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Dia do Feirante: bom humor e simpatia descontraem rotina difícil e essencial

Publicado: 25 de agosto de 2022 - 7h57

Eles acordam antes mesmo do sol raiar. Montam as barracas, organizam os produtos e se preparam para atender centenas de clientes. Uma hora ou outra, para descontrair e adicionar uma pitada de humor ao dia a dia corrido e cansativo, soltam frases como “mulher bonita não paga, mas também não leva” e anunciam as promoções do dia a plenos pulmões: “Hoje é três por dois!”. São eles, os feirantes, cujo trabalho é celebrado nesta quinta-feira (25), com muita gratidão dos clientes àqueles que desempenham uma das funções mais antigas do mundo.

De manhã cedinho, os profissionais botam um sorriso no rosto e alegram o dia de quem saiu de casa apenas para fazer as compras da semana ou comer um pastel quentinho acompanhado daquele caldo de cana gelado. Eles fornecem legumes, frutas e vegetais fresquinhos, contribuindo para a alimentação saudável da clientela a um preço mais acessível do que nos mercados.

Dependendo da feira, também é possível encontrar barracas de temperos, acessórios, roupas, conservas, itens para a casa, além de plantas e flores. A variedade de produtos acompanha a evolução da necessidade dos clientes e, embora a data comemorativa remeta à primeira feira livre da cidade de São Paulo, em 1914, a prática da atividade é muito mais antiga.

Segundo o historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), José Dionísio de Almeida, as feiras tiveram início ainda na Idade Média, quando a troca de produtos, também conhecida como escambo, era o único meio de transação. “Em Santos, as feiras começaram em 1923, mais ou menos da forma como conhecemos hoje; antes disso, na segunda metade do século 19, várias bancas de produtos e peixes ficavam onde hoje se localiza a Praça da República (Centro), que também funcionavam como uma feira”.

Atualmente, a Cidade conta com 243 feirantes cadastrados, entre eles a dupla de irmãs Elisângela e Helena, que tocam a Barraca das Manas; Abel Apolinário, proprietário da Barraca do Abel. Neste Dia dos Feirantes, eles dividem as vantagens e desvantagens da profissão que escolheram e dão dicas para quem deseja ingressar em uma das 25 feiras livres do Município.

FRUTAS DO ABEL

Morango, manga, uva, abacaxi, maracujá. Não importa a fruta, na Barraca do Abel sempre há o que o cliente procura e mais uma infinidade das mais frescas opções - garante o proprietário, Abel Apolinário, que dos 41 anos de vida, já dedica 24 às feiras livres de Santos.

“Eu gosto de trabalhar diretamente com o público, de poder servir uma mercadoria de qualidade, de o cliente comprar e voltar”, Apolinário lista os motivos por ser apaixonado pela carreira que construiu. “O consumidor vai ao supermercado e não consegue falar com o dono, já na feira ele pode fazer isso, é um diferencial, então a gente recebe as sugestões e reclamações na hora. Pensando bem, essa parte eu não sei se é boa ou ruim”, brinca o feirante.

A barraca da qual Apolinário é proprietário é a mesma onde ele começou, há mais de duas décadas. Há 15 anos ele pode dizer que tem o próprio negócio e que agora faz as próprias regras. “Eu falo que precisa ter muita força de vontade, saúde e gostar da feira para trabalhar aqui, senão você não aguenta acordar de madrugada, não ter hora para dormir e, às vezes, não ter vida social. Hoje meus funcionários têm porque eu registrei todos, porque quando comecei, não tive isso, então sei como é ruim”.

Criatividade e bom humor também estão nos requisitos básicos para ganhar a vida vendendo itens nas ruas, segundo o feirante. “Mesmo cansado, você precisa atender bem seus clientes porque, na minha opinião, sem isso o seu trabalho não vale de nada. E precisa ser criativo para perceber o que falta na feira, buscar sempre evoluir. Tem que trazer opções diferentes para se destacar, não dá para ficar só na laranja e limão”, afirma.

A tática de Apolinário parece funcionar. A secretária Anne Rose Libório Pereira, 62 anos, por exemplo, percorre diversas feiras duas vezes por semana há anos, mas desde que descobriu a Barraca do Abel, há pelo menos duas décadas, não compra frutas em outro lugar. “Vejo os produtos em todas, mas comprar, é só aqui”.

Itens como ovos, verduras e legumes também não faltam no carrinho da secretária. Tudo o que Anne Rose pode comprar na feira, em vez de ir ao supermercado, ela leva para casa. “A feira não pode faltar na minha vida, se um dia acabar, eu choro”, brinca. “Aqui tem essa facilidade de conversar com os vendedores, de eles nos ajudarem a escolher. Para mim, é até um passeio às vezes”.

