Seu navegador não possui suporte para JavaScript o que impede a página de funcionar de forma correta.
Conteúdo
Notícias

Dia dos Avós: idosos em Santos valorizam autoestima e participação na vida dos netos

Publicado: 26 de julho de 2022 - 7h05

Kauany Priscila da Silva

A nova geração de avós está repleta de idosos ativos e atarefados, que mesmo em meio à agenda cheia ainda arrumam tempo para estar presentes na vida dos netos. Neste Dia dos Avós, 26 de julho, celebra-se a vida daqueles que criaram os filhos e agora, na melhor idade, curtem o tempo livre e a qualidade de vida enquanto mantêm a tradição de mimar a nova geração da família.

Nesta data tão especial, o Santos Portal traz a história de três avós santistas que não medem esforços para cuidar de si e dos netos. Elizabeth, Rute e Célia, cada uma presenciando uma fase da vida dos netos, mostram que a terceira idade é mais do que olhar por aqueles que estão chegando, mas enxergar as próprias necessidades sem deixar a ternura pelos pequenos de lado.

A AVÓ MULTITAREFAS DA PEQUENA RAFAELA

A pensionista Célia Regina Rodrigues Cola, 70 anos, ainda está na 'melhor fase' do crescimento dos netos, quando eles ainda são crianças e só querem saber de colo e das brincadeiras com os avós. A pequena Rafaela Cola Paiva, 7, não dá folga. Como está de férias e mora com a avó, a acompanha em todos os lugares e atividades, e olha que são muitas.

A casa de Célia é uma das oficinas da Ação do Coração, onde as caixas de tecido, agulhas e enfeites ficam em cima da mesa da sala esperando as amigas, que se reúnem todas as segundas-feiras para produzir os corações de tecido. Às terças e quintas, o compromisso da pensionista é com as aulas de dança de salão; às quartas e sextas é a vez de se exercitar na academia do Sesc; isso quando, às terças, ela não comparece às aulas de ikebana (arranjo de flores japonês) ou de memória, para exercitar a mente.

Rafaela está junto da avó em todos os momentos. Ela já fez mais de dez corações de pano com o auxílio de Célia e sempre a acompanha até a academia, onde aguarda o fim do treino da avó enquanto se diverte no playground que fica no mesmo espaço. Quando estão em casa, então, a diversão é ilimitada. Elas brincam de casinha, de chá da tarde, loja, escola, maquiagem e, uma vez ou outra, dão uma volta de bicicleta.

Célia e Rafaela estão juntas em tempo integral nas férias - fotos: Isabela Carrari

"Quando ela não está de férias, tento marcar todos os meus compromissos, inclusive consultas, para o horário em que ela está na escola, para ter mais tempo com ela", comenta a avó. "Mas ela já foi ao salão comigo, já viajou para Fortaleza (CE), e sempre vamos ao teatro e ao cinema juntas, quando sai algum filme que ela quer ver", complementa.

Para Célia, os afazeres do cotidiano não a impedem de dar atenção para a neta. Pelo contrário, ela considera que as atividades dão mais energia para acompanhar o embalo da pequena Rafaela. "As avós de hoje em dia são mais ativas, pensam tanto nelas quanto nos netos, então não deixam de dar atenção a eles por cuidar da própria saúde e bem-estar. Isso acaba nos dando até mais energia".

Mesmo com apenas 7 anos, Rafaela mostra compreensão diante da agenda cheia da 'avó multitarefas'. "Eu não me importo que ela faça tudo isso porque sei que quando ela termina tudo, ela sempre vem brincar. Eu sou a única criança do prédio, então queria que ela ficasse o dia inteiro comigo, mas ela precisa fazer outras coisas", reconhece.

Nesta relação, é só carinho e aprendizado, de ambos os lados. Para Célia, a neta significa "tudo", a pensionista até mesmo confessa que sente falta da pequena quando o pai a leva para passear. "A casa fica tão silenciosa, sentimos uma falta danada dela". Para Rafaela, a vovó é a 'menina dos seus olhos'. "Quando eu olho para ela, sinto que meu coração dispara porque ela é muito bonita. Eu não quero mudar de vó nunca, porque essa é a melhor do mundo. É o meu amor", dispara a pequena.

VOVÓ BETH: O PORTO SEGURO DE GIULIA

A vovó Elizabeth da Costa Martins, 68, hoje desvenda novamente o universo da adolescência através da neta, a estudante Giulia Solito, que está com 15 anos. 'Beth' repassa pelas fases que acompanhou o único filho, Fábio, que morreu há pouco mais de um mês, e vê em Giulia uma 'continuidade'.

Beth repassa com Giulia fases que acompanhou o único filho - foto: Isabela Carrari

"A minha neta significa a continuidade da minha maternidade, eu digo que é 'avoternidade'. Ela é o tesouro mais precioso que tenho, junto com o meu filho. A Giulia é o amor eterno da minha vida, é a pessoa que quero ver evoluir cada dia mais, para quem eu tento ser sempre um exemplo positivo", declara-se.

