Parceria transforma resíduos reciclados em pisos sustentáveis em Santos
O que antes era lixo agora pavimenta o futuro. Esta é a proposta da Ecofábrica Zona Noroeste, iniciativa da Secretaria das Prefeituras Regionais (Sepref) que desenvolve pisos drenantes sustentáveis a partir de resíduos reciclados, como plásticos, acrílicos e borrachas. Desde setembro, em parceria com a Universidade São Judas, o projeto mostra que Santos pode ser um verdadeiro laboratório de inovação ambiental, unindo engenharia, economia circular e cidadania.
Os insumos chegam à Ecofábrica por meio do serviço de Cata-Treco e de doações. Depois, passam por duas máquinas trituradoras que processam o material, transformando-o em insumo para a fabricação das peças. Atualmente, a unidade produz 100 peças por semana, o que representa cerca de 400 pisos mensais e um total de 5 mil unidades ao final de um ano.
Cada peça mede 40×40×6 cm e equivale a 64 garrafas plásticas de 500 ml retiradas do meio ambiente. Em um ano de produção, o impacto pode chegar a mais de 330 mil garrafas desviadas de rios, ruas e aterros, reinseridas de forma inteligente na cadeia produtiva.
INTEGRAÇÃO
O projeto abriu espaço para a integração acadêmica. Em setembro, estudantes da Universidade São Judas iniciaram um ciclo de atividades com foco em análises técnicas e propostas de melhorias no processo produtivo. O cronograma incluiu visita técnica, coleta de amostras e ensaios físico-químicos e mecânicos realizados em laboratório ao longo do mês.
"A aproximação com a Prefeitura surgiu do desejo de conectar a formação dos alunos às necessidades reais da cidade. Encontramos na Ecofábrica um espaço fértil para aplicar conhecimento em projetos sustentáveis, como o piso drenante, que une inovação tecnológica e benefícios ambientais”, ressaltou Camila Aguilera, coordenadora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Design, Engenharias e Tecnologia, lembrando da validação da proposta.
"Acreditamos que essa parceria tem potencial de transformar não apenas a experiência acadêmica, mas também o próprio ambiente urbano. Nossa expectativa é validar soluções sustentáveis, ampliar os projetos e consolidar a universidade como um agente ativo na construção de uma cidade mais resiliente e consciente", acrescentou.
PROPOSTAS DE MELHORIAS
Já em outubro, os estudantes se dedicarão à discussão dos resultados e à proposição de melhorias. A etapa final ocorrerá em novembro, com a entrega do relatório técnico e a apresentação dos resultados aos gestores da Ecofábrica, unindo prática acadêmica, ciência e inovação em prol da sustentabilidade.
“A incorporação desse tema ao currículo acadêmico amplia a visão dos alunos, preparando-os para enfrentar os desafios ambientais, atender às exigências do mercado e propor soluções criativas e sustentáveis para a construção civil”, completou Leandro Gomes, professor na graduação dos cursos de engenharia da Universidade São Judas.
O projeto de pisos sustentáveis da Ecofábrica foi desenvolvido com base em normas técnicas reconhecidas. No Brasil, a principal referência é a ABNT NBR 16416, que define os requisitos para o projeto, execução, manutenção e critérios de desempenho dos pavimentos permeáveis de concreto. Outras normas complementares também são aplicadas em diferentes etapas de ensaio e controle de qualidade, como a NBR 9781 (peças de concreto para pavimentação), a NBR 12142 (resistência à tração na flexão) e a NBR 9833 (propriedades do concreto fresco).
Pisos já estão em vários pontos da Cidade
Os pisos drenantes já começam a mudar a paisagem urbana de Santos. Entre os locais que contam com a nova tecnologia estão o Caminho da Ilha Diana, na Área Continental, e o Campo da Zona Noroeste, situado na Rua Gilberto Franco Silva com o Caminho São Jorge, na Caneleira. Além disso, a Praça Verde, na Rua Pedro Paulo Di Giovanni, no Santa Maria, também foi contemplada, reforçando o caráter comunitário e de lazer do projeto.
Outros equipamentos públicos importantes, como a Estação da Cidadania, na Avenida Ana Costa, 340, no Campo Grande, e o Centro de Aprendizagem e Mobilização Profissional e Social (Camps), na Avenida Washington Luís, 2, na Vila Mathias, também receberam.
Com essa aplicação prática, os pisos drenantes deixam de ser apenas uma inovação em laboratório e passam a demonstrar seus benefícios diretos à população, contribuindo para a drenagem urbana, a redução de enchentes e o reaproveitamento de resíduos que antes poluíam o meio ambiente.
“Cada metro quadrado de piso drenante feito com plásticos triturados é uma vitória dupla: menos enchentes nas ruas e menos resíduos nos nossos rios e mares. Estamos mostrando que é possível transformar um problema em solução. O que antes era lixo hoje se torna infraestrutura sustentável, trazendo benefícios reais para a cidade e para o meio ambiente”, concluiu o arquiteto e assessor técnico da Sepref, Alessandro Lopes.
Esta iniciativa contempla o item 9 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU: Indústria, Inovação e Infraestrutura. Conheça os outros artigos dos ODS