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Dia do Folclore: relembre as lendas que fazem parte da história dos santistas

Publicado: 22 de agosto de 2022
14h 15

Saci-pererê, boitatá, mula sem cabeça, lobisomem, curupira, entre outras figuras, unidas a ditados populares, cantigas e demais lendas formam a base do folclore brasileiro, cujo dia é celebrado nesta segunda-feira (22). Os santistas, no entanto, comemoram a data relembrando também as histórias da própria Cidade: contos que se desenrolam pelas ruas do Município, envolvendo desde fantasmas a milagres atribuídos a santos católicos, com versões que se alteram ao passar de geração para geração.

“Todos os povos têm suas histórias e lendas que vão sendo constituídas a partir dos seus valores, culturas e crenças e, na maioria das vezes, acontecimentos para o qual não se tem uma explicação plausível no momento. Esses contos começam a fazer parte do imaginário popular e, gradativamente, são passados e se tornam lendas de um determinado povoado. A cidade de Santos não foge deste contexto e, portanto, tem suas próprias histórias”, explica o historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), José Dionísio de Almeida.

HISTÓRIAS DE TERROR

O Fantasma do Paquetá

A mais famosa das lendas de Santos é a do Fantasma do Paquetá, originada em 1900. Entre as diversas versões da história, a mais conhecida é a de que, todos os dias, próximo à meia noite, uma mulher de vestido preto - ou branco - com o rosto coberto por um véu, se aproximava do portão do Cemitério do Paquetá, na Rua Dr. Cochrane, acenava para o interior do espaço com um lenço e depois usava-o para enxugar as próprias lágrimas.

Reclamações a respeito do barulho do choro agoniante da alma penada e do medo dos moradores de cruzar aquela rua, até mesmo de dia, foram levadas aos montes à delegacia do Município. Os oficiais, então, decidiram aguardar o fantasma na entrada do equipamento público e prendê-lo para pôr fim ao terror e dar sossego à população.

O problema foi que, naquela fatídica noite, o fantasma não apareceu. A multidão de moradores, que se reuniu no local para assistir à captura do espírito, ficou indignada e, com os ânimos exaltados, deram início a uma pequena confusão, que foi dissipada pela polícia. Após o episódio, alguns dizem que a alma nunca mais voltou, porém, outros ainda relatam aparições fantasmagóricas no local.

“Podemos relacionar esta lenda ao fato de sempre ter havido, ao longo do tempo, estigmas a lugares como cemitérios relacionados aos medos e receios das pessoas em relação aos espíritos. A lenda do Fantasma do Paquetá fortalece essa apreensão e faz com que muitas pessoas ainda se mantenham distantes desses locais, fortalecendo seus medos em relação ao desconhecido”, complementa o historiador da Fams.

Loira do Banheiro

Conhecida em várias partes do Brasil, a lenda da Loira do Banheiro pode ter começado em Santos. Alguns relatos levam a crer que a história da garota tenha se passado no Colégio Canadá, no Boqueirão, na década de 40, e dado origem às outras versões existentes no País.

A teoria vem da trágica morte de uma estudante de 15 anos que teria cortado os pulsos, caído e batido a cabeça no vaso sanitário do banheiro do colégio. A motivação para a tentativa de tirar a própria vida teria sido a transferência da melhor amiga para um convento, motivada pela crença dos pais de que as meninas teriam um romance.

Após o ocorrido, alunas começaram a relatar a aparição de uma entidade de cabelos loiros, pálida, vestida de branco e com algodões no nariz no banheiro feminino. A história se espalhou e hoje ronda, em sua maioria, os sanitários das escolas.

Lobisomem da Penha

A famosa lenda do Lobisomem também tem uma versão santista. Acredita-se que, em meados dos anos 40, o Morro da Penha tenha abrigado um exemplar que, nas noites de lua cheia, se transformava em um monstro semelhante a um lobo gigante, com pelos escuros, garras e presas, que uivava alto para a lua.