BARRACA DAS MANAS

Na Barraca das Manas, as verduras estão sempre verdes e fresquinhas. As proprietárias do negócio são as irmãs Elisângela Pereira Ventura, 41, e Helena Nunes Pereira de Andrade, 49, que percorrem toda a Cidade, montando o empreendimento seis vezes na semana. Após mais de 20 anos no ramo, elas se orgulham da profissão na qual se encontraram graças ao irmão.

“A barraca era dele, então a gente era funcionária. Quando ele decidiu voltar para a Paraíba, nossa terra natal, compramos e passamos a tocar. Devemos muito ao nosso irmão, porque foi ele quem nos deu essa base para continuar no ramo”, conta Elisângela. “A gente gosta porque adora trabalhar com o público e porque é apenas meio período, então à tarde estamos livres para fazer outras coisas”, completa.

Para ser um bom feirante, como a dupla que coleciona clientes que vêm toda semana há mais de duas décadas, é preciso ter simpatia, bom humor, ser profissional e gostar do que faz, segundo Elisângela. “Às vezes você está com vários problemas e tem que deixar em casa, chegar aqui e sorrir para o cliente, porque ele não tem nada a ver com a sua vida pessoal”, afirma.

Se o tratamento é bom, a clientela sempre volta. A dona de casa Maria Sueli Rocha, 65, é prova disso. Ela frequenta a Barraca das Manas há décadas, e sempre intercala com as outras barracas preferidas para contribuir com todos. “Nós precisamos valorizar o trabalho deles e colaborar com a compra dessa mercadoria. Vir de madrugada e depois ter que voltar com as mercadorias para casa é muito duro”.

A preferência pela compra nas barracas não é de agora, mas ela ressalta que, neste momento de crise no mundo, as feiras estão contribuindo ainda mais para a alimentação das pessoas. “A minha vinda à feira toda semana é sagrada porque o mercado está caro demais. Que a feira nunca acabe, porque é muito importante neste momento em que as pessoas estão tão necessitadas. Aqui está tudo à metade do preço”, afirma.

Maria Sueli é uma das clientes mais fiéis, a quem Elisângela dedica o máximo de carinho. Se a feirante pudesse dar um conselho para quem está começando, para cultivar laços tão bons com os consumidores assim como ela faz, diria para os iniciantes não fazerem brincadeiras que possam desagradar os clientes, nunca perderem a própria essência e sempre manterem o pé no chão, porque a vida na feira não é fácil.

“A gente tem que ser aquilo que a gente é, tanto aqui quanto em outro lugar que o cliente nos encontrar, e nunca desistir, porque nós somos, sim, uma classe sofrida. Às vezes o caminhão quebra, um funcionário fica doente, mas a gente dá um jeito para não deixar os clientes na mão. Nós, feirantes, somos guerreiros acima de tudo. Trabalhamos debaixo de chuva, de sol, estamos sempre expostos, mas temos orgulho da nossa profissão”, finaliza Elisângela.

Feiras livres em Santos

Domingo

  • Rua Cardeal Arcoverde (Macuco)
  • Rua Ricardo Pinto (Aparecida)
  • Av. Rangel Pestana (Jabaquara)
  • Rua São Bento (Valongo)
  • Rua Roberto da Silveira (Rádio Clube)
  • Avenida Francisco Glicério (Encruzilhada)

Terça-feira

  • Rua Oswaldo Cruz (Boqueirão)
  • Rua Dom Duarte Leopoldo e Silva (Marapé)
  • Ruas Frei Francisco Sampaio/Jurubatuba (BNH-Aparecida)
  • Rua Prudente de Morais (Vila Mathias)

Quarta-feira

  • Rua Cunha Moreira (Encruzilhada)
  • Rua Santos Dumont (Macuco)
  • Rua Rio Grande do Sul (José Menino)
  • Praça Nossa Senhora Aparecida (Aparecida)
  • Rua Indalécio de Arruda Costa (Santa Maria)

Quinta-feira

  • Avenida Pedro Lessa (Embaré)
  • Rua Álvares Cabral (Vila Belmiro)
  • Rua Renata Câmara Agondi (Saboó)

Sexta-feira

  • Avenida dos Bancários (Ponta da Praia)
  • Avenida Conselheiro Rodrigues Alves (Macuco)
  • Rua Francisco Meira (São Manoel)

Sábado

  • Rua Delfim Moreira (Embaré)
  • Rua Marquês de São Vicente/Francisco Glicério (Campo Grande)
  • Av. Afonso Schmidt (Castelo)
  • Rua Itororó (Centro)