estou nesta linda festa, que mostra empenho e dedicação de cada escola. A X-9 é a minha favorita, com toda a certeza, mas estou amando os enredos e as cores que já mostraram por aqui".

Também fiel à X-9, Monica Machado, 56, está de volta à arquibancada depois de anos, dessa vez acompanhada pela amiga Andreia. Para a professora que veio do Guarujá só para assistir a escola, as baterias e fantasias são um espetáculo à parte. "Mesmo sem presenciar essa alegria por algum tempo, sou fã do Carnaval de Santos. Desde sempre, tenho paixão por todos os adereços e ritmos que os integrantes usam. Não perco um detalhe."

Outra moradora de Vicente de Carvalho, Guarujá, a cuidadora Vera Lucia dos Santos, 54, estreava sua participação em desfiles de Carnaval. Ao lado de amigas, ela revelou não ter uma escola do coração, mas estava ansiosa para ver a passagem de algumas agremiações. "No passado, cheguei a sair em bandas de Carnaval. Hoje estou mais sossegada. Adoro assistir aos desfiles desde pequena".

EQUIPE

Presente no evento com cinco viaturas e quatro motolâncias, o Samu registrou 17 ocorrências e cinco encaminhamentos para unidades de Saúde. Destas, uma foi considerada grave  - suspeita de AVC, com a vítima sendo levada para a Santa Casa de Santos.

Ao todo, 180 profissionais da Prefeitura participaram do evento, entre profissionais da Cultura, Comunicação, Saúde, Segurança e CET-Santos.

Esta iniciativa contempla o item 4 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Educação de Qualidade. Conheça os outros artigos dos ODS.