Cuidado com a saúde auditiva começa na maternidade
Nos braços da mãe Rosângela Lima dos Anjos, moradora do Campo Grande, o pequeno Pedro, de 19 dias, está aconchegado. Tranqüilo em sua soneca, ele nem imagina que uma equipe está trabalhando para garantir que possa escutar com perfeição todos os sons do mundo. Pedro é uma das crianças que fazem parte do programa 'Saúde Auditiva de Bebês de Risco', que a prefeitura implementou na cidade de forma pioneira há um ano, integrado ao Centro de Referência em Saúde Auditiva, que completa seu terceiro aniversário na sexta-feira (5). Os cuidados começaram assim que o bebê nasceu, na Maternidade Municipal Silvério Fontes, com o exame de emissões otoacústicas, conhecido como 'teste da orelhinha'. Com ele, é verificado se a criança reage de forma adequada aos sons. No exame de Pedro, estava tudo bem. Ainda assim, a equipe da SMS (Secretaria de Saúde) resolveu incluí-lo no programa por uma questão congênita. Um irmão por parte de pai tem deficiência auditiva. Por isso Pedro já saiu da maternidade com consulta agendada no Centro de Referência, onde a mãe participou de um grupo de orientação, com dicas sobre a forma correta de amamentar o bebê e higienizar o ouvido, evitando infecções. O teste da orelhinha foi repetido, e Pedro está 100%. 'Se o irmão dele, na cidade onde nasceu, tivesse tido esse atendimento preventivo, talvez não tivesse problemas auditivos. Estou muito satisfeita, certa de que não vai acontecer nada de sério com meu bebê'. O acompanhamento de Pedro será feito a cada seis meses, até que complete três anos de idade. Tantos cuidados são para garantir que, se algum problema ocorrer ao longo do tempo, ele será diagnosticado precocemente, o que permite evitar e retardar perdas auditivas. Para este grupo, são encaminhados os bebês com fatores de risco, como os que nascerem com menos de 1,5 kg ou têm antecedente familiar. ALTA COMPLEXIDADE O atendimento aos bebês e também aos portadores de múltiplas deficiências torna o Centro de Referência um equipamento de alta complexidade. Desde sua inauguração, em 2005, a unidade já beneficiou um total de 1.072 pacientes com o fornecimento de 1.967 próteses (aparelhos de amplificação sonora). O atendimento se estende como referência para os nove municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista. Nestes três anos, recebeu mais de 1 mil pacientes referenciados. No Centro há espaço adequado e equipe multiprofissional médicos, fonoaudiólogos, enfermeiros, assistente social e psicóloga que dispõe do suporte de aparelhos de alta tecnologia. Norteiam o trabalho a prevenção, diagnóstico precoce e reabilitação. A porta de entrada do sistema são as UBS (Unidades Básicas de Saúde). Qualquer pessoa que perceba dificuldades em escutar deve procurar atendimento na UBS mais próxima de sua casa. Se for o caso, o paciente será encaminhado para o médico otorrino no Ambesp (Ambulatório de Especialidades). Muitas vezes, as dificuldades são resultado de inflamações ou infecções de fácil tratamento. Já em casos mais complexos, ou quando é detectada a possibilidade de perda auditiva, é feito o encaminhamento para o Centro de Referência. Lá, o paciente passa por todos os exames e grupos de atendimento social, que visam verificar se há a necessidade de prótese, qual o tipo adequado e se o paciente está de acordo em usar o aparelho. ACOMPANHAMENTO Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor. Em uma criança, a identificação precoce de qualquer deficiência será decisiva no aproveitamento pedagógico, permitindo o desenvolvimento da linguagem. No adulto - especialmente se for idoso - é fundamental para a segurança em atos cotidianos, como dirigir ou atravessar uma rua. Depois de receber os aparelhos, os pacientes participam de grupos de adaptação, que orientam sobre manuseio e limpeza. Dona Anna Moreira de Carvalho, moradora do Marapé, que recebeu a prótese na semana passada está feliz com o tratamento. 'Minha vida mudou muito, para melhor. Eu estava piorando. Ligava a televisