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Criação e desenvolvimento de startups são discutidos em Santos

Publicado: 25 de outubro de 2019 - 12h18

Patrícia Fagueiro  

A cidade de Santos tem 34 startups (empresas jovens com modelo de negócios inovador), de acordo com o site StartupBase, base de dados oficial do mercado brasileiro de startups, mantido pela Associação Brasileira de Startups.

O Município abriga empresas nas áreas de saúde e bem-estar, varejo, logística, construção civil, entre outros serviços. Em toda a Baixada Santista, são 47 startups; no País, 12.680, com o Estado de São Paulo na frente, com 3.762 empreendimentos desse tipo.  

A expectativa é de que Santos, Cidade Criativa na área de audiovisual pela Unesco, se torne cada vez mais celeiro para novos negócios. Dicas para quem quer iniciar ou alavancar uma startup foram a tônica do 1º Caiçara Talks, evento promovido na Câmara Municipal pela Caiçara Valley, integrando a programação da 5ª Semana Municipal de Ciência e Tecnologia, realizada pela Fundação Parque Tecnológico de Santos.   O evento uniu representantes de startups, aceleradores, entre outros representantes dispostos a transferir conhecimentos. Dentre eles, a vice-presidente da Associação Brasileira de Startups, Tânia Gomes (veja entrevista completa abaixo).  

A chefe de Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura de Santos, Cláudia Maria Sodero Salles, destacou a missão do Parque Tecnológico de Santos, que serve como incubadora para novas empresas. “É um ente governamental que liga as grandes empresas demandadoras de tecnologia à comunidade acadêmica e às startups. Queremos que o Parque Tecnológico seja a casa de vocês”, disse ao público presente no encontro.  

EXEMPLO

A santista Dani Junco percebeu, há cerca de oito anos, quando já empreendia, que não havia espaços amigáveis no mercado de startups para quem vivencia as especificidades da maternidade. Por isso, fundou a B2Mamy Aceleradora há 3 anos, em que as mulheres encontram espaço para focar no trabalho e no desenvolvimento de sua startup ao mesmo tempo em que seus filhos encontram-se em espaço kids e baby do local.

Além disso, também promove eventos com foco no aprimoramento das empreendedoras.   “Conectamos mães ao ecossistema de inovação e tecnologia, para que se tornem líderes e livres economicamente, por meio de capacitações e pertencimentos. Criamos espaços agradáveis para quem tem filhos, especialmente que estejam na primeira infância (0 a 5 anos)”.  

Há espaço para crescimento, segundo especialista

A vice-presidente da Associação Brasileira de Startups, Tânia Gomes, comenta o atual momento das startups no Brasil com uma perspectiva bastante animadora: há muito espaço para crescimento desse “ecossistema” no País. Tânia também é mentora do Programa SP Stars, da Prefeitura de São Paulo, e fundadora da Girlboss Consulting, especializada em estratégia para startups.

Quais são os principais desafios para criar e manter uma startup no Brasil?

As dificuldades são parecidas com a de um negócio tradicional, mas colocamos uma camada de discussão sobre quão inovador e escalável é esse negócio. A startup precisa ser escalável (reproduzida repetidamente com ganho em produtividade), globalmente aplicável e precisa ter uma base tecnológica. Quando vemos uma startup nascendo, geralmente esses três itens ainda não estão bem claros para o empreendedor. Essa é uma grande dificuldade. E quando a gente fala em startup, temos algumas métricas diferentes no começo do negócio. Perguntamos: você fez MVP (Produto Mínimo Viável – lançamento do produto com o menor investimento possível para testar o negócio antes de aportar grandes investimentos)? Você já tem cliente comprando a sua solução? Tem demanda de mercado? Qual a dor que você resolve? Essas são algumas dificuldades do início que aumentam se o empreendedor se isola, por isso falamos tanto em comunidades. Quando você discute a ideia, ouve outras opiniões, fica menos pesado.  

E a Abstartups permite esse networking...

Esse é o nosso motivo de existir. Conectar startups com corporações, governo, empreendedor com outros empreendedores. Precisamos apoiar essas pessoas. Comunidades fortes fazem empreendedores fortes. Não o contrário.  

Hoje, a Abstartups tem mais de 2.600 associados. Como vocês avaliam o crescimento do setor?

