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Transplantada renal relata processo de doação em simpósio realizado em Santos

Publicado: 13 de setembro de 2023 - 15h25

Luigi Di Vaio

Eram 20h30 do dia 23 de maio de 2019. Uma terça-feira de outono. A paulistana Giovanna Fiori preparava um risoto para sua família, quando recebeu uma mensagem de sua médica. E era a mensagem que ela aguardava há muito tempo: sobre um possível doador de órgãos. Para entender a importância deste contato para ela, é preciso voltar ao tempo: a hoje gestora de projetos sociais descobriu, aos 4 anos, que tinha um problema renal.

Giovanna Fiori contou sua história no 3º Simpósio Setembro Verde, Mês de Conscientização da Doação de Órgãos, realizado na manhã desta quarta-feira (13), na Associação Comercial de Santos (ACS). O evento foi promovido pela Secretaria de Saúde de Santos por meio da Seção de Captação de Órgãos e Tecidos (Secapt), em parceria com o Instituto Deixe Vivo.

Giovanna relata que, ao descobrir o problema nos rins, tentou o tratamento convencional para preservar o máximo da função dos dois órgãos. O exame a que ela se submeteu revelou que ela tinha glomeruloesclerose segmentar focal (GESF), doença renal caracterizada por síndrome nefrótica, com frequente progressão para insuficiência renal terminal.

A jovem seguiu a vida à base de remédios para o rim até que, aos 25 anos, se viu muito magra. No resultado de um exame genético, outra má notícia: os dois órgãos estavam com apenas 15% de suas funções. "Praticamente parados". Os caminhos que se apresentavam eram: hemodiálise ou transplante. Foi nessa época, que ela começou a compartilhar sua história nas redes sociais.

"Encarei a hemodiálise como parte da rotina. Ia a uma clínica de segunda a sábado. No domingo, eu dava folga para eles", diz, hoje, com bom humor. Vivendo essa rotina, ela entrou na fila de espera para transplante de órgãos e passou a pesquisar tudo sobre o assunto. As notícias não eram nada boas. A fila já era grande: mais de 30 mil brasileiros esperavam receber um órgão em 2017. Atualmente, o número saltou para 65 mil pessoas aguardando doações de órgãos, sendo que cerca de 60% esperam transplante de rim.

Hoje especialista no tema, Giovanna Fiori informa que a doação de rim pode se dar em vida. "Por parentesco, até o quarto grau. Se for amigo, que são os casos mais raros, o caminho é tentar a via judicial". Sobre a extensão da fila para receber um órgão, Giovanna entende que parte da causa é porque 47% das famílias não autorizam a doação. "Tem muita ideia falsa, como a de que quem doa órgão, não pode ter velório. Ou desconfiam do processo de coleta, além da falta de informação também".

Da descoberta da necessidade de transplante, ela lembra da noite de 23 de maio de 2019. Além da emoção de ter recebido a mensagem, ela soube informações básicas do possível doador. Nesse momento, são revelados sexo, idade e causa da morte. "Do meu possível doador, soube que tinha sofrido um AVC".

Giovanna fez ainda uma última sessão de hemodiálise até que, na tarde do dia seguinte, se viu na mesa de operação, onde ficou por 3h30. O primeiro passo da recuperação foram 15 dias de internação.

INSTITUTO

E como é a vida depois do transplante? No caso dela, os órgãos não foram retirados. Entrou um terceiro rim. "O meu fica aqui na frente", revela ela, apontando a parte acima da cintura. "Tomo supressores a cada 12 horas e um corticóide por dia. Eu nado, faço atividade física e levo uma vida normal". E o dia 23 de maio desde então é especial:  ela comemora preparando um risoto para a família.

A "vida normal" de Giovanna são suas atividades como diretora do Instituto #deixevivo, cujo objetivo é conscientizar sobre a importância da doação de órgãos e tecidos, buscando inspirar pessoas para se declarar doadoras. A ONG também acolhe pacientes renais crônicos, pessoas em lista de espera de transplantes, transplantados e seus familiares.

Mais informações sobre o instituto podem ser encontradas no portal www.deixevivo.org.br e no perfil do instagram @deixevivo. Contatos pelo e-mail contato@deixevivo.org.br.

COMO SE DÁ O PROCESSO

O diretor técnico da Central de Transplantes do Estado de São Paulo (CT), João Luiz Erbs Pessoa, resumiu como se dá o processo de transplante de órgãos: "Identificada a morte encefálica do paciente, a Central Estadual de Transplantes é notificada e insere o doador no cadastro". Até esse momento, explica ele, não é dito se há um doador ou não. "Diz apenas a morte encefálica, e é feita essa notificação. Depois, vem o ponto fundamental: a entrevista familiar para ver se ela aceita ou não a doação do órgão".

Com a família dizendo sim, segue Erbs Pessoa, são realizados vários exames do possível doador a fim de verificar a viabilidade dos órgãos. "Um rim de um hipertenso, por exemplo, não funciona de forma adequada. E queremos transplantar órgãos bons".

Na sequência, são feitos exames laboratoriais, e parte-se para a seleção dos órgãos, verificando quem são os possíveis receptores. "É um sistema informatizado e, a partir desse ranqueamento, a Central de Transplante vai ligando para as equipes responsáveis pelos pacientes, passando as informações do doador". Os casos de recusa se dão quando o receptor não está em condição clínica para transplantar. "Havendo a recusa do primeiro, passa-se para o segundo".

ESTÍMULO À DOAÇÃO

Na abertura do simpósio, o secretário de Saúde de Santos, Adriano Catapreta, destacou a importância das iniciativas para estimular a doação de órgãos e tecidos. "A fila para a espera de órgãos aumenta a cada dia. Sabemos que é um momento muito delicado para as famílias, mas há de se convencer os parentes que aquela pessoa que morreu pode trazer algo de bom para outra pessoa. Queremos Santos como número 1 na questão da doação de órgãos. Vamos lutar para isso".

COMO É EM SANTOS

No Brasil, o transplante de órgãos é financiado integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo considerado um dos melhores sistemas de transplante do mundo. Em Santos, o Secapt, criado pela Prefeitura em 2009, atua na sensibilização da população e profissionais da área de saúde, além de realizar a entrevista com familiares do potencial doador. Mais informações podem ser obtidas no instagram @doe_vida_santos. Dúvidas devem ser encaminhadas para o e-mail secapt.sms@santos.sp.gov.br.

Esta iniciativa contempla o item 3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Saúde de Qualidade. Conheça os outros artigos dos ODS.