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Obesidade: resultados de estudo em santos são um alerta ao país

Publicado: 10 de junho de 2003
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Um percentual de 33,71%, de um total de 10.821 crianças de 7 a 10 anos, avaliadas num abrangente estudo de prevalência de sobrepeso e obesidade em 78 escolas públicas e particulares de Santos, está com seu peso acima do normal. A maior pesquisa já feita no país nessa faixa etária apontou um total de 17,97% das crianças com obesidade (o normal seria 5%) e 15,74% com sobrepeso. Estudo paralelo de hipertensão também apontou dados alarmantes. Os dados, considerados muito preocupantes, revelam que Santos segue uma tendência mundial à obesidade já a partir da infância e são até cinco vezes maiores do que àqueles obtidos em pesquisas de menor porte feitas em anos anteriores no país. Em 1996, por exemplo, levantamento realizado na região Sudeste e Nordeste, apontou uma amostra de 6% a 7% de obesidade em crianças de 7 a 10 anos. Em Santos, são quase 18%. Os números estão quase se equiparando aos padrões americanos - povo com maior prevalência em obesidade - e já superam os índices europeus. Os resultados colhidos junto às escolas particulares são ainda mais preocupantes, atingindo quase 45% de prevalência entre sobrepeso (19,94%) e obesidade (25,04%). O total de crianças avaliadas corresponde a 52,17% da faixa etária de 7 a 10 anos do Município de Santos. Os resultados do estudo foram divulgados ontem (10), durante entrevista coletiva, no Salão Nobre do Paço Municipal, pelo chefe do Executivo e representante da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), ao lado de toda a equipe técnica que trabalhou sob a coordenação do professor da Unifesp, Mauro Fisberg, que é nutrólogo e pediatra. Ele não tem dúvidas em afirmar que o Brasil inteiro deveria fazer esse projeto, lembrando que hoje a criança come mal em casa e abusa no shopping. Hoje se consome baldes de pipoca no cinema. Ele garante que o que for investido atualmente num trabalho de conscientização de alimentação saudável, atividades físicas e tratamento das crianças será muito pouco em relação aos gastos em doenças crônicas que fatalmente vão acontecer no futuro. Noventa estagiários de Educação Física, Nutrição, Medicina, Enfermagem e Fisioterapia atuaram na pesquisa realizada entre 10 de setembro a 15 de dezembro do ano passado. Foram avaliados peso, estatura, perímetros corporais, dobras cutâneas e pressão arterial de cada aluno. Para chegar aos índices de sobrepeso e obesidade, os técnicos utilizaram métodos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O diagnóstico avalia peso e medidas, mas com interpretações em função da faixa etária e crescimento. DADOS IMPACTANTES Os dados, considerados impactantes por um dos maiores especialistas do Pais em obesidade, o pesquisador e autor de vários livros, Mauro Fisberg, traz um alerta bem fundamentado para todo o País. A pesquisa foi realizada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em 78 escolas públicas e particulares, durante três meses, de setembro a dezembro de 2002, num trabalho em conjunto com a Universidade São Marcos e o Centro de Atendimento de Apoio ao Adolescente da Unifesp. E vai servir para que o poder público municipal inicie um projeto voltado ao controle da obesidade infantil, com políticas de intervenção que vão exigir um esforço conjunto de diferentes secretarias municipais, entre as quais Saúde, Educação e Esportes. As escolas particulares também serão envolvidas na campanha, já que a pesquisa apontou resultados mais desfavoráveis nas crianças provenientes das classes de melhor poder aquisitivo. Nas escolas particulares, onde houve avaliação de 2.839 escolares foram constatados (566) 19,94% deles com sobrepeso e (711) 25,04% com obesidade, perfazendo um total de 44,98% de crianças com grande potencial para riscos cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Nas escolas públicas, onde houve avaliação de 7.983 crianças, o sobrepeso atinge prevalência de 14,28% (1.140 crianças) e a obesidade 15,50% (1.237), num total de 29,78% de crianças entre 7 e 10 anos que deverão ser estimuladas a mudança de hábitos. Para muitos casos haverá acompanhamento médico. SEXO MASCULINO É MAIS OBESE Outra constatação: no resultado geral masculino, que envolveu avaliação de 5.211 meninos, houve maior prevalência em obesidade em relação ao elemento feminino. Ou seja: 770 meninos (14,78%) apresentam sobrepeso e 1.060 (20,34 % ) obesidade. Entre as 5.610 meninas avaliadas, o resultado geral apontou 933 (16,63%) com sobrepeso e 885 (15,78%) com obesidade. No resultado geral houve também a constatação de que em Santos há pouco prevalência de crianças com baixo peso: apenas 3,71%, quando o aceitável é até 6%. Na faixa de eutróficas (peso normal) se situam 6.772 crianças, representando 62,58% dos pesquisados. As escolas públicas e particulares vão receber os relatórios do estudo, neste mês, e os pais das crianças serão alertados para a atenção que devem dar ao problema da obesidade e doenças dela decorrentes. Em alguns casos haverá exames complementares, dentro do processo do estudo da SMS. CRIANÇAS HIPERTENSAS O estudo paralelo de hipertensão, e que ainda não foi concluído, já que exige novas medições para confirmação de dados alterados, também traz dados preliminares inquietantes. Há um número expressivo de crianças que podem ser hipertensas, sobretudo as que apresentam obesidade, confirmando a estreita relação do peso excessivo com a hipertensão arterial. A pesquisa chama a atenção para a necessidade de médicos pediatras estarem avaliando a pressão arterial das crianças nas consultas regulares. Os dados preliminares de hipertensão, apresentados pelo professor titular de pediatria da Unilus e de Nefropatia pediátria da Unifesp, Paulo Nogueira Koch, apontou dados alterados em 2.783 crianças. Elas terão a pressão novamente avaliada, em três medições distintas e por aparelho convencional. Também serão pesquisadas 2.983 crianças excluídas da avaliação inicial, em razão de falhas no aparelho digital. Existe a expectativa de constatação de hipertensão entre 300 a 500 crianças. MUDAR A pesquisa de prevalência de sobrepeso e obesidade, a maior já realizada no País, indica a necessidade urgente de uma mudança radical em hábitos alimentares, incentivo à prática de exercícios físicos, campanhas educativas, no qual se incluem edições de cartilhas, mudanças na merenda escolar, incentivos à cantina saudável e o prosseguimento do estudo, para outras faixas etárias, dos 10 aos 14 anos e, em seguida, dos 15 aos 19 anos. A Secretaria Municipal de Saúde pretende realizar treinamento para os médicos pediatras da rede, capacitando-os para a questão da obesidade. Há também objetivo de se criar um Centro Especializado em Obesidade Infantil. Os casos já diagnosticados de obesidade infantil passarão por novos exames, agora bioquímicos, tais como colesterol, glicemia, triglicérides, ácido úrico e novas avaliações da pressão arterial. Os riscos para doenças cardiovasculares, diabetes melitus, osteoarticulares e dores lombares, e também o risco de câncer podem acontecer já na infância. Segundo alerta um dos coordenadores do estudo da SMS, o médico endocrinologista Jorge Maxta, 40% das crianças obesas entre 7 a 8 anos serão adultos obesos fatalmente. Já as chances de adolescentes obesos levarem o problema para a idade adulta sobem para 80%.