Em sala de aula, universo circense ensina para a vida
Aprender geografia, história, matemática, português, ciências, todas as disciplinas do ensino fundamental de um jeito criativo e lúdico, por meio da arte da superação: o circo. É o projeto 'Circolando', realizado pela prefeitura na escola Maria Luiza Alonso Silva, Ponta da Praia, numa proposta de educação prazerosa, democrática e contextual, em que os alunos desenvolvem potencialidades, disciplina, valores e o respeito à diversidade. Iniciado em 2003, cerca de 200 crianças já participaram do projeto, que vem refletindo na qualidade do ensino. Neste ano, 30 alunos do 4º ano C aprendem, dentro do plano de curso, o universo do circo, sua história e cultura. Mais solidários, cooperativos e participativos, aumentam o aprendizado por meio da autoconfiança. Em sala, a professora Débora Barbosa da Piedade, responsável pela iniciativa, trabalhava, nesta quinta-feira (14), entre outras disciplinas, a interpretação de um texto sobre o 'Circo Nerino', nascido em Curitiba, em 1913, e que não existe mais. 'Trabalhamos a escrita e a oral, fazemos a criança pensar. E quando pegamos os diários, vemos as notas subindo. Eles sabem a hora de brincar e de estudar. Além disso, resgatam valores, já que o circo tradicional é formado pela família. Aprendem a trabalhar no coletivo, se ajudam e se respeitam. Tem troca o tempo inteiro', afirma Débora, que neste ano trouxe a dupla de palhaços do circo Stankovich para conversar com os alunos. Superando medos acrobáticos, os estudantes têm mais coragem de errar e acertar. Da mesma forma que a professora estimula a subir na perna-de-pau, também assim o faz quando o desafio é uma conta de matemática. 'Eles vencem o medo e se superam. São resultados a curto e longo prazo. Tive um aluno que ficava no canto da sala, quieto. Numa atividade, quis ser o leão e, desde então, passou a ser mais participativo em sala e com os colegas. A inclusão social é com todos', conta. Em sala, a dupla Gabriel Marques Barros, 9 anos, e Paulo da Costa Teixeira, 10, apresentaram um breve diálogo dos palhaços 'Clown' e 'Excêntrico'. 'O 'Excêntrico' é o mais atrapalhado e não se arruma direito', explica Paulo. Já Gabriel comenta o que aprendeu sobre o 'Nerino'. 'Não sabia que esse circo tinha passado em Santos em 1927. É superlegal participar do projeto'. TRANSFORMAÇÃO Da sala de aula para o pátio, que se transforma em picadeiro. Com perna-de-pau, malabares e bambolês, a trupe 'Circolando' treina para o espetáculo da vida. Uma vez por semana, pratica exercícios e está ensaiando para uma apresentação em outubro, no Complexo Rebouças, com a participação dos alunos do 5º ano A, que integraram o projeto ano passado. A aluna Maria Júlia da Costa, nove anos, se diverte. 'Gosto de ser o palhaço'. O projeto ainda envolve professores de música e educação física da unidade, além dos pais. 'Recebemos doações e contamos com a colaboração das mães, que costuram fantasias', conta Débora. Mãe de Grabriel, a dona-de-casa Janete da Silva Barros, 37 anos, conta que desde que o filho começou a participar do projeto, no início do ano, já notou mudança. 'Ele aprendeu a conviver melhor em grupo e está mais responsável. Até o carinho com a irmã mais velha melhorou e ele pede para ela alugar filmes sobre circo. Eu e meu marido também o ajudamos na lição. A alegria que ele passa contagia todo mundo; está empolgado com o projeto'. PRÊMIO O 'Circolando' foi indicado ao prêmio da Fundação Péter Murányi junto com o projeto 'Vamos viver uma vida saudável alimentando-se bem', realizado na escola Monte Cabrão, área continental. A fundação concede prêmio anualmente à pessoa física ou jurídica, entidade particular ou pública que mais tenha se destacado em projetos de saúde, alimentação, educação ou desenvolvimento científico e tecnológico. Os dois trabalhos da Seduc (Secretaria de Educação) concorrerão com projetos do mundo inteiro e a seleção será em 2009.