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Mãe santista rema firme contra desafios e vê filhos fazerem história na canoagem

Publicado: 6 de maio de 2025 - 9h28

Thadeu Aguiar

Talento, sorte, determinação e capacidade de superação são alguns dos fatores que formam um “campeão”. No esporte, muitos atletas ainda contam com um importante trunfo para brilhar. São três letras decisivas para deixá-los mais fortes, rápidos e confiantes. Chama-se “mãe”. Em Santos, muitos dos vitoriosos atletas da Fundação Pró-Esporte (Fupes) têm a mãe como aliada em suas carreiras promissoras ou de sucesso. Elas não aparecem nas fotos, mas são o suporte para conduzir os filhos ao lugar mais alto do pódio. Mais do que a presença em treinos e competições, elas são o porto seguro, a inspiração, o incentivo dos esportistas, mesmo diante de tantos desafios e frustrações. Nesta série especial de Dia das Mães, o Santos Portal contará algumas dessas histórias

 

Em seu lar, no bairro Aparecida, em Santos, a servidora Elen Miranda, 48 anos, tem o privilégio de guardar duas históricas medalhas de mundiais de Canoa Havaiana. Explicar a escolha dos filhos Felipe, Rodrigo e Gabriel pela modalidade é fácil.  Desde muito pequenos, eles acompanhavam o pai, Ronaldo, e o avô materno, Mauro, que saíam para remar na Praia do Sangava. Ela ia junto, todos em um barco de alumínio, e logo percebeu o dom dos meninos no mar.  A mãe ainda não tinha se dado conta de que a paixão pelo esporte, o respeito e a coragem eram qualidades dela, uma guerreira que a vida fez questão de mostrar.

Com os filhos crescendo em comunidade, Elen e o marido já tinham decidido criá-los com o esporte. “Direciona para coisas positivas na vida, o atleta ganha disciplina e isso é fundamental para a vida e para a formação de uma família”, diz.

Gabriel, ou Mirandinha, o caçula, praticava natação. Rodrigo, conhecido como Mascote, se aventurava na ginástica artística. O mais velho, Felipe, ainda aos 12 anos, decidiu se matricular em uma escola de caiaque e vela da Prefeitura. A canoa havaiana era um esporte recente e os pais compraram o equipamento para o filho, que se apaixonou, assim como os irmãos mais novos, que abandonaram seus antigos esportes pela canoagem.

'VIRAVA A MADRUGADA FAZENDO DOCE'

As dificuldades encontradas por quem quer seguir no esporte amador são bem conhecidas no Brasil. A canoagem, por exemplo, é um esporte caro, com custos de viagem, transporte de canoa, hospedagem, tempo para adaptação. “Fiz doces por muitos anos, muitas rifas para poder pagar as competições. Virava a madrugada fazendo doce”, conta Elen.

A parceria com o marido Ronaldo Cavalcanti da Silva era fundamental. Ele tinha uma doença renal crônica e ficava limitado para o trabalho. Por conta disso, aprendeu a fazer reparos em embarcações. Até que o dono de uma fábrica o chamou para ajudar e ele fechou uma parceria. Com isso, os meninos passaram a ter equipamentos para as provas.

Ronaldo era o responsável por levar os meninos para o treino. Acompanhou passo a passo a formação dos filhos no esporte, que já mais velhos, dispensavam a presença do pai no treinamento. Mas não adiantava, escondido, “babava” observando o talento do trio. Nos campeonatos, quem ia era a mãe. “Era mais intrometida, no sentido de querer saber onde, o que fazer, qual a importância de cada competição”.

GRANDE E TRISTE REVIRAVOLTA NA FAMÍLIA

Em junho de 2021, a vida da família sofreu uma grande reviravolta. O marido Ronaldo morreu vítima de covid-19, aos 49 anos.  Ela se viu viúva, após quase 30 anos de relacionamento, e sozinha para cuidar dos três filhos: Gabriel com 14, Rodrigo com 17 e Felipe, 22.

A fase foi muito difícil e a continuidade no esporte foi graças ao pessoal da canoa. “Abraçarem eles, foram recebidos com muito carinho, chamavam eles pro mar, para mostrar pro pai o resultado de tudo que foi preparado. Tivemos que enfrentar muitas coisas, mas sempre fizemos o que era melhor para eles”. O filho mais velho acabou trocando o esporte pela faculdade e se tornou web designer, praticando a canoagem apenas por lazer. Rodrigo e Gabriel, atletas da Fundação Pró-Esporte de Santos (Fupes), despontaram rapidamente no cenário nacional e internacional.

ASCENÇÃO SURREAL: AS CONQUISTAS

Elen define como algo surreal. No ano seguinte à morte do pai, em 2022, ‘Rodrigo Mascote’, aos 19 anos, foi campeão brasileiro de canoa havaiana na categoria júnior. De quebra, garantiu classificação e integrou a equipe nacional que conquistou a medalha de prata no Campeonato Mundial da modalidade, em Londres, a primeira da história do País. Hoje, além de atleta, dedica-se como instrutor, difundindo o esporte e ajudando na revelação de novos talentos.

O pequeno Gabriel também começou a despontar e segue como uma das grandes promessas da canoa brasileira. Colecionando títulos nacionais e pan-americanos, se destacou em 2023 no Campeonato Mundial de Va'a, realizado em Samoa, nas Ilhas da Polinésia, na Oceania, terminando entre os seis melhores do mundo na categoria júnior, no V1 (individual). No ano seguinte, conquistou a medalha de bronze no Campeonato Mundial de Sprint VA´A no Havaí, na prova dos 500m da elite júnior V6, outro resultado histórico para o País.

Neste ano, já conquistou o ouro no Campeonato Brasileiro de longa distância V6 (seis pessoas na embarcação) e garantiu vaga  para o Pan-Americano de Va’a 2025, marcado para novembro, em Rapa Nui (Ilha de Páscoa, pertencente ao Chile) e para o Mundial de Va’a 2025, que será realizado em agosto, em Niterói (RJ).

EMOÇÃO E ORGULHO

A mãe, que fica nervosa, grita e ora muito durante a prova dos filhos, e se emociona quando atravessam a linha de chegada na competição, independentemente do resultado é extremamente orgulhosa por ver os filhos conquistando medalhas históricas, por conquistarem os seus sonhos e por ver o futuro traçado para eles com a paixão pelo mar. “Se a canoa havaiana se tornar esporte olímpico, eles têm muitas chances, mas no cenário do esporte nacional e mundial eles já marcaram a história”.

GUERREIRA

Rodrigo Mascote descreve a mãe como guerreira. “Sempre esteve na minha trajetória, me dando suporte e me ajudando a tomar decisões difíceis. Todo caminho que trilhei tive a sorte de ter ela do lado, sempre com confiança nas suas decisões e me inspirando a seguir meus sonhos”, disse o vice-campeão mundial.

O caçula e promissor Mirandinha, agora com 19 anos, lembra de quando os pais o levavam para o mar, da paixão pelo esporte e do encantamento pela canoa. Porém, perdeu o pai antes da primeira competição. “Me marcou profundamente, mas também me deu ainda mais vontade de deixá-lo orgulhoso. Minha mãe sempre esteve ao meu lado e me ajudou a continuar. Sem ela, eu não teria conseguido participar de nenhuma das competições que enfrentei. Ela foi e continua sendo minha maior apoiadora”, diz. 

Esta iniciativa contempla o item 3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Saúde de Qualidade. Conheça os outros artigos dos ODS