Festival leva identidade cultural ao Centro
Caterina Montone
Multicolorido, vibrante e repleto de tradição, o Bonde das Nações partiu da Estação do Valongo na manhã deste sábado (18), dando início a uma das celebrações mais aguardadas do calendário santista: o Festival do Imigrante. Até este domingo (19), a sexta edição do evento levará ao Centro Histórico de Santos uma programação focada na rica herança cultural trazida por imigrantes de diferentes partes do mundo.
Já na chegada do transporte ferroviário, era possível avistar bandeiras e símbolos de diversas nacionalidades, como um ‘spoiler’ do que o público - descendente de raízes multiculturais - encontraria no festival. A cerimônia de abertura, mesmo sob garoa e céu nublado, marcou o início de uma série de apresentações no palco principal, que envolveram os visitantes em uma dança carregada de pertencimento.
A primeira apresentação ficou por conta da banda Querô, do Instituto Arte no Dique, com a voz potente da intérprete Joh Correia, que cantou sucessos brasileiros como ‘O Canto da Cidade’, de Daniela Mercury. “Temos que ter mais orgulho de dizer de onde viemos”, clamava a cantora durante sua performance.
Cantando com todo o coração e usando uma caracterização que atraía olhares de admiração, Isabel Lopes, de 50 anos, já conhecia o Festival do Imigrante de uma edição anterior. Neste ano, além de dançar e se encantar com as atrações, ela desfilou no Bonde das Nações representando a Angola - seu país de origem. A história, além de curiosa, é cheia de orgulho. “Meus pais vieram para o Brasil após a Guerra Civil Angolana, em 1976, quando eu tinha apenas dois anos de idade. Com o passar do tempo, nos apaixonamos pelo País e construímos uma vida aqui. Por isso, solicitei minha naturalização brasileira e hoje vivo o amor pelos dois países. Representar a Angola, hoje, em um festival que vai na contramão da hostilização que vemos contra imigrantes em outros lugares, foi uma mistura de emoções lindas”, declarou Isabel.
Todo esse sentimento vai ao encontro do propósito do evento, como define o secretário municipal de Turismo, Comércio e Empreendedorismo (Setur), Thiago Papa. “É uma festa que representa a celebração e o orgulho de pertencer à sua nacionalidade em Santos, uma Cidade que tem, em seus quase 480 anos de história, essa diversidade cultural. O Festival do Imigrante, além de reforçar identidades, é construído por meio de parcerias e um trabalho engajado em promover um espaço plural e grandioso”.
MÚSICA DIVERSA
Além do Brasil, que abriu o primeiro dia de atrações, o público conferiu danças e músicas típicas de países como Espanha, Itália, França, Grécia e, novamente, o ritmo brasileiro. Entre os destaques, emocionou a performance em cadeira de rodas no estilo Passo Doble, apresentada pelos artistas Ana Patrícia Costa e Valmir Coelho.
A dança flamenca e galega, a performance cigana do Leste Europeu, além da música ao vivo com grupos como a banda Guzella (Itália), o trio Chanson à Trois (França) e toda a brasilidade da cantora Rafa Laranja, conquistaram o público na estreia do evento.
GASTRONOMIA
Além das apresentações artísticas, o público pôde saborear uma grande variedade de pratos típicos em uma praça de alimentação que reuniu sabores da Alemanha, Argentina, Brasil, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Itália, Japão, México, Portugal, além de países africanos e árabes.
No espaço dedicado à culinária italiana, a Società Italiana di Santos apresentou um cardápio especial preparado para esta edição da festa. “Todos os anos trazemos uma novidade. Para o 6º Festival do Imigrante, estamos vendendo o aperol - um drink italiano -, a sfogliatella (doce folhado) e o tagliatelle com molho de tomate. Temos muitos descendentes italianos na Baixada Santista e queremos reforçar esse trabalho de resgate cultural”, afirmou a presidente Márcia Frezza.
Na praça de alimentação, degustando as famosas empanadas argentinas, estava Letícia Asato, de 41 anos, acompanhada do marido Jaime da Silva, de 42, e do pequeno Guilherme, de 6. Diretamente da Ponta da Praia, a fisioterapeuta contou que soube do festival pelas redes sociais e, mesmo com o clima chuvoso, não quis perder o primeiro dia do evento. “Sou descendente de japoneses e meu marido de chineses e indígenas. Ver um festival tão diverso e com um significado tão bonito nos fez querer participar”, explicou Letícia. “Mesmo morando em Santos há dez anos, não conhecíamos muitos pontos da Cidade. Acredito que eventos como esse trazem conhecimento sobre lugares históricos e mostram quantos imigrantes a nossa Cidade abriga”, completou Jaime.
Para enriquecer ainda mais a experiência, oficinas gastronômicas gratuitas foram oferecidas na Estação do Valongo. Chefes e especialistas ensinaram receitas tradicionais como salgados italianos e Pasta alla Norma, quiches francesas e burritos mexicanos, despertando o interesse de visitantes de todas as idades pelas técnicas culinárias e histórias por trás de cada prato.
DIVERSÃO E SOLIDARIEDADE
A programação também contemplou as crianças, com um espaço dedicado a brinquedos infláveis, shows de mágica e oficinas de maquiagem artística, garantindo diversão para toda a família.
A tradicional Xícara Instagramável também marcou presença nos registros dos visitantes. Outro destaque foi a campanha de arrecadação promovida pelo Fundo Social de Solidariedade (FSS), que montou um ponto de coleta de alimentos não perecíveis na recepção do Museu Pelé, mobilizando a comunidade para a ação que destinará os itens para 124 entidades assistenciais em Santos.
ECONOMIA CRIATIVA E HISTÓRIA
Paralelamente, a Feira Feito em Santos Valongo apresentou uma mostra de economia criativa, com trabalhos de artesãos locais. Já a Rota da Cerveja Artesanal ofereceu uma variedade de rótulos para degustação, reforçando o vínculo entre empreendedorismo e lazer.
Ao mesmo tempo, no Arcos do Valongo, ocorria uma nova edição do Festival Gran Bazar, levando arte e cultura ao complexo arquitetônico. À frente do Manu EcoDesign - que cria acessórios sustentáveis com vidro reaproveitado - Valéria Vieira, de 59 anos, se mostrou otimista com as vendas nos dias de festival. “Estou no Feito em Santos Valongo há nove anos e sempre tenho boas surpresas. As pessoas se encantam com a possibilidade de transformar vidros de janela e garrafas em peças bonitas. Tenho certeza de que, neste Festival do Imigrante, os resultados serão, mais uma vez, satisfatórios”.
HISTÓRIA E TURISMO VIVOS
O público também teve a oportunidade de participar de visitas guiadas à Garagem dos Bondes, no Valongo, com muitas descobertas sobre a história da Cidade. Para facilitar o acesso ao festival, uma linha de ônibus especial e gratuita foi disponibilizada, com desembarque na lateral do Museu Pelé (Rua Tuiuti), em parceria com o Visite Santos. Além do transporte e passeios monitorados, a oficina artística de mangá, promovida pelo Mangarts Comic Studio com o artista Altafim, proporcionou à criançada uma viagem imersiva na cultura japonesa.
EVENTO SEGUE NESTE DOMINGO
O 6º Festival do Imigrante continua neste domingo (19), no Centro Histórico de Santos, com atrações para toda a família. A programação inclui música de diversos países, oficinas gastronômicas, feira de economia criativa e espaço kids com atividades lúdicas. Um dia para celebrar a diversidade cultural com arte, sabores e muita diversão. Confira a programação completa aqui (https://www.santos.sp.gov.br/?q=noticia/festival-do-imigrante-agita-o-centro-de-santos-com-danca-musica-e-gastronomia-de-varios-paises)
REALIZAÇÃO
O Festival do Imigrante é uma realização do Centro Espanhol em parceria com a Prefeitura de Santos, por meio da Secretaria de Turismo, Comércio e Empreendedorismo. O evento reafirma a importância da diversidade cultural na história santista, celebrando as raízes que cruzaram os oceanos e ajudaram a construir a identidade da Cidade.
Esta iniciativa contempla o item 4 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Educação de Qualidade. Conheça os outros artigos dos ODS
