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Ponta da Praia, bairro santista que inspira arte e poesia

Publicado:
29 de junho de 2021
7h 08
O deck do pescador visto de longe com a maré baixa. #paratodosverem

Por Andressa Luzirão

NOVO MERCADO DE PEIXES

HISTÓRIA DE PESCADOR

O MAR E A PESCA

SERVIÇOS

UMA TARDE NA PONTA DA PRAIA

 

Na casa da escritora e professora Regina Lúcia Alonso Peres, 78 anos, há uma coleção de aquarelas de sua autoria que retratam o canal 7, a Capela Nossa Senhora dos Navegantes e o mar; a vista da Fortaleza da Barra Grande; a ciclovia na primavera e uma família contemplando em terra um navio em alto-mar. Da janela de seu apartamento, o que ela vê com olhos de poetisa também a leva a escrever linhas em que estão presentes elementos como barcos à vela, mar, ondas e conchas. Há até um poema haicai sobre a garça no canal.

Toda essa inspiração artística se chama Ponta da Praia, bairro onde mora há mais de 40 anos e que nesta terça-feira (29) celebra seu 54º aniversário com a peculiaridade de reunir natureza, modernidade, turismo, preservação ambiental, comércio de pescado e tranquilidade. “Nas ondas partem e voltam sempre ao mesmo lugar: bairro que é a ponta do coração da Cidade”, diz ela, em um de seus poemas.

Não é à toa que o lugar é muito visitado por santistas e turistas, ainda mais que recentemente ganhou o Santos Convention Center, espaço para seminários, feiras de negócios, exposições, congressos, formaturas, apresentações artísticas e outros tipos de evento, com 30 mil metros quadrados de área construída, abrangendo a Praça Almirante Gago Coutinho e parte de terreno cedido pela União. E ainda o novo Mercado de Peixes e a remodelação viária de toda a Avenida Almirante Saldanha da Gama, com novo bolsão para acesso à balsa, nova arborização e equipamentos de turismo e lazer, como a fonte interativa no calçadão da orla.

“Morar aqui me inspira e me traz sensação de paz e liberdade, com a natureza sempre presente. Percebo também que, cada vez mais, tenho acesso a tudo que preciso como mercado, hortifrúti, cafés, docerias, laticínios, feira livre, posto de saúde, escolas, restaurantes, padarias, praças arborizadas. Tudo à nossa volta”, fala Regina, que adora caminhadas pela orla e desfrutar de uma água de coco, momentos que contribuem com seu processo criativo. 

E é pela criatividade que o bairro também tem sua marca turística em uma obra de arte a céu aberto de 800 metros quadrados: o mural do artista plástico paulistano Eduardo Kobra - conhecido por trabalhos na capital paulista e em 35 países -, que pode ser visto na fachada lateral do Santos Convention Center, retratando referências santistas como o Rei Pelé, os bondes, o porto e a Bolsa do Café. 

PASSEIO DA MENTE 

Regina menciona algumas referências desse pedaço de Santos, como se levasse a mente para passear pelo bairro. “Em primeiro lugar, o Ferry Boat com o atracadouro para balsas que conduzem os passageiros entre Santos e Guarujá. Temos clubes tradicionais com vista para o Atlântico, além do belo e histórico Museu de Pesca. Em caminhadas, há barracas de lanches e água de coco e a belíssima vista do píer dos Pescadores. Finalmente, a escultura vermelha de um coração, com a acolhida amorosa, e o Aquário, que sempre nos atrai”.

Quando criança, ela morava no bairro Vila Nova, na Região Central, e, certa vez, foi passear à noite com a irmã até a Ponta da Praia. “Encontramos minha tia-avó materna catando siris nas pedras onde hoje está a escultura do coração. Eu tinha uns 10 anos e nem imaginava que um dia residiria aqui. É um bairro arejado, porque é a ponta da ilha de São Vicente e o vento sopra bastante. E residencial, trazendo a marca de belas residências dos anos 70 e 80, ao lado de altos edifícios que ocuparam terrenos vazios”. 

