Mês do Orgulho LGBT+: Santos celebra diversidade com longevidade e ampla programação

Caterina Montone

Santos, cidade pioneira em ações que acolhem e dão visibilidade à diversidade, carrega também a bagagem de histórias que desafiam o tempo e são divididas por capítulos marcados por sonhos. Terra de quem busca por amor e celebra a identidade, o Município se prepara para receber mais uma edição da Parada do Orgulho LGBT+, com uma programação que, além da festa, valoriza trajetórias marcadas pela resistência — tudo isso em comemoração ao Mês do Orgulho LGBT+ (confira a programação gratuita abaixo).

Entre tantas histórias que compõem esse percurso, duas se destacam nesta primeira matéria: empreendedores que resistiram aos estigmas do tempo e hoje são protagonistas de suas próprias vidas. Pessoas LGBT+ com mais de 60 anos que, além de celebrarem quem são, refletem sobre o orgulho de conduzirem seus próprios negócios — e mostram que envelhecer também pode ser um ato de liberdade, resistência e autoconhecimento.

PROMESSA

Há sete anos, Cléber Garcia, 62, recebeu três diagnósticos que poderiam desmotivar qualquer pessoa, mas não alguém que coloca a fé em primeiro lugar. O câncer de intestino, fígado e pênis foi suficiente para que ele fizesse uma promessa a Nossa Senhora, com algo que já estava em sua mente há muito tempo, após trabalhar como professor e administrador de empresas. “Um dia, após receber essas notícias, pedi que, se me curasse, eu passaria a confeccionar caixas nas cores do seu manto. A venda delas seria destinada à igreja. E assim aconteceu: um mês após minha cirurgia, eu estava curado.”

E a promessa do artesão seguiu firme: hoje, Cléber se dedica ao artesanato com o Madeiras Coloridas, vendendo caixas e mandalas produzidas com amor, história e conhecimento adquiridos em suas viagens e com artistas diversos, utilizando a técnica do pontilhismo e as cores dos sete chacras. O desejo de crescer como empreendedor o levou a procurar o Feito em Santos, uma iniciativa da Prefeitura que capacita e orienta criadores santistas. O Programa já impactou mais de 6 mil empreendedores, movimentou cerca de R$ 4 milhões na economia local e realizou mais de 200 feiras criativas.

“Eu amo o que faço porque crio contatos e ouço histórias durante as feiras em que participo. Mas não é só isso: eu também compartilho curiosidades sobre os equipamentos em que exponho minhas artes para turistas, que representam vivências”, contou Cléber, que será um dos expositores da 3ª DiversaFeira, em 28 de junho (confira mais sobre o evento abaixo). Ele ainda deu um spoiler: “Teremos caixas com a bandeira LGBT+ e ecobags personalizadas dentro delas à venda. Vai ser muito legal e convido todos a nos visitarem.”

Além do lado religioso e empreendedor, Cléber também tem uma vida que, segundo ele, está exposta para quem quiser conhecer. “Eu não me descobri um homem gay, eu sou. Estou casado há 23 anos com a mesma pessoa e, em breve, renovaremos nossos votos. Eu gosto de ser quem sou e, na próxima vida, quero nascer de novo”, brincou o artesão, que se orgulha de sua identidade. E, como ele diz: “Ainda há muitos sonhos para realizar em Santos, minha cidade do coração.”

CORAGEM

A coragem de Márcia Faria para transicionar veio aos 50 anos. Hoje, aos 62, ela relembra a longa jornada de fingir ser quem não era, tentando caber em espaços onde não se via. Na década de 1970, ela conta, o termo "transexual" sequer existia — o que se ouvia, de forma preconceituosa, era “homem vestido de mulher”. O ambiente escolar, então, ficou marcado como um tempo doloroso. “Refleti que a aceitação passa pela conduta própria, pois as pessoas te tratam como você se trata”.