Ativa desde sempre, Beth não parou de trabalhar nem mesmo após a aposentadoria. Formada em Assistência Social há 46 anos, ainda desempenha a função da qual sente imenso orgulho, e não deixa o trabalho atrapalhar a vida pessoal. Ela faz academia, canoagem, viaja com as amigas, participa de corridas de rua e, claro, está sempre passeando e comendo fast food com a neta.

"Eu quero ser uma pessoa produtiva, quero estar antenada no mundo atual e tenho a responsabilidade, não com educação como uma mãe, mas de ser exemplo para a Giulia, orientar, esclarecer e estar junto, muito mais agora", disse Elizabeth.

A assistente social reconhece que a geração de avós da qual faz parte vive um novo momento: são multifacetados, fazem atividades físicas, se encontram e criam uma nova cultura, na qual a imagem de idosos que ficam em casa somente cozinhando e crochetando praticamente não existe mais. "No passado, as pessoas não chegavam nem aos 60 anos, e hoje temos uma população de idosos fervendo, que teve que arrumar outras atividades para fazer nesse tempo livre para se ocupar com algo além de cuidar dos filhos e dos netos", diz Beth.

Para Giulia, a proatividade da avó é um ponto positivo. "Faz muito bem para ela, porque uma pessoa que faz tudo isso é muito mais feliz do que quem fica em casa trancado. E isso também a deixa antenada nos assuntos, o que faz bem para nossa relação, porque faz dela uma pessoa mais aberta, que me faz sentir livre para conversar e, até mesmo, aproxima nossos interesses".

Porto seguro, confidente, amiga, terapeuta... Muitas são as qualidades atribuídas à Beth pela neta. "Ela está sempre ali quando preciso. É uma relação tranquila, leve, que me influencia a ser uma pessoa melhor, que me ensina a ser mais responsável e enxergar as coisas de outra forma", diz Giulia.

SINÔNIMO DE BOM HUMOR, RUTE CUIDA DOS NETOS DESDE CEDO

A aposentada Rute Prado Dimas, 77, tem quatro netos, todos adultos. Conforme eles foram crescendo, a frequência com a qual ela os encontrava foi diminuindo. Hoje, a avó os vê uma vez ao mês e em datas comemorativas, quando se reúnem para fazer um almoço caprichado ou ‘aquele churrasco’. Porém, ela garante que, mesmo com as visitas mais espaçadas, o amor que sente pelos netos é exatamente o mesmo de quando ela os via diariamente.

Rute, com Éder (esq.) e Danilo (dir): "não sou avó 'pararinha'"

Rute foi uma verdadeira segunda mãe. Os netos viviam na casa dela enquanto os pais estavam trabalhando e, às vezes, ela se incumbia de levá-los à patinação, à escola e ao futebol. Apesar de sentir falta do tempo em que eram pequenos e ainda dependiam dela, a avó entende que a missão foi cumprida e que já dedicou muito tempo da vida a eles. Agora, é hora de cuidar de si.

"Ser mãe é uma benção na vida da gente e ser avó dobra isso, porque a gente ajuda, mas não tem aquela responsabilidade. Sempre que eu pude, estive perto, mas hoje faço minhas coisas, não me considero aquela avó 'paradinha'", diz Rute.

Essa agitação toda foi motivo de preocupação durante a pandemia do coronavírus. Os filhos e netos, que não moram tão perto, ficavam imaginando se a dona Rute conseguiria se manter dentro de casa, visto que sempre foi de 'bater perna por aí'. "Ela é ativa desde sempre, já fez de tudo um pouco. Se você me perguntasse o que ela está fazendo agora, eu não saberia dizer, só saberia que, com certeza, ela está fazendo alguma coisa", diz o neto Danilo Dimas Ramos, 29, que hoje é engenheiro.

Rute recebe o carinho dos netos - fotos: Francisco Arrais

Rute já participou de aulas de dança e pintura, o que lhe rendeu dezenas de quadros que hoje enfeitam a própria casa e a de familiares. Atualmente, ela também pratica alongamento na Arena Santos e bordado na Vila Criativa do Campo Grande, sem falar nas aulas de corte e costura que dá voluntariamente na Igreja Batista da Ponta da Praia. "Eu não gosto de ficar parada", confessa a aposentada.

Para o neto Éder Spadoto Prado Dimas, 21, que é autônomo, a proatividade da avó é sinônimo de saúde. "Às vezes, ficar muito em casa pode prejudicar a saúde, porque mexe com o emocional da pessoa e ela acaba ficando deprimida. Se a minha avó não fosse quem ela é, de sair por aí e ser tão ativa, talvez ela não demonstrasse a felicidade que mexe tanto com as pessoas ao redor", analisa.

O bom humor da avó foi uma das lições que eles aprenderam desde cedo. "Ela é o tipo de pessoa que sempre vê o copo meio cheio e, por isso, nos ensinou a encarar as coisas de forma positiva, mesmo que estejam dando errado", diz Danilo. "Nossa relação com ela é de mãe e filho, mas só com a parte boa, com os mimos, as regalias", completa Éder.

VILAS CRIATIVAS

Em Santos, as Vilas Criativas exercem papel importante na oferta de bem-estar, qualidade de vida e interação social entre o público maior de 50 anos. Há unidades em vários pontos da Cidade, além da Vila Criativa Sênior, específica para esse segmento.