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Expo em Santos: escritor Allan da Rosa aborda o papel transformador da escrita e do questionamento

Publicado: 22 de julho de 2022 - 13h19

Escritor, arte-educador, mestre de capoeira e pesquisador, Allan da Rosa levou à Expo Cidades Criativas Brasileiras, que se encerra nesta sexta-feira (22), no Blue Med Convention Center, a convite do Sebrae, um pouco de sua trajetória como líder do Movimento de Literatura Periférica de São Paulo.

Em palestra realizada na quinta (21), Allan contou como o projeto viabiliza cursos experimentais e autônomos em áreas vulneráveis da capital paulista e região metropolitana, como Americanópolis, Perus, Brasilândia e Taboão da Serra –explorando frestas para ampliar o trabalho de arte-educação independente. Uma missão que contempla ainda sua formação como historiador na Universidade de São Paulo (USP), onde também se tornou mestre e doutor em Cultura e Educação.

“Começamos fazendo chamadas em terminais de ônibus e em redutos de movimentos artísticos independentes. E encontramos um viés para alimentar as buscas diárias e históricas de cada pessoa. Centenas delas passaram a atravessar a cidade para, por exemplo, passar dois meses em uma garagem estudando tecnologias ancestrais”, relatou, na abertura de sua palestra.

Em busca do que chama de ‘trança frutífera entre tema, didática, forma e lugar’, Allan compartilhou suas experiências com a EJA – Educação de Jovens e Adultos (modalidade de educação básica destinada a maiores de 15 anos que não tiveram acesso ou não concluíram o ensino fundamental), abordou a importância da oralidade como uma usina de técnicas e questionou passagens da história brasileira em que a tecnologia foi utilizada de forma equivocada.

“Entre o fim do século 19 e o início do século 20, nosso projeto de Estado era a eugenia. Em nome da ordem e do progresso, a ciência e a tecnologia pareciam servir à extinção do misticismo, do simbólico, do não cartesiano”. Em contraponto, Allan ressaltou como a literatura sempre foi capaz de confundir, trazer emoções e questionamentos, especialmente quando consideramos a diversidade da arte da palavra pelo mundo.

Em outro momento, acrescentou: “A cultura letrada oral é considerada subalterna na escola. Mas uma das formas de fazer poesia e abrir o imaginário é por meio de adivinhações. Aprender como seduzir apresentando artes ocultas. É uma forma de se expressar em inúmeros lugares das Américas e em países como Congo e Angola, de onde veio a maior parte da população africana trazendo estéticas fascinantes, porém desconsideradas no Brasil”.

Com estas e outras falas, além de citações a Ruben Berta, Paulo Leminski e tradições de diversos povos indígenas e africanos, a apresentação mostrou como o Movimento de Literatura Periférica tem se movido para romper esta tendência histórica. Sem desconsiderar gráficos que mostram, por exemplo, que mais de 3,2 milhões de brasileiros – na maioria negros e negras – não conseguiram voltar aos seus postos de trabalho após o auge da pandemia, mas valorizando como a literatura pode acessar o que foi o cotidiano de cada um deles, de forma mais profunda.

“A literatura mobiliza nossas coragens, nossos medos, nossas estranhezas. O grande problema é que existe uma noção de universalidade que se alastrou com cruzes e espingardas, levando para calabouços, manicômios e cárceres quem não se adequasse. Mas a gente pode contestar tudo. E escrever um texto, lidar com uma tecnologia, testá-la, sempre vai nos render muitas histórias e sensações. Vamos cultivar a dúvida nessa época de tantas certezas”, concluiu.