Temos quase 13 mil startups mapeadas no Brasil. Quando falamos do crescimento desse ecossistema, vemos que triplicou o volume de startups nos últimos três anos. É um mercado em franca expansão, tem muito dinheiro na mesa, tanto investimento inicial, com investidor-anjo, como dinheiro maior de venture capitals, com investimentos acima de 5 milhões. Esse ambiente é propício para o desenvolvimento do ecossistema de startups no Brasil. Você tem dinheiro, tem empreendedor querendo inovar e um país em que a criatividade é uma grande característica. E empreendedores acostumados a um ambiente de altíssimo risco e de incertezas. Todas essas variáveis quando se juntam amadurecem o ecossistema.  

Quem cria uma startup se espelha nos unicórnios?

Temos dez unicórnios no Brasil (startups com avaliação de preço de mercado no valor de mais de 1 bilhão de dólares), em um país com quase 13 mil startups. Não podemos olhar só para os unicórnios. Gosto de dizer que quando você empreende, a jornada tem que ser mais importante do que a chegada. Se você virar um unicórnio, que bom! Em algum momento o mercado olhou isso e os investidores entenderam que a sua startup tem essas características. Até lá, você é um negócio. E negócio a gente alimenta com ações diárias: ninguém nasce unicórnio, você cria uma história. A liberdade econômica facilitou para a gente inovar. Hoje você pode ter uma empresa de três andares e não é mais necessário emitir muitos alvarás para funcionar (Medida Provisória nº 881/2019, que dispensou alvarás para cerca de 287 tipos de negócio). Tiraram o peso do empreendedor que está começando. Esse é um mercado que está crescendo, está maduro, mas ainda tem muito a ser explorado no Brasil.  

O mercado vai crescer por conta das necessidades a serem supridas?

Toda startup nasce de uma dor. Temos muitas dores não resolvidas no Brasil. Fintechs estão mais em evidência e o dinheiro está sendo colocado mais nessa vertical. Mas quanto podemos melhorar a performance no campo se fizermos aplicação de tecnologia por meio das AgTechs? Edutechs, se a gente olhar tudo o que podemos levar de inovação não só para gestão de educação, mas para o método de aprendizado. Na área da Saúde, temos quatro ou cinco operadoras que mudam o jeito que a gente cuida da nossa saúde. Outra vertical é a Legaltech, que tem potencial, pois os processos judiciais ainda são morosos e difíceis. Então, campo de inovação tem em qualquer vertical. Temos muitas dores não resolvidas no Brasil. E toda dor, quando bem estudada e entendida, pode se transformar em um negócio inovador e disruptivo.  

Nem toda startup é digital, embora tenha a tecnologia como pilar...

Essa é uma discussão muito ampla, porque ainda não temos fechado no Brasil o conceito de startup. Temos muito espaço para inovação, que para mim muda o mundo. O Waze, por exemplo, mudou o jeito que a gente dirige e usa o trânsito nas grandes cidades. O uso é inovação real, palpável. Airbnb mudou a indústria de hotelaria. Mas nenhum desses negócios começou gigantesco ou pronto. O que é inovador pode se transformar em uma startup e não o contrário.  

Como o Brasil se encontra em relação ao restante do mundo no mercado de startups?

É difícil dizer qual país está mais avançado porque cada um tem características próprias. O Vale do Silício (Estados Unidos) é muito voltado para tecnologias aplicadas às redes sociais e à vida virtual. Mas se você olhar para Israel, a área da saúde é superdesenvolvida. Em Amsterdã, é a área de Comunicação. Depende o quanto cada país entrega de ambiente para inovação. São Paulo é considerada uma cidades mais promissoras para se tornar um hub de inovação mundial. Temos potencial e criatividade. Não estamos em um País caro para investir, o que facilita a entrada de capital externo. Havendo tranquilidade política, uma legislação minimamente coerente, sem mudanças bruscas, teremos capital externo entrando para nos dar mais potencial de inovação e nos tornar um player mais forte no mundo.  

Há risco de o mercado de startups no Brasil virar uma bolha?

Não. Temos uma discussão sobre unicórnios de forma geral no mundo, devido ao caso da Wework (unicórnio de origem americana de escritórios compartilhados que teve uma tentativa frustrada de abertura de capital). No Brasil, temos maturidade no mercado e as ‘torneiras’ de investimento não são tão abertas como nos Estados Unidos. O dinheiro chega mais contadinho, dificulta a vida do empreendedor, mas como diz o João Kepler (um dos maiores investidores-anjo no Brasil), o melhor investimento é o dinheiro do seu cliente.