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Repúblicas dão novos significados à vida de idosos de Santos

Publicado: 15 de julho de 2019 - 16h07
PORTAIS

Os moradores das três repúblicas de idosos mantidas pela Prefeitura de Santos têm histórias de vida singulares. Todas convergem, porém, num enredo comum: o novo significado que ganharam a partir do ingresso em um modelo de moradia compartilhada sob requisitos assistenciais.

Para contar um pouco de sua trajetória e do carinho pela República Renascer (Vila Mathias), Leônita Conceição de Oliveira, 72 anos, se preparou para receber a reportagem usando um batom lilás combinando com a roupa para as fotos tiradas ao lado do jardim da residência.

“A república foi a única porta que se abriu quando eu estava no desespero da minha vida”, desabafa ela, ao dizer que sentiu as portas se fecharam para ela. “Se soubesse que esse lugar existia, já teria vindo há muito tempo. Nós, mais velhos, precisamos continuar a vida, amar para sermos amados. Todas as amarguras que carregamos já passaram e não podem mais fazer parte da vida e do nosso futuro, entendeu?”

Há cinco anos morando na Renascer, Leônita preza pela harmonia e faz questão de batalhar por isso no dia a dia. “Ninguém pode ficar de mal aqui e quem está embaixo do mesmo teto tem que fazer as pazes”, diz a vaidosa senhora. “A gente é família, mas sem ter o mesmo sangue correndo nas veias. A república é uma lição de vida porque quem entra tem que ter jogo de cintura”.

Leônita forma o grupo de 11 idosas e mais três senhores, todos com mais de 60, que dão vida às três repúblicas localizadas na Vila Mathias (Vitória e Renascer) e na Encruzilhada (Bem Viver). Eles ingressam às unidades por decisão própria, mas sob encaminhamento dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) ou Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), da Secretaria de Desenvolvimento Social.

“Eles chegam de uma maneira e, passado algum tempo, já estão com nova aparência, se arrumam mais, vão aonde querem, se juntam para fazer comida, saem juntos às vezes. A transformação é visível”, comenta a psicóloga da Secretaria de Desenvolvimento Social, Celiana Souza Nunes, responsável por mediar as relações dos três grupos em conjunto com mais duas assistentes sociais.

 

Para quem

As repúblicas são destinadas a moradores de Santos, com renda de um a dois salários mínimos, independência física para as atividades diárias, sem família ou com vínculos extremamente fragilizados ou rompidos. Os moradores colaboram com R$ 123,04 e rateiam as contas de luz e água, chegando a cerca de R$ 205,00 por mês. Em cada dormitório ficam dois idosos. A Prefeitura disponibiliza uma funcionária para executar a faxina da casa duas vezes por semana.

Antes da mudança, os técnicos esgotam as possibilidade de mantê-los residindo sob cuidados familiares. Mesmo depois, a Administração mantém os parentes cientes das questões de saúde do idoso e sugere um envolvimento.


Adaptação gradativa

Maria Alves da Silva, 79, vive há oito na Renascer também, onde relatou ter demorado para se adaptar a morar com mais nove pessoas. “O mais difícil é achar o entrosamento para dividir as tarefas, mantendo o respeito, porque cada um tem uma opinião”. Do grupo desta unidade, Maria é a mais caseira: enquanto as demais saem todos os dias, com idas ao Restaurante Bom Prato, aos shoppings, supermercados e médicos, ela gosta de ficar no seu canto, fazendo tricô. “Elas voltam no fim do dia e agora, por causa da minha saúde, também preciso ficar quietinha. Mas eu gosto de ficar em  casa”, conta.

Quando chegou à república, Maria acabou assumindo a liderança de algumas tarefas como a organização do material de limpeza que ficava em armário com cadeado. “Ficava trancado para evitar confusão, só que quando comecei a administrar isso, deixei tudo aberto e todos se sentiram melhor assim”, lembra. Atualmente, ela é a responsável pela arrecadação do fundo para compras da casa.

Maria nasceu em São Paulo, ficou viúva após 12 anos de casamento; perdeu a mãe e suas duas filhas moram em outros municípios. “Não há desavenças aqui, mas gosto do meu canto e de ter minha independência. Me apeguei às ‘meninas’ daqui e a gente se ajuda muito. Morar na república ensina a se dedicar mais às pessoas”.


Administrando diferenças

Para manter o equiblíbrio  administrativo, a equipe da Secretaria de Assistência Social faz assembleias mensais nas quais os próprios moradores aprendem a lidar com as questões domésticas. Outros atendimentos são realizados sempre que há necessidade apontada pelo próprio morador ou equipe de trabalho.

A psicóloga Celiana conta que os idosos formam uma relação de irmãos e, como tais, “as diferenças aparecem porque são seres humanos, eles nos informam quando o outro não está bem; se preocupam uns com os outros, mas nas assembleias expõem tudo que incomoda, que vai desde o jeito de colocar uma xícara na pia até o caminhar do outro”. Nos encontros são trabalhados princípios de respeito, solidariedade, paciência e tolerância – fundamentais para qualquer convivência.

Galeria de Imagens

Close de maria Alves durante conversa com a reportagem
Leonita posa para foto abraçada com um senhor de óculso escuros na frente da casa
Fachada da casa branca com muros de pedra
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