Seu navegador não possui suporte para JavaScript o que impede a página de funcionar de forma correta.
Conteúdo
Notícias

O bonde de santos e suas histórias

Publicado: 22 de setembro de 2000
0h 00

Pioneirismo Tudo começou em 1864 com a iniciativa do italiano Luigi Massoja que introduziu em Santos os carris urbanos puxados a tração animal (segunda no país depois do Rio de Janeiro (Capital Federal), com a criação de uma sociedade denominada Serviço Regular de Gôndolas. Seis anos depois, por meio de lei provincial, foi dada concessão por 50 anos para que Domingos Moutinho, cidadão abastado da Cidade, explorasse o serviço de transporte, surgindo a Companhia de Melhoramentos da Cidade de Santos. A Linha inaugural, que ia do Centro até a Barra no Boqueirão, começou a circular em 09 de outubro de 1871, um ano antes de um bonde circular na capital do Estado de São Paulo. Em 1904 o serviço foi absorvido pela The City of Santos Improvements Company, já concessionária dos serviços de luz, força e gás na cidade de Santos. A Cia. City deu novo impulso ao transporte, que até então era desenvolvido por tração animal ou vapor e inaugurou no dia 28 de abril de 1909 o serviço eletrificado de bonde. Na época a empresa contava com 18 veículos abertos para passageiros, três de carga fechados e outros seis de carga abertos, com dois motores de 35 HP cada e bitola de 1,36m. A partir de 1919, com a guerra e os proibitivos preços internacionais para compra de novos veículos, a Cia. City se aparelha para produzir seus próprios carros. City – A primeira fábrica de bondes do Brasil Em 1919, a garagem da Vila Mathias foi pioneira na construção de veículos de pequeno porte, sendo que doze anos depois já fabricava carros com 12 bancos para até 60 pessoas. Em 1º setembro de 1944 a empresa Expresso Brasileiro Viação Ltda. firma contrato com a Prefeitura para a exploração de linhas que concorriam com o serviço de bondes, levando ao desinteresse da Cia. City, que alegava redução de renda pela pouca procura por parte do público. Em 21 de dezembro de 1951 é formado o Serviço Municipal de Transportes Coletivos – S.M.T.C., que absorve as linhas e todo o acervo de veículos, imóveis e outros da Cia. City e passa a operar o serviço em Santos. Em 1956 muitos dos bondes abertos passam a ser fechados, nas próprias garagens da empresa, visando evitar evasão de receita e pela coloração alaranjada que eram pintados recebem o apelido de camarão. A partir de 1964 começa a discussão pela desativação do serviço. A dificuldade de se manter os veículos, as facilidades do transporte a diesel, que conferia maior mobilidade ao serviço, o baixo custo do petróleo e a pressão exercida pelas empresas de ônibus levam o bonde à condenação final. Extinção do Serviço Em 69 os bondes abertos pequenos são retirados de circulação, permanecendo em uso apenas os abertos ou fechados grandes. Além daqueles argumentos, outros foram utilizados para a derrocada do serviço, como a construção das rodovias BR-101 e dos Imigrantes, que segundo os políticos da época, trariam um volume de veículos elevado para os padrões da Cidade. O bonde atravancava as ruas e atrapalhava o tráfego de veículos, por isso deveriam sair de circulação, o que acaba ocorrendo no dia 28 de fevereiro de 1971. Pela última vez, o veículo prefixo 258, que servia a linha 42, foi recolhido à garagem. A Linha Turística de Bonde Revitalização do Centro Histórico Realizar o sonho de colocar um bonde em circulação foi um verdadeiro desafio. Foram recompostas peças de bronze, elementos decorativos, estruturas de madeira, em pinho de riga, utilizando um dos poucos veículos remanescentes, construído na década de 20. Foi restaurado todo o sistema elétrico do carro e também, em parceria com a Companhia de Transporte Coletivo do Rio de Janeiro, que opera os bondes de Santa Tereza, foi retificado o antigo motor. Foram implantados 1.700 metros de rede aérea e trilhos, nas ruas e praças do Centro Histórico. Hoje é uma realidade. Após um ano de um enorme esforço empregado pelos técnicos da Companhia de Engenharia de Tráfego - CET - , o bonde volta a circular em Santos. E o projeto