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Gonzaga, bairro de Santos que é uma ‘cidade inteira’, completa 132 anos

Publicado:
20 de junho de 2021
10h 20
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Imagem do monumento e prédios da Praça da Independência. #pracegover

Andressa Luzirão

O automóvel de Nicolau Miguel Obeidi, 64 anos, praticamente fica na garagem, enquanto a família de Alinimar dos Santos, 55, optou por não ter carro como meio de locomoção. Ambos afirmam não haver necessidade, afinal, moram desde que nasceram em um bairro que consideram ser uma “cidade inteira”.

É o Gonzaga, a charmosa e tradicional região de Santos, que nesta segunda-feira (21) completa 132 anos de vocação para turismo, cultura, lazer e comércio, com seus cerca de 1.600 estabelecimentos, entre lojas instaladas em três shoppings – Balneário, Miramar e Iporanga, em galerias e ruas, além de bares, lanchonetes e restaurantes. E que ainda dispõe de policlínica e de duas escolas públicas municipais, a Leonor Mendes de Barros e a Edmea Ladevig.

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Santos-Praia e comerciante de uma loja de informática e celulares na galeria 5ª Avenida, Nicolau nasceu em 1957 no Hospital San Remo, hoje o Clube Sírio Libanês, na Avenida Ana Costa. Criado no bairro, morou com os pais na Rua Luiz Suplicy, depois na Av. Washington Luís e Rua Tocantins e, atualmente, na famosa Ana Costa, que corta o bairro com suas palmeiras imperiais e que leva esse nome por causa do dono de uma empresa de bondes e carros puxados a burro, chamado Mathias da Costa, cuja esposa se chamava Ana Costa.

“Não moramos em uma cidade, moramos em um bairro. Almoço todo dia no Pátio Iporanga. Quando quero ir a um restaurante, vou no São Paulo, no Independência. É difícil eu sair do bairro. Minha rotina está aqui, onde criei meus filhos”, diz. Para Nicolau, o bairro é o de maior glamour de Santos. “É alto astral e dinâmico. Um bairro que está sempre inovando, mudando e renovando, não é estático”.

VITRINES DO TEMPO

Conhecedor da história de transformação do bairro, parte dela testemunhada por ele em uma vida inteira ali construída, Nicolau sabe as peculiaridades dos lugares que são referência à população e a turistas. “Temos o Hotel Atlântico, a Praça das Bandeiras, a Fonte 9 de Julho e a Praça Independência, onde estão os irmãos Andrada, palco de comemorações e manifestações. O Gonzaga tem muita história”, relata.

Ele recorda, com a nostalgia de quem traz à tona o tempo vivido, os jantares de família sempre seguidos de caminhadas pelas ruas do bairro. “Passeávamos na Floriano Peixoto e olhávamos as vitrines das lojas”. Lembra ainda de filmes que assistiu nos antigos Cine Indaiá, Praia Palace, Atlântico e Cine Independência. Havia também o Cassino, o Gonzaga, o Iporanga e o Roxy. “Era uma Cinelândia”.

UM BAIRRO QUERIDO

Um bairro que tem tudo e tudo muito perto. É como define a revisora Alinimar dos Santos. “Ando 300, 400 metros e acho tudo. A gente não tem carro porque não precisa. Tudo se faz a pé no Gonzaga. Do lado de casa está o shopping Balneário, que eu adoro. Na adolescência, eu jogava fliperama ali. Esse bairro é minha casa, é meu bairro querido”.

Alinimar morou em outras cidades do país como Paulo de Frontin (RJ), Belo Horizonte e Brasília, mas nenhum lugar é, para ela, como o Gonzaga, onde atualmente mora com seus três irmãos e dois sobrinhos e onde construiu histórias com as ‘figuras’ do bairro. “O primeiro dono da padaria Universo era o seu Mateus, um português. Hoje é o seu Adelino, que já está há mais de 30 anos, uma graça de pessoa. Todo ano nos agrada com panetone. Afora o Davi que vende frutas na Rua Jorge Tibiriçá há 40 anos. Abriu um carrinho de fruta e foi crescendo”, conta ela, lembrando ainda das discotecas Zoom e Lofty, que ‘bombavam’ na décadas de 80 e 90.

