Especial A Potência do Autismo: Diagnóstico dá impulso para jovem de Santos vencer desafios

Aos 37 anos, Andre Luis de Carvalho Delgado se diz “feliz da vida”. Ele teve o diagnóstico de autismo ainda criança, depois de passar por vários profissionais. Os primeiros sinais foram percebidos pelos pais Luis, 65 anos, e Regina, 61, quando era um bebê. A condição, porém, acabou servindo de estimulo para vencer desafios e conquistar tudo o que deseja.

Este depoimento dá sequência à série A Potência do Autismo, que o Santos Portal publica em comemoração ao Dia Mundial de Consciência sobre o Autismo, neste domingo (2), para mostrar serviços públicos oferecidos a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e exemplos de pessoas que vivem nessa condição.

“Minha mãe suspeitava porque, quando nasci, não mamei no peito, como era outro corpo, não tocava nele. Eu também aprendia muito rápido o que ensinavam na escola, estava sempre muito à frente da classe e sempre fui muito fechado também”. 

Mas nada foi motivo para rótulos ou limites. Hoje, André está no emprego que desejou. É consultor de TI na MSC, onde também faz parte da Cipa, é brigadista de incêndio, pertence ao comitê Diversidade e Inclusão Social e conhece todo mundo pelo nome. “Faço testes em sistema de informação e fui promovido este ano. Entrar na MSC foi a maior vitória minha e da minha família. A MSC é muito mais que a maior companhia de navegação, ela é gigante em tudo. Tenho muito orgulho de trabalhar aqui”. 

E o trabalho é considerado praticamente um presente. Foi no dia 23 de setembro de 2016, véspera do aniversário dele, que André soube do resultado do teste feito para a companhia de navegação. “Chorei muito, não conseguia segurar a emoção”.

O pontapé para o início da jornada foi um curso em uma organização social que se dedica à inclusão de pessoas com autismo. “Acordava às 4h da madrugada. Às 5h, pegava um fretado. Fui estudar programação, que é o coração da TI, em São Paulo. Quando estava morrendo de sono, me dizia: vamos lá, tem que ir. Saía às 18h, chegava de volta às 20h e às 4h já estava de pé de novo”.

Além da dura rotina, Andre enfrentou ainda outros desafios nesta trajetória. “Lá em São Paulo, tudo que a gente faz é com metrô. E tem muita gente. Mas você se acostuma. Meu objetivo era aquele e dizia: vou conseguir. E consegui. Valeu a pena cada dia dedicado, valeu a pena tudo”.

EXEMPLO PARA A IRMÃ

O esforço serviu de estímulo até para a irmã mais nova, Juliana, 34 anos. “A experiência do fretado foi essencial para mim. Mas ajudou minha irmã também. Ela contou que a motivação para estudar para entrar no curso de Medicina foi me ver subindo e descendo a Serra. E disse: se você fez isso, também posso. E conseguiu”. Além de abrir portas para o trabalho dos sonhos e ajudar a irmã, a participação no curso rendeu até menção na ONU.

“Depois que me formei em consultor em TI, mandei uma mensagem de agradecimento para uma pessoa em Barcelona (Espanha), que me indicaram na secretaria da escola, porque depois do curso minha vida nunca mais foi a mesma. Na ONU, eles têm um tipo de grupo de trabalho sobre autismo e ele leu o meu e-mail lá. Foi uma honra sem precedentes”.

MÚSICA PARA OS DESAFIOS

Para lidar com dificuldades como o contato social no trabalho e na vida pessoal, Andre apostou em cursos como de DJ, além de fazer academia três vezes na semana. “Para lidar com pessoas, fiz dois cursos. Mas nunca cheguei a tocar”.

Agora, tem planos de voltar para o inglês para fazer um curso on-line no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) - um dos principais centros de pesquisa em ciência e tecnologia do mundo. “A gente tem sempre que se manter crescendo, sempre estudando para viver o sonho. Meu objetivo agora é me tornar auditor interno na empresa e fazer carreira aqui”. Se perguntar para o Andre se valeu a pena, a resposta é direta: “Valeu a pena cada dia de dedicação e cada sonho vencido".

Ele deixa uma mensagem para quem trilha a mesma jornada: “O autismo não é um bicho de sete cabeças. Não é o fim das coisas. Confie no seu potencial. Você tem vários tesouros e várias capacidades. Se dedique a aprender cada vez mais. Quando a gente acha que chegou no limite, vemos que há muito mais para alcançar e a gente vai chegar lá. É só questão de tempo”.