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Pacientes resgatam autoestima com trabalho

Publicado: 13 de janeiro de 2009
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Retomar a vida com a conquista da independência e a confiança dos familiares é o sonho dos 165 usuários que integram os projetos de geração de renda da Serp (Seção de Reabilitação Psicossocial), da SMS (Secretaria de Saúde). Lixo Limpo, Cantina Sabor Saúde, Vendarte, Oficina Fazendo Arte e Terra (Canteiros e Adote uma Praça) são as ferramentas da Serp para descobrir as habilidades e capacitar os seus usuários para o mercado de trabalho e a volta do convívio com a sociedade. Encaminhados pelo Naps (Seção Núcleo de Apoio Psicossocial), os pacientes são, normalmente, pessoas socialmente carentes com transtornos psíquicos controlados como a esquizofrenia, depressão e o transtorno bipolar. São atendidos, também, cerca de 15% de dependentes químicos vindos da Senat (Seção Núcleo de Atenção ao Toxicodependente - Zona Leste, Região Central Histórica e morros) que chegam à Serp com a vida totalmente desestruturada. Os resultados refletem na recuperação da autoestima dos usuários e os estimula a ter responsabilidade, cumprir horário, aprender a tratar um chefe e colegas de trabalho. Mas, é na vida familiar em que aparecem os maiores reflexos positivos, pois é um espaço que pouco a pouco pode ser reconquistado. Segundo a Serp, casos assim representam queda de 80% das crises. "Os parentes começam a perceber o paciente como alguém produtivo e participativo da sociedade", explica a chefe da unidade Maria Maura Porto Ferreira. Com depressão e síndrome do pânico, a moradora da Vila dos Criadores, H.O., se considera mais tranquila após ter começado a trabalhar no projeto Lixo Limpo, uma parceria da Semam (Secretaria de Meio Ambiente) e da Prodesan, que consiste na separação de materiais na Usina de Reciclagem da Alemoa. "Antes eu batia nos meus filhos e quase acabei com a minha filha". Para o marido, E.A., o trabalho na usina aliado ao tratamento médico transformou a vida da família, que sofria por causa das constantes fugas e agressividade da esposa. Com tantos problemas, E.A. sabe da necessidade de ajudar o paciente durante o período turbulento. "É preciso ter muita paciência. Eu ficava nervoso, vivia atrás dela pela rua e sempre tinha que segurá-la para não bater nas pessoas", contou o marido, que acredita na melhora de H.O. "Agora estou mais em paz e ela toma os remédios direitinho". A filha E., que mora na casa ao lado, também já foi vítima das crises da mãe e agora sente a diferença diariamente com o ambiente familiar mais calmo. "A cada dia que passa, ela está melhor. Antes eu não podia contar com minha mãe. Ela fugia e ficava dois, três dias fora de casa. Hoje é outra coisa: dá para conversar e até pedir uma ajuda para cuidar do meu filho". H.O. trabalha na usina com mais 63 usuários da Serp e mais 16 ex-catadores do lixão da Alemoa, de segunda a sexta, seis horas por dia e recebe um salário mínimo e meio, transporte e almoço no local. "O trabalho é muito bom e não é difícil. Aqui aprendi a não entrar em briga", diz H.O., que com o grupo separa 150 toneladas por mês. 100% DE EMPENHO Apesar de a maioria trabalhar em projetos fora da Serp, os usuários têm a sede do local à disposição. É lá que a maioria almoça, lancha e recebe atendimento dos 21 funcionários, entre eles terapeuta ocupacional, acompanhante terapêutico, psicóloga, assistente social e pedagoga. "Com a premissa de envolvimento integral, nós vamos fundo nos problemas deles, ajudando no planejamento econômico, social e familiar", afirma Maria Maura. Cada grupo de 30 pessoas é acompanhado por um técnico, responsável pelo atendimento individual, encontro de grupos e visita domiciliar periodicamente. As aulas de educação física, as oficinas de apoio à autoestima, orientação sexual e Teatro do Oprimido, em que são provocadas cenas improvisadas que colocam para fora toda a ansiedade e desejo dos usuários, completam o quadro de atividades. ARTESANATO ENVOLVENTE As oficinas de mosaico, bijuteria e pintura em tecido mudam a rotina de 35 homens e mulheres que vão até a Serp todos os dias. Há dois meses, M.R.M. descobriu um talento: a pintura. Desde que chegou, já confeccionou dez panos de prato. "Não tem nada melhor do que essas oficinas para quem tem problema mental", comentou a usuária. Para B.S.A., as oficinas mudaram sua vida. "Esse trabalho direciona a cabeça da gente para outras coisas. Hoje tenho metas, antes eu parecia um barco à deriva". Junto de outras usuárias, B.S.A. produz dez colares em cada aula. Ela também é aluna da oficina de mosaico e, com orgulho, mostra sua primeira mesa. "Agora vou terminar sozinha. Adoro desafios". Com transtorno bipolar e síndrome do pânico, ela contou que suas crises diminuíram desde que passou a frequentar a Serp. Os usuários que participam das oficinas ganham o seu dinheiro com 60% das vendas comercializadas em eventos particulares, na exposição que acontece no Orquidário e na Feira da Solidariedade. O restante do valor fica para a equipe repor o material. AO REDOR DA NATUREZA Uma das atividades oferecidas pelo projeto Terra é o Adote uma Praça – criado pela Semam e realizado em parceria com a Serp – que ensina um pouco da arte de jardinagem para 15 usuários. Eles trabalham de segunda a sexta-feira, fazendo a manutenção dos canteiros, limpeza e o plantio de algumas espécies em dez praças da cidade. L.A.S., de 46 anos, faz parte do projeto há mais de sete anos e conta que já aprendeu muita coisa, prova disso é a oportunidade que conseguiu em um prédio particular com a manutenção de canteiros. "Dá trabalho, mas eu gosto do que faço. Esse era o meu sonho. Minha vidinha é essa e é o que eu quero fazer". O pagamento de meio salário mínimo por mês, do INSS e do vale-transporte é feito com a verba dos empresários que adotam as praças e de responsabilidade da Cooperativa Mista Paratodos. O projeto ainda conta com outras seis pessoas que ficam no Jardim Botânico Chico Mendes, cultivando ervas e temperos em seis canteiros, além de participar de uma exposição de plantas no Orquidário em cada terceiro final de semana do mês. "Há dois anos que os usuários desses programas não têm crises", revela a chefe da unidade. Para ajudar na manutenção dos programas, a Serp recebe encomendas de artesanato e mantém o bazar Vendarte com as peças produzidas nas oficinas, como os vasos, as mesas e os porta-retratos com detalhes em mosaico, as bijuterias, os panos de prato, além de outros artigos provenientes de doação. Com atendimento dos próprios usuários, o bazar funciona às segundas-feiras, das 13 às 16h, e de terça a sexta, das 9 às 13h. Quem visitar a sede pode adquirir também plantas e mudas de temperos do projeto Canteiros, como por exemplo erva-doce, manjericão, salsinha e hortelã. Segundo Maria Maura, os planos para este ano focam, principalmente, as novas oficinas com parcerias de profissionais voluntários das áreas de gastronomia, música e costura que devem promover mais possibilidades de reinserção social dos pacientes. A Serp fica na Rua da Constituição, 598, Vila Mathias, e atende os seus usuários de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.