A lenda tem origem baseada na história de uma família que teria morado no bairro. Composta por um casal e sete filhos homens, a casa da família emanava sons estranhos durante as noites de lua cheia, como portas e janelas batendo, panelas caindo, choros, gemidos e o característico uivo do monstro.

Aterrorizados com os barulhos horripilantes, os moradores passaram a se esconder nas próprias casas e trancá-las - o que não era tão comum na época. A rotina de medo seguiu até a família desaparecer subitamente do bairro, momento em que a população ligou os fatos: a lenda do lobisomem diz que o sétimo filho de um casal é amaldiçoado com a transformação e, naquela casa, havia sete irmãos.

“Esta lenda também podemos relacionar com a questão dos medos e receios contidos nas pessoas, além das histórias, lendas e tradições que as pessoas trazem consigo. Isto porque a maioria dos habitantes da Cidade neste período era de migrantes e imigrantes, então provavelmente houve alguma situação relacionada a essa família que assustou várias pessoas e, a partir da forma que foi contada, se transformou em lenda. Como diz o ditado popular: “Quem conta um conto, aumenta um ponto"”, acrescentou Almeida.

CONTOS CURIOSOS

O vulcão do Macuco

Até mesmo a mãe-natureza está presente nas lendas do folclore de Santos. Dessa vez, o episódio ocorreu no bairro Macuco, quando uma obra em prol do saneamento da Cidade, em 1896, resultou na erupção de um ‘vulcão’.

 As intervenções, que contavam com escavações no solo do bairro, deram um susto na população em uma das manhãs daquele ano. Uma das crateras passou a jorrar água escura, acompanhada de pedras, fumaça e chamas amareladas que atingiam mais de dez metros de altura.

O fenômeno natural, que podia ser visto até do bairro Vila Nova, era temido por parte dos moradores, enquanto outros vinham de longe assistir ao espetáculo inédito. A notícia do vulcão subiu até mesmo a Serra, trazendo turistas da Capital a Santos para conferir o acontecido com os próprios olhos. A atividade do vulcão cessou após cerca de um mês e, tempos depois, algumas explicações científicas em relação ao fato foram apresentadas.

“Nesta lenda também entra o imaginário popular. Isto porque, na verdade, o que aconteceu foi que o lixo despejado nesse local por um longo tempo se deteriorou a ponto de gerar gás metano, que é inflamável. Como os munícipes, na época, não tinham este conhecimento, pensaram que ali havia um vulcão. Do jeito que o episódio foi sendo contado, acabou se transformando numa lenda urbana”, explicou o historiador da Fams.

A Fonte do Itororó

Reza a lenda que quem beber da Fonte do Itororó nunca mais deixará Santos. Atualmente, a fonte é localizada no sopé do Monte Serrat, ao lado do início do Caminho Monsenhor Moreira, e sacia a sede daqueles que têm coragem para encarar os 402 degraus da escada ou que desejam, como tantos santistas apaixonados pela própria terra, permanecer para sempre no local onde nasceram.

Para honrar a lenda, a Prefeitura de Santos construiu até mesmo uma pequena bica para direcionar a água que nasce naturalmente do morro - recurso utilizado, anteriormente, pelos moradores para uso doméstico.

INTERVENÇÃO DIVINA

Santo Antônio salva Igreja do Valongo

Outra lenda conhecida no Município, é o episódio em que o Santuário de Santo Antônio do Valongo foi salvo da demolição devido à imagem do santo ter se recusado a sair do prédio, em 1861.

O segundo conjunto mais antigo do Brasil era composto pelo santuário, a Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco e um convento, que seriam demolidos para a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí, a primeira do Estado de São Paulo. As obras começaram com a derrubada do convento e seguiram para o santuário, porém, os operários não conseguiram remover a imagem de Santo Antônio do altar.

A população tomou conhecimento do esforço seguido pela desistência dos funcionários e consideraram o acontecimento um milagre. Os fiéis, então, saíram em defesa da igreja e conseguiram que o prédio ficasse de pé.