Assim como Cléber, Márcia encontrou na autonomia seu caminho profissional. Há trinta anos atua como oraculista (leitura de tarô) e há quatro tornou-se também terapeuta holística. Seus sonhos, no entanto, continuam vivos — e em movimento. “Tenho muita vontade de desenvolver meu trabalho na terapia, não só para a população LGBT+, mas também com mulheres em situação de vulnerabilidade, uma vez que atuo com restabelecimento da autoestima e do amor próprio”.

Para Márcia, o Dia do Orgulho LGBT+ é uma data de reflexão profunda e diálogo saudável, especialmente quando toca em temas como o etarismo — a discriminação baseada na idade. Com a sabedoria de quem percorreu muitos caminhos, ela compartilha um conselho valioso: “Vivam a vossa essência, se amem e jamais permitam que os outros digam por você quem você é. Esse é um conselho para homens trans e mulheres trans”.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO

A 8ª Parada do Orgulho LGBT+ de Santos tem como tema "Envelhecimentos LGBT+: Memória, Resistência e Futuro" e propõe um olhar atento àqueles que, mesmo com o passar dos anos, seguem vivos em suas cores e em suas lutas. Confira abaixo a programação completa:

- 4º Jogos da Diversidade

15/6 (domingo) – das 14h às 18h

Sesc Santos – Rua Conselheiro Ribas, 136 – Aparecida

Apresentação: Magenta e Ariella

Atrações: Apresentação de ballroom com a House of DDD, da drag queen Carla Dvainer, grupo de dança Fusion Funk, jogos cooperativos e torneio de queimada

- 3ª DiversaFeira – Feira da Diversidade

28/6 (sábado) – das 12h às 20h

Casa da Frontaria Azulejada – Rua do Comércio, 92 – Centro Histórico.

Apresentação: Tchaka Drag Queen e Magenta

Feira criativa com +50 expositores, mesas de debate, ato inter-religioso, shows e batalhas de rima

Mesas

15h às 16h

Encontro regional de Paradas - Baixada Santista

Organizadores das Paradas de Santos, São Vicente, Praia Grande, Itanhaém e Peruíbe (atividade fechada)

16h às 17h

Envelhecimentos LGBT+: Memória, Resistência e Futuro.

Com Milton Crenitte, Diego Felix, Daisy Eastwood e Gretta Star. Mediação: Platão Capurro Filho

- 1ª Conferência dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ da Região Metropolitana da Baixada Santista

28/6 - das 12h às 14h

Casa da Frontaria Azulejada – Rua do Comércio, 92 – Centro Histórico.

- 8ª Parada do Orgulho LGBT+ de Santos

29/06 (domingo) – das 12h às 20h

Início das atividades: Praça José Bonifácio - Palco: Praça Mauá - Centro Histórico.

Percurso com trio elétrico e apresentações artísticas, DJs e dezenas de drags performers.

REALIZAÇÃO

A Parada do Orgulho LGBT+ de Santos é uma realização da APOLGBT-Santos, Associação Paulista dos Amigos da Arte (APAA), Tudo Vira Cult SP e Secretaria de Estado de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC). A 8ª edição conta com o apoio da Orvalho Filmes, DW Contabilidade, Mães pela Diversidade, Instituto Brasileiro de Transmasculinidades - Regional Baixada Santista (Ibrat - BS), Donnas da Rua, Liga Acadêmica Interdisciplinar de Saúde LGBT+ (LAIS), Atlética Siriloco, ESGX, Sesc-Santos, Sabesp e Amstel Vibes. O evento tem ainda apoio institucional da Prefeitura de Santos e Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, além de emenda parlamentar dos vereadores Telma de Souza, Débora Camilo e Chico Nogueira. 

Esta iniciativa contempla o item 10 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Redução das Desigualdades. Conheça os outros artigos dos ODS

Fotos do personagem Cleber: Carlos Nogueira/PMS - Márcia - Arquivo Pessoal