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Idosos de abrigos em Santos realizam o sonho de voltar à Vila Belmiro

Publicado: 11 de fevereiro de 2022 - 17h24
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IVAN BELMUDES

No campo de futebol, os sonhos viram realidade, um menino pobre, que naturalmente teria muitas dificuldades na vida, ao calçar chuteiras e ir para os gramados pode virar ídolo e encantar multidões mundo afora. O Estádio Urbano Caldeira, a popular Vila Belmiro, já viu muitos sonhos se tornarem realidade, muitas histórias de redenção, mas na noite desta quinta-feira (10) as realizações vieram das arquibancadas.

Rubens de Sousa e Silva, 83 anos e Jorge Roberto Marcondes do Amaral, 65, tiveram realizado o desejo de voltar ao estádio que tanto os alegrou em momentos distintos da vida. Ambos são atendidos pela Seção Abrigo para Adultos, Idosos e Famílias em Situação de Rua (Seabrigo-AIF), que trabalha na reinserção social e acolhimento de pessoas em situação de rua ou abandono.

O olhar de encantamento estava impresso no semblante de Rubens. Com as mãos acima dos olhos para se proteger dos refletores, ele buscava nas jogadas dos meninos de branco rememorar os momentos de juventude em que neste mesmo estádio via o Santos de Pelé encantar. “Era um time espetacular, tinha jogadas de vulto, de dribles, eram jogadas de grande classe”.

A última vez que Rubens pisou no estádio foi em 1970, quando Pelé ainda reinava nos nossos campos e a Vila era muito diferente. “Havia torres de iluminação e não tinha essa arquibancada do fundo. Agora parece que é dia de tão claro”, conta impressionado.

Se as memórias mais antigas são ligadas ao time dos sonhos, as mais recentes, infelizmente, não são agradáveis. Quando estava prestes a completar 80 anos, com dificuldades de locomoção e de saúde impostos pela idade, perdeu o pequeno quarto de aluguel onde morava e passou a viver nas ruas, até ser atendido pelas equipes de assistência social da Prefeitura há cerca de três anos. No abrigo, encontrou o conforto de um lugar para dormir, o acolhimento de toda equipe especializada, além de recuperar a capacidade de sonhar.

CHOQUE DE ALEGRIA

Para Jorge, a emoção também foi enorme. Com os punhos erguidos e o sorriso escondido pela máscara, comemorou intensamente quando Marcos Leonardo, o camisa nove, tocou por cima do goleiro e fez o gol alvinegro. O futebol o invadiu de alegria, ao contrário da luta contra o câncer, diagnosticado recentemente, as dificuldades que passou na rua, o medo e as dores da doença.

Após 20 anos longe das arquibancadas, Jorge só consegue pensar no jogo e fica encantado. “É maravilhoso estar de volta, torcendo para o meu time do coração; sou nascido e criado aqui em Santos, amo esse time e fico feliz demais pela oportunidade de rever um jogo de perto”.

Foi justamente o Jorge quem mais insistiu para Miriam Aparecida de Araújo, coordenadora de atenção social à população em situação de rua, sobre a vontade de ir à Vila Belmiro. “Quando o seu Jorge foi diagnosticado com o câncer, toda vez que eu passava no abrigo ele me dizia: me leva pra Vila, pode ser minha última vez, aquilo me comoveu; o seu Rubens também pedia para levá-lo, pois fazia mais de 50 anos que não vinha para o campo”.

Miriam explica que contou a história ao Santos FC e a diretoria prontamente atendeu à solicitação. O clube cedeu lugares nas sociais, deu lembrancinhas e camisetas para os dois. 
A felicidade dos dois visitantes era evidente. Pena que em campo o jogo não tenha sido tão bom, ao contrário do Santos da década de 60, tão aclamado pelo seu Rubens. O time, apesar de um bom primeiro tempo, acabou cedendo o empate ao São Bernardo.

Mas nem isso tirou a alegria da dupla. No campo de futebol, os problemas e as preocupações passam a ser o que se passa nas quatro linhas durante os 90 minutos de bola rolando. Eles sabem que assim como eles, que se reergueram depois de muita dificuldade, o Santos é um time acostumado a reviver mais forte, que busca nas adversidades a motivação para crescer.

HISTÓRIAS DE RECUPERAÇÃO

Para Miriam, essa história de renascimento constante do Santos, tem paralelo com a vida das pessoas acolhidas pelos serviços sociais. “As pessoas que estão nos acolhimentos têm a esperança de um dia melhor, de que a saúde retorne, de que volte aquele período antes de elas terem a vida afetada por conta de álcool, drogas, abandono, ou conflito familiar. Nos acolhimentos procuramos dar o máximo possível para que eles se sintam em casa e por que não, voltem a sonhar”.

Ao ver o olhar de encantamento do seu Rubens quando chegou à Vila Belmiro fica claro, vale à pena sonhar.

Santos possui 300 vagas para acolhimento

Atualmente Santos conta com mais de 300 vagas nos seis serviços de acolhimento voltados à população em situação de rua – além da Seacolhe AIF e do Abrigo de Emergência, há a Seabrigo AIF, Casa Êxodo, Albergue Noturno e Casa das Anas (para mulheres em situação ou iminência de rua, com ou sem filhos).

O acesso a eles se dá pelo Centro Pop e pela equipe de abordagem social, que faz trabalho de convencimento e construção de vínculos de confiança com essa população. O Centro Pop presta atendimento com assistentes sociais e psicólogos e encaminha aos acolhimentos, conforme o caso. Há ainda o programa Fênix, trabalho educativo que objetiva fazer com que a pessoa volte ao mercado de trabalho.

Em Santos há, no total, 21 unidades de acolhimento, sendo nove governamentais e 12 não-governamentais, que fazem parte da Rede Socioassistencial do Município, atendendo população em situação de rua, crianças, adolescentes, adultos e idosos, mulheres vítimas de violência e pessoas com paralisia cerebral.


 

Galeria de Imagens

José Roberta entra no estádio. Atrás dele está a roleta e dois controladores de acesso. #paratodosverem
José Roberto entra na Vila Belmiro
Rubens coloca a mão na testa para proteger os olhos da luz fote. Ao lado, José Roberto bate palma. #paratodosverem
Rubens e Jose Roberto atentos às jogadas
o gol marcado pelo santos. #paratodosverem
Marcos Leonardo marca o gol do Santos
o gramado iluminado com os time em campo alinhados para cantar o hino nacional, no início do jogo. #paratodosverem
Visitantes conheceram uma Vila Belmiro diferente do que viram no passado
Rubens olha para a Vila. #paratodosverem
Rubens olha para a Vila: "vale a pena sonhar!
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