não pára por aí, pois a idéia é expandir a linha para outros trechos e continuar a restaurar outras carrocerias ainda existentes na Cidade. A Linha Turística de Bonde simboliza mais um marco no resgate do patrimônio do Centro Histórico de Santos. Faz parte de um projeto global que objetiva a revitalização deste trecho da cidade como um todo, fazendo realçar sua beleza arquitetônica, seus contornos sinuosos e a vida que um dia prevaleceu em seu cotidiano. Seu itinerário serve de elo para a ligação de todo o processo de revitalização e dá visibilidade suficiente aos prédios restaurados. É ainda importante equipamento turístico, que deverá atrair uma antiga geração saudosista daqueles bons tempos em que se pegava o bonde andando e a nova geração curiosa por conhecer o meio de transporte que impulsionava o desenvolvimento de Santos na primeira metade do século. Trajeto  Praça Mauá  Rua General Câmara  Rua do Comércio  Largo Marquês de Monte Alegre – Estação do Valongo  Rua José Ricardo (ramal alternativo)  Rua Tuiuti  Praça Barão do Rio Branco  Rua Visconde do Rio Branco  Rua Augusto Severo  Rua Cidade de Toledo Funcionamento Terça a Sexta das 10 às 12 e das 13 às 15 – Agendamento para grupos escolares ou para eventos, filmagens, fotos publicitárias, etc. das 15 às 19 – Linha Convencional. Sábados, Domingos e Feriados das 10 às 12 – City tour de bonde (bondetur), acompanhado de guia de turismo das 12 às 17 – Linha Convencional Pontos de Parada Parada Inglesinha – Valongo Parada Casa Rosa – Bolsa do Café Parada Barão – Praça Barão do Rio Branco Parada Buck Jones – Praça Mauá Parada Paulista – Praça Rui Barbosa Paradas do city tour Paço Municipal Igreja do Rosário Casa da Frontaria Azulejada Santuário do Valongo Bolsa Oficial do Café Panteão dos Andradas Igrejas do Carmo Rua XV de Novembro Preço Linha Convencional – R$ 0,50 City tour – R$ 3,00 Passageiros apresentando o bilhete da Linha Conheça Santos viajam grátis nos horários convencionais do bonde. Curiosidades Invenção Brasileira A denominação bondes é um neologismo que surgiu quando uma companhia francesa formada para implantar o serviço de transporte a tração animal no Rio de Janeiro, com o objetivo de reunir recursos suficientes para o empreendimento, emitiu títulos negociáveis no mercado, também conhecidos no Brasil como bônus, ou bonds, na língua inglesa. Ao publicar anúncios nos jornais, teria empregado a expressão Compagnie de Bonds o que foi suficiente para que o povo passasse a chamar os novos veículos em circulação por este nome, apelido que correu o país. Propagandas Eram famosas as propagandas (reclames) colocadas na parte interna dos veículos, explorando os mais variados tipos de produtos, desde ceras para piso até feijão. Talvez uma das mais conhecidas seja a de um xarope para asma que contava com uma quadrinha muito lembrada pelos mais antigos e que dizia: Veja ilustre passageiro/ o belo tipo fagueiro/ que o senhor tem ao seu lado/ e no entanto, acredite, quase morreu de bronquite/ salvou-o o Rhum Creosotado. Ocasiões Para cada ocasião existiam carros especiais como para casamentos e festas, cargas e serviços, transporte de carne e até mesmo para enterros, que no caso de Santos eram feitos no Bonde 09. Respeito ao usuário Foram marcantes na trajetória do serviço em Santos, o respeito ao cidadão demonstrado principalmente pelo cumprimento rigoroso dos horários das linhas, com a publicação semestral nos jornais da Cidade de um informe com todas as linhas, respectivos percursos, número de veículos em cada linha, tempo de espera nos pontos intermediários, sendo que algumas das linhas entre as décadas de 30 e 50 mantinham carros de sete em sete minutos. Viagem de Santos a São Vicente O Bonde da Linha 1, que ligava Santos a São Vicente, era um veículo a vapor que saía das esquinas da antiga Rua das Flores (atual Amador Bueno), esquina com a Rua Itororó, onde se localizava a estação, e seguia via Matadouro Av. Nossa Senhora de Fátima) até a Av. Capitão Mór Aguiar. Eram verdadeiras despedidas melancólicas com lenços brancos ao ar para os parentes ou amigos que se dirigiam a tão ‘longínqua’ cidade vizinha.