Com vista privilegiada de Santos, Vila Progresso completa 57 anos

Localizada no ponto mais alto de Santos, a exatos 184,7 metros acima do nível do mar, a Vila Progresso completa 57 anos nesta quarta-feira (15). Fundada a partir do esforço de pessoas que buscavam um recomeço, a área tem sua história misturada a de seus moradores, que literalmente a ergueram após um desastre natural. 

Foi em 1966, quando um deslizamento no Morro do Jabaquara, vizinho à vila, fez com que seus habitantes precisassem buscar um novo local para morar. Uniram-se na nova missão descendentes de portugueses que já habitavam outras partes do morro e imigrantes nordestinos que buscavam condições de vida melhor - união que gerou o ‘progresso’ do bairro, termo que nomearia a área posteriormente.

A família do atual prefeito regional dos Morros, Leandro Vasconcelos, era uma destas que, vindas do Nordeste, se instalaram na pequena vila, hoje com 160 mil m², e passaram a chamá-la de “lar”. Aos 35 anos de idade, o servidor (foto abaixo) sente-se privilegiado por poder cuidar do bairro onde cresceu, conduzindo obras que contribuem tanto com a seguranças dos antigos vizinhos quanto dos demais habitantes das partes mais altas de Santos, número que chega a 40 mil.

"Poder cuidar da Vila Progresso é um sentimento diferente, especial. Cada rua, escadaria ou praça reformada me traz uma lembrança de momentos que vivi nesses locais", afirma o prefeito regional. Atuando nos morros desde 2018, Leandro coordena desde serviços de zeladoria a obras de contenção e drenagem, além de reurbanizações. 

Entre seus trabalhos preferidos, destaca-se a revitalização da Lagoa da Saudade, a alguns minutos de sua antiga residência, caminho que fazia junto a seu tio para pescar. "Das obras mais marcantes e que tenho maior carinho é essa, entregue no final de 2019. Local onde cresci e tenho muitas lembranças da minha infância", recorda Leandro, contando que jogar bola e soltar pipa também eram alguns dos passatempos preferidos na comunidade.

Atualmente morando em outra parte da Cidade, Leandro está sempre pela Vila Progresso, bairro que já foi apelidado de "Balança Saia" em razão dos fortes ventos que o atingem em razão da altitude. Conduzir serviços municipais e visitar a família que ainda vive no bairro são alguns dos motivos que o fazem retornar à vila frequentemente, momento em que pode parar para admirar a vista da Cidade do alto da Praça do Céu, ponto que reúne desde os mais velhos até os mais novos nos fins de tarde, quando têm uma vista privilegiada do pôr do sol.

O vai e vem dos navios no Porto de Santos também agrada aos olhos. A ajudante geral Gláucia Duarte, sempre que pode, para no 'mirante' para observar a manobra dos gigantes de metal que cortam os mares ao redor do planeta. "Eu amo a Praça do Céu, ficar olhando lá para baixo, ver os navios girando para atracar. É lindo demais".

Há 55 anos no bairro - exatamente desde o dia em que nasceu -, a moradora praticamente cresceu com a Vila Progresso. Quando pequena, pegava água no poço para abastecer sua casa, porém, com o passar do tempo, viu a água encanada chegar à região, seguida pelo asfalto, a internet, a iluminação, entre outras melhorias que tornaram a vida no bairro ainda mais agradável.

Concentrando cerca de 470 imóveis residenciais, onde vivem aproximadamente quatro mil pessoas, a região que um dia foi tomada por bananais e vegetação típica da Mata Atlântica, hoje também conta com duas escolas, uma municipal e uma estadual, uma policlínica e uma Vila Criativa, que possui uma quadra poliesportiva e o primeiro cinema público da região dos morros.

Com ar interiorano e vizinhos que se conhecem há décadas, a vila é o lugar preferido de Gláucia. "É muito gostoso morar aqui, o ar puro por conta da altura, a vista linda, a tranquilidade, as pessoas. Hoje não tem tantos 'antigos', mas até os moradores novos a gente vai conhecendo no dia a dia. Meus filhos falam que eu pareço vereadora, porque quando saio na rua, falo com todo mundo", conta a ajudante geral.

Além de puro, o ar da Vila Progresso ainda fica dois graus abaixo da temperatura do restante da Cidade, também em razão da altitude, fazendo do bairro o menos quente de Santos. Foi nesse 'friozinho' que Gláucia criou os três filhos, que agora criam seus seis netos, brincando por onde ela brincou. "Tenho lembranças de me divertir escorregando no morro, do lado que dá para o porto", recorda. Quando o assunto é deixar a vila, a moradora é incisiva. "Não conseguiria morar em outro lugar".