Fabricando bondes só com as lembranças
O santista Luiz Casado é um simpático e tranqüilo senhor de 75 anos. Morador do Campo Grande, casado (como seu sobrenome) há 51 anos com dona Nair. Tem uma paixão antiga, talvez tão grande quanto seu amor por ela, pelos dois filhos e os dois netos: os bondes de Santos. 'Desde criança gostava de ver os bondes passarem. Quando fui trabalhar na Cia. Docas, passavam por lá os bondes 19 e 15. Os reboques ficavam parados bem junto à santa do cais, aguardando os trabalhadores embarcarem'. Foi inspirado nessas lembranças e nas imagens que lhe ficaram nítidas na memória, que Luiz, há cerca de dois anos, já aposentado, pegou as ferramentas do seu arsenal de antigo serralheiro e colocou mãos à obra. Produziu em menos de três meses uma maquete com a réplica perfeita de um bonde aberto e mais um reboque, utilizando na maior parte do trabalho materiais colhidos aqui e ali, como pedaços de madeira, arames, pedaços de lata e outros. Minimizando, claro, o natural talento e habilidade para trabalhos manuais, Luiz Casado garante. 'Tirei tudo da memória, do que vi e vivi, não consultei livros, fotos, nada'. Na maquete também estão reproduzidos com riqueza de detalhes, a rede elétrica do bonde, os trilhos, postes iluminados e os cabos de fixação da rede aérea. Para garantir a fidelidade ao modelo original, a réplica do elétrico é da linha 17, que servia o Campo Grande e passava pela Rua Carlos Gomes, a mesma onde reside Luiz Casado. O bonde e o reboque, respectivamente com nove e seis bancos, contam com iluminação, tanto quanto os postes das calçadas. Casado se considera feliz por ver a cidade resgatar a história dos bondes e colocá-los em circulação pelo Centro Histórico. 'É muito bom, já fizemos um passeio por lá, voltamos no tempo', completa a esposa Nair. Sobre o destino que pretende dar à sua 'obra', Luiz tem a intenção de oferecer à prefeitura, 'que pode colocar no seu museu', ou mesmo a escolas, 'porque podem ensinar às crianças e jovens como foi o transporte de antigamente'.