Do colégio Osvaldo Cruz, onde estudou no bairro (hoje uma academia), ela lembra do bedel Olavo que, depois do fechamento da escola, abriu um carrinho de churros existente até hoje na esquina da Fernão Dias com Ana Costa. “Quando ele teve o primeiro filho, a escola toda fez vaquinha e conseguimos montar o quarto da criança”.

VAMOS AO BAR DO GONZAGA?

A formação do bairro é de 1889, mas a Câmara de Santos instituiu, por meio da lei 3.474/1967, o 21 de junho como data do bairro, em alusão ao aniversário de Luís Antônio Gonzaga, que tinha um bar, o Bar do Gonzaga, nas proximidades onde hoje é a Caixa Econômica Federal, em frente à praia. “Próximo a esse bar ficava um ponto de bondes vindos do Centro. E o nome ficou como herança da existência do estabelecimento muito utilizado por banhistas. As pessoas falavam: vamos ao bar do Gonzaga?”, explica o historiador José Dionísio de Almeida, da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams).

Ele conta que a região da orla começou a ser ocupada a partir da década de 50 em razão da inauguração da via Anchieta, em 1947, o que facilitou a vinda de pessoas de São Paulo para turismo ou para habitar a região. “Em alguns lugares da orla, a ocupação começa mais cedo, como é o caso do Gonzaga, no final do século 19, porque já havia a conexão da região do Centro e da orla por meio da avenida que veio a se chamar Ana Costa. A orla era um lugar de refúgio para muita gente, principalmente para quem tinha condição financeira”.

REDUTO CULTURAL

O Gonzaga também respira cultura com o Cine Arte Posto 4, espaço na orla reservado a filmes de arte, com produções cinematográficas de vários países, e com suas tradicionais livrarias como a Martins Fontes e a Realejo Livros. Na esquina da Rua Bahia, em frente à Rua Cláudio Doneaux, lá está, há 30 anos, a banca de livros Brizolinha (@brizolinhalivros).

O sebo era de Carlos Eduardo Motta, conhecido como Brizolinha, pai de Guilherme Eduardo de Moraes Mancio, 38, que há três anos assumiu o posto do pai, após seu falecimento. “Aqui sempre foi reduto de personagens da nossa cultura, que debatiam livros, cinema, política e cultura em geral. Temos uma clientela fiel e de todas as idades”, fala Guilherme.

ROXY, O CINEMA DE RUA QUE RESISTE

São 87 anos de história passada de pai para filho e para neto. Assim se resume a trajetória do Cine Roxy, uma das principais referências no bairro e que viveu a mudança na maneira de se exibir filmes: dos primeiros e grandes rolos de película ao sistema digital.

O empresário e diretor do espaço, Antônio Campos Neto, o Toninho Campos, 68, é o responsável por transformar o antigo Roxy em um espaço moderno com cinco salas. “Essa história começou com meu avô e eu consegui manter. O Gonzaga é um shopping a céu aberto e é por isso que o Roxy, como cinema de rua, consegue os resultados que tem. Ser o único cinema que sobrou da Cinelândia significa tudo para mim”.

 

Fotos: Anderson Bianchi (personagens) e Chico Arrais (pontos turísticos e comerciais). 

Galeria de Imagens

Fonte 9 de julho, na Praça das Bandeiras, em primeiro plano e palmeiras ao fundo. #pracegover
Praça das Bandeiras está entre os 'cartões postais' da Cidade.
Fachada do imóvel onde funciona agência da Caixa Econômica. #pracegover
Ocupação do bairro começou nesta área no final do século 19.
Fachada do Hotel Atlântico. #pracegover
Hotel Atlântico é destaque na arquitetura do bairro.
Nicolau Obeidi em frente banner da Câmara de Dirigentes Lojistas. #pracegover
Liderança comercial, Nicolau Obeidi cresceu e vive no Gonzaga
Toninho Campos em frente ao cinema Roxy. #pracegover
Toninho Campos mantém tradição de quase 90 anos do Cine Roxy.
Guilherme Mancio exibe livros dentro do sebo Brizolinha. #pracegover
Guilherme Mancio segue os passos do pai no sebo Brizolinha.
Ciclista passa de bicicleta pela ciclovia com Cine Arte Posto 4 ao fundo. #pracegover
Cine Arte é atrativo cultural do bairro.