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Superação e reinvenção marcam a história de pais santistas

Publicado: 8 de agosto de 2021 - 7h59

KAUANY SILVA 

Dizem que se tornar pai é renascer e se reinventar. Baseado nessas duas palavras que carregam tantas histórias, muitas vezes de superação, apresentamos Marco e Almir, que, após enfrentarem diferentes desafios durante a pandemia da covid-19, estão firmes e fortes no seio de suas respectivas famílias, cheios de motivos para comemorar o Dia dos Pais de 2021.

No dia em que um filho vem ao mundo, um pai vem também. Nessa nova ‘vida’, é preciso aprender a lidar com mais uma função e adaptar o dia a dia de forma com que aquele pequeno ‘pacotinho de amor’ se encaixe perfeitamente. Apesar dos trancos e barrancos, o amor de pai é incondicional. Nos momentos mais difíceis e até mesmo delicados, é nos filhos onde o pensamento se encontra.

Talvez o pensamento de Marco Fabrício Vieira, 45, assessor da CET-Santos, não estivesse nos filhos durante os 30 dias que passou intubado em razão do novo coronavírus na Santa Casa de Santos. Isso porque o coma induzido e a quantidade exorbitante de remédios para mantê-lo vivo e respirando não o permitiam acordar. "Dos 30 dias, eu só lembro dos pesadelos".

Mas agora, se vive um sonho. Superar a intubação pela covid-19 em meio a uma pandemia global que levou milhares de pessoas pode parecer distante demais para ser verdade, mas no caso do Marco, aconteceu. Quase um ano após os médicos estipularem apenas 1% de chances para sobreviver, ele encontra-se no abraço apertado do pequeno Lorenzo, de 6 anos, e da Maria Eduarda, 10.

COMEMORAR A VIDA

"Graças a Deus, eu contei com o apoio da família e dos amigos, que oraram e fizeram muito por mim. Eu sou muito grato por estar passando o primeiro Dia dos Pais, depois disso, comemorando. Porque a vida precisa ser comemorada mesmo, principalmente nessa época de pandemia, em que tantos irmãos e amigos perderam a vida para essa doença ainda tão desconhecida", reflete agora, depois de tomar a primeira dose da vacina contra a doença.

Por causa da internação, Marco passou 40 dias longe da esposa e dos filhos: 30 intubado, dois na UTI e oito fazendo recuperação física, motora e psicológica. Ele perdeu quase 30kg e, quando voltou a recuperar o peso normal, teve problemas na coluna, joelho e pé, pois a musculatura do corpo estava fraca demais para suportar o novo peso. "Tive que fazer fisioterapia por dois meses em casa, para recuperar a parte motora. Eu não tinha mais os movimentos das mãos, não conseguia nem escrever, nada".

As limitações, por um tempo, impediram até mesmo que o pai saísse para brincar e passear com os filhos. As voltas de skate e bicicleta tiveram que esperar quatro meses até Marco estar 100%. Quando pôde voltar a se divertir com as crianças, sentiu aquilo que pode ser descrito em duas palavras e que quase não cabe no peito: "Felicidade intensa. Vai passando um filme na cabeça da gente. Eu olhando e pensando ‘tô aqui’. Você começa a imaginar a vida deles sem você. Eu sei que no começo seria difícil, mas que eles iriam tocar de qualquer forma, porque a família é muito forte".

RECUPERAÇÃO

Agora, ainda fazendo sessões de quiropraxia e cuidando de outras pequenas sequelas do pós covid, Marco vive uma vida normal ao lado da esposa Juliana, dos filhos e dos três pets: um gatinho, uma cadela já idosa e um porquinho-da-índia. Uma família grande e feliz que superou a adversidade e, na superação, encontrou força e estreitou os laços com Deus. No renascimento de Marco, a família Vieira voltou a respirar.

CARA DO CROCHÊ

Ao se ver aposentado e com os planos interrompidos pela pandemia, Almir Nostre, 57, se viu inerte. Durante alguns meses, passou os dias em frente à televisão, vendo séries e filmes, enquanto o filho Eduardo, de 13 anos, jogava videogame e a esposa Nívia fazia crochê. Mal sabia que, meses depois, essa função também seria dele e que ganharia o apelido ‘Cara do crochê’.

Almir era treinador comportamental e, quando tinha um bom tempo de serviço, se aposentou. Ele continuou no ramo por quase um ano, quando a pandemia chegou. Impedido de realizar o trabalho, que gera aglomeração e contato físico, o artesão viu a renda da família baixar. Não suficiente para causar desespero, mas o necessário para que ele começasse a se preocupar com as necessidades do filho.

Enquanto ajudava Nívia na mediação das redes sociais, por onde ela começou a vender bolsas de crochê, Almir percebeu que as encomendas estavam se tornando numerosas demais para apenas duas mãos. "Eu olhei aquilo e pensei: ‘caramba, será que eu consigo ajudá-la de alguma maneira?’. Então eu perguntei para ela ‘como é que eu posso te ajudar? O crochê é difícil?’. Acho que foi aí que virou a chave, porque ela não respondeu que era ou que não era, ela perguntou ‘Você quer aprender?’".

AGULHAS E MALHAS

Ao se ver desafiado por agulhas de diferentes espessuras e rolos de malha sintética, Nostre descobriu uma habilidade que, mais tarde, seria uma das fontes de renda da família. "Eu nunca me imaginei fazendo crochê. Eu poderia imaginar que me tornaria um alpinista, um paraquedista, qualquer coisa, menos um cara que faz crochê". Segundo ele, o filho Eduardo estranhou. "Não pelo fato de ser crochê. Acho que ele estranhou o fato de eu me dedicar muito às peças e isso roubava muito o meu tempo com ele, o tempo que a gente passou a ter durante a pandemia".

Com o passar dos meses e as habilidades de crochetar aprimoradas, Almir aprendeu a dosar as horas entre trabalhar e passar um tempo com o filhão. "Uma bolsa que eu demorava oito horas para fazer, agora levo duas". Com a economia no tempo, as noites de filme de terror com pipoca não tinham motivo para não acontecer. "A gente é muito parceiro. Ele me ensina muita coisa e é mesmo um presente para mim", ressalta Almir.

FILHO ORGULHOSO

"A gente conseguia sobreviver antes, na quarentena, sem um sustento assim. Mas ele pensou em mim, pensou na minha mãe e nessa ajuda. Eu fico orgulhoso do meu pai", disse Eduardo, tímido. Ele conta que o pai é muito liberal e mente aberta, mas que nunca o imaginou crochetando. Mesmo assim, fica feliz diante do sucesso que as bolsas de crochê fazem nas feiras. "Fico feliz de pensar que eles estão vendendo os próprios produtos, ganhando o próprio dinheiro".

Em um ano e meio, Almir deixou de ser só o 'papai' e agora é também o Cara do Crochê, consolidado. E para esse 'cara' o Dia dos Pais será diferente. No almoço deste domingo, ele poderá ser orgulhar por sua figura paterna e pela coragem de se reinventar pensando no melhor para a família. Quando precisou mudar de rumo e seguir por caminhos ainda obscuros, viu no fim daquele túnel uma luz que podemos chamar aqui de Eduardo. 

Fotos: Arquivo Pessoal (Marco) e Isabela Carrari (Almir). 


Confira abaixo o vídeo sobre as duas histórias emocionantes: 

Galeria de Imagens

Marco, sentado em cadeira de roda, ao lado de profissionais de saúde no dia da alta do hospital. #pracegover
Marco passou 40 dias internado.