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Especial: nos trilhos da linha 1

Publicado: 26 de agosto de 2005
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A povoação dos dois lados da Avenida Nossa Senhora de Fátima, em direção à divisa com São Vicente, deu origem à Zona Noroeste, que hoje possui cerca de 12 quilômetros de extensão, distribuídos em 12 bairros, com quase 100 mil moradores. A história da região, que no início era um grande manguezal cortado por rios, começa na década de 1920, com a instalação das linhas de bondes da Companhia City. Inicialmente, os carros eram puxados por burro. Depois, eletrificados, circulavam do Largo do Rosário (atual Praça Rui Barbosa) até o Matadouro Municipal (onde hoje está o Sesi, na Avenida Nossa Senhora de Fátima), passando pelo bairro Chinês (atual Valongo, na Avenida São Leopoldo) e pelo Saboó (Cemitério da Filosofia), sempre contornando os morros. Somente mais tarde os trilhos chegaram a São Vicente pela Avenida Antônio Emmerich, cortando bananais e terrenos arenosos. Assim como o transporte coletivo dos dias de hoje, a Cia. City também numerava suas linhas. A que seguia de Santos a São Vicente, passando pelo Matadouro, era a Linha 1, nome que foi dado também a todas as áreas servidas por esses bondes, antes da formação, propriamente dita, dos bairros que margeavam os trilhos. A primeira denominação de Zona Noroeste apareceu num folheto editado pela Prodesan para a inauguração do marco rodoviário Santos-São Vicente, conhecido como monumento dos latões ou tambores. Formada basicamente por chácaras até a primeira metade do século passado, a região começou a ser intensamente ocupada a partir dos anos 50, graças aos migrantes – principalmente nordestinos - que vieram trabalhar nas obras de construção do pólo industrial de Cubatão e também da Via Anchieta. MATADOURO O Matadouro foi o primeiro empreendimento construído na Zona Noroeste. A obra começou no final de 1916 e terminou em 1920. O gado chegava de trem, em vagões da São Paulo Railway (SPR) - mais tarde incorporada à Rede Ferroviária Federal – e seguia para o local de abate por um desvio, na atual Rua Bóris Kauffmann, no Saboó, onde havia um entreposto. Durante o transporte, feito por ruas e avenidas, alguns animais desgarrravam da manada, indo se abrigar em residências. De laços em mãos, como cowboys americanos, os funcionários disparavam a cavalo atrás dos bois fujões. Dez anos depois, o matadouro foi desativado, mas o nome até hoje identifica o local. O fim da era ‘boi na rua’ marcou o início da explosão demográfica na região. Foi nessa época que houve a desativação dos bondes e a remoção dos trilhos para a duplicação da Avenida Nossa Senhora de Fátima, via que se transformou em principal corredor de ônibus. Outro marco da região é o Cemitério da Areia Branca, inaugurado em 1953, pelo então prefeito Antônio Ezequiel Feliciano. O Jardim Botânico Chico Mendes, no Bom Retiro - segunda maior área verde de Santos, perdendo em extensão apenas para os jardins da orla – começou a ser cultivado em 1973, com o nome ainda de Horto Municipal – que na verdade surgiu em 1925, em terreno situado ao lado da Santa Casa. Só passou a ser chamado de Jardim Botânico em 1994. ENGENHO DOS ERASMOS Hoje só restam ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos, localizado na Rua Alan Ciber Pinto, 96, na Vila São Jorge, Zona Noroeste. Considerado a primeira manifestação industrial do país, o engenho do século XVI é um dos três mais antigos do Brasil. Foi construído em 1534 por Martim Afonso de Souza e era chamado, na época, de Engenho do Governador. Em 1540, assumiu o nome atual, ao ser vendido a Erasmos Schetz. No engenho, que funcionou até o século XVIII, eram produzidos açúcar, rapadura e pinga, para exportação. Em 1958, suas ruínas foram doadas à USP, para pesquisas.