NOVA MORADA DO MERCADO DE PEIXES

Na Avenida Mário Covas, 3.050, entre as ruas Vereador Henrique Soler e Dona Amélia Leuchtemberg, lá está o Mercado de Peixes em sua nova morada, uma grande referência urbanística no bairro. São dois mil metros quadrados e 20 boxes de pescado e temperos, além do Restaurante Paru, no mezanino, sob o comando do chef de cozinha Dário Costa. 

Permissionário de um dos boxes, Alex de Andrade Vieira, 37, mantém a tradição familiar no comércio de pescado do Mercado. Seu pai está desde 1989 no ramo e ele passou a ajudá-lo desde 1997, primeiro somente aos finais de semana e, desde 2001, todos os dias. “O Mercado de Peixes já era muito conhecido por quem gosta de peixes e frutos do mar, e sempre foi referência para mercados de outras cidades e estados. Com o novo prédio, conseguiu atingir muitas pessoas que não conheciam. Para nós, permissionários, o novo espaço trouxe mais conforto, segurança e praticidade no dia a dia”, avalia ele, destacando o ambiente climatizado e acessível. 

HISTÓRIA DE PESCADOR

Em seu box, vende de tudo um pouco: pescada, camarão, salmão, robalo, sardinha. “Tudo depende da pescaria”, conta, ressaltando que já teve clientes célebres como os jogadores de futebol Pelé, Neymar, Robinho, Viola, Careca e alguns atores.

Ali, também constrói amizades com gerações de clientes. “Fui criado dentro de uma peixaria, vi clientes casarem e terem filhos. Esses filhos continuam comprando até hoje. São muitas histórias". Uma delas, ele lembra bem: "Contávamos aos clientes sobre peixes de 300 a 400 quilos e eles não acreditavam que podíamos ter aqui. Diziam que era história de pescador. Mas quando menos esperavam, viam chegar esses peixes grandes no box”.

Também morador do bairro, ele diz que é um local de fácil locomoção. “Foi muito bom ver a evolução da nossa querida Ponta da Praia. Aqui temos tudo”, diz ele, garantindo que isso também não é história de pescador. 

O MAR E A PESCA COMO MARCA

Não é por acaso que a Ponta da Praia comemora aniversário em 29 de junho, Dia de São Pedro. O santo protetor da pesca e das embarcações tem tudo a ver com o bairro. Além do Mercado de Peixes, o local conta com os museus de Pesca e do Mar e ainda com o Deck do Pescador totalmente reformado pela Prefeitura.

Segundo a Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), na década de 50 para 60, o trecho onde hoje é o Aquário era considerado bairro de pescadores. “Temos fotos de 1950 e 1960 com o bairro ocupado por pescadores com redes e barcos. Com o desenvolvimento urbano, eles foram migrando para a Ilha Diana”, explica o historiador José Dionísio de Almeida, da Fams.

A história do bairro remonta ao século 18, especificamente em 1730, com a construção do Forte do Augusto, que existiu até o final do século 19, começo do 20, onde é o Museu de Pesca. Ele foi erguido para impedir, juntamente com a Fortaleza da Barra Grande, qualquer tentativa de invasão de piratas no período colonial até o Império. “Fazia parte de um conjunto de fortalezas dessa região. Quando deixou de funcionar, foi demolido e construído o prédio do Museu de Pesca”, afirma o historiador.

Segundo ele, a região, do início do século 20 até as décadas de 50 e 60, era muito ocupada por imigrantes japoneses. “Era um descampado e ali havia muitos sítios e chácaras onde se produzia hortaliças e legumes. É uma região que tem uma ligação muito grande com a colônia japonesa”. E no mar da Ponta da Praia, o Marco Padrão,  inaugurado em 1962, que faz referência à comemoração do 123º aniversário da elevação de Santos à categoria de cidade em 1839. 

REDE DE SERVIÇOS

Apesar de ser um dos bairros mais novos de Santos – o ano de referência de fundação é 1967, a Ponta da Praia se urbanizou rapidamente e conta com outras marcas históricas e turísticas como os clubes da orla – Vasco, Saldanha, Internacional e Estrela de Ouro, e o Aquário, parque mais antigo do País, o mais procurado da Cidade e o segundo mais visitado do Estado.

E ainda as praças Rebouças e Giusfredo Santini e a Ponte Edgard Perdigão – referência para a formação, durante o carnaval, do famoso Banho da Doroteia, quando ele existia, recorda José Dionísio.

Além disso, a Ponta da Praia conta com ampla rede de serviços públicos como o Centro Esportivo e Recreativo Rebouças, em área de 23 mil m², com três quadras cobertas, três piscinas e diversas salas onde são oferecidas modalidades como alongamento, basquete, ciclismo, esportes adaptados, futsal, ginásticas localizada e rítmica, hidroginástica, caratê, polo aquático, entre outros. No local também fica a Secretaria de Esportes (Semes).

O bairro ainda conta com policlínica e cinco escolas da rede municipal - Porchat de Assis, Iveta Mesquita Nogueira, Maria Carmelita Proost Villaça, Pedro II e Maria Luiza Alonso Silva e, na segurança, a nova Base da Polícia Militar, ao lado do Mercado de Peixes. 

TARDE NA PONTA DA PRAIA

“Não tem nada melhor do que andar no calçadão em um fim de tarde com pôr do sol na Ponta da Praia”. A frase da relações públicas Mariana Rosinha Prado Luna, 35, faz lembrar a canção ‘Tarde em Itapuã’, de Vinícius de Moraes e Toquinho. Ela se refere ao calçadão da Nova Ponta da Praia com a vista das tradicionais muretas de Santos, onde adora passear com o marido Pedro Augusto Cruz Prieto Luna, 34, também relações públicas, e a filha Luiza, sete meses.

É no bairro que os dois nasceram, cresceram e se conheceram. Com o passar dos anos e a escolha da profissão, foram trabalhar em São Paulo, onde moraram por 10 anos. No entanto, aos finais de semana vinham para Santos. “Nosso coração sempre foi da Ponta da Praia. Tivemos uma infância incrível aqui, somos apaixonados pelo lugar”, diz Mariana, lembrando que brincou muito no parquinho do Rebouças, que perdeu as contas de quantas vezes foi ao Aquário, frequentou o ‘Senadinho’ no Clube Internacional e tem até hoje amizades no bairro.

Mariana e Pedro sempre frequentaram a praia do bairro e não saíam do ‘Point da Praia’, barraca que era ponto de encontro dos amigos. Mal podiam imaginar que, a partir deste ano, comandariam o ‘point’. “Em 2020, engravidei e, em seguida, estávamos em isolamento por conta da pandemia. Comecei a trabalhar 100% em home office e o Pedro largou a carreira de publicidade para começar algo novo. Em meio ao isolamento, tivemos oportunidade de voltar para nossa querida Ponta da Praia para criar a Luiza. E soubemos que nossos amigos e donos da barraca estavam prestes a se aposentar”, conta a moradora. Desde fevereiro deste ano, então, o marido assumiu o carrinho ‘Point da Praia’, em frente ao Aquário, que funciona todos os dias, a partir das 10h.

A infância feliz que tiveram no bairro é a que querem para a filha, completa Pedro: “Queremos proporcionar a ela uma infância tão feliz quanto a que tivemos aqui na Ponta da Praia, ao lado de nossas famílias, amigos e em meio a este clima tão bom da nossa Cidade”.

fotos: Raimundo Rosa e Rogério Bomfim

 

Galeria de Imagens

ciclovia com o Aquário ao fundo. #paratodosverem
o calçadão da ponta da praia. #paratodosverem
o ferry boat. #paratodosverem
Base da polícia militar no bairro. #paratodosverem
O painel ilustrado do artista Kobra. #paratodosverem
boxes do mercado de peixes. #paratodosverem
a piscina do Rebouças. #paratodosverem
Fachada da escola Pedro II. #paratodosverem
O casal Mariana e Pedro com a filha. #paratodosverem
Regina Alonso. #paratodosverem
A fachada do Santos Convention Center. #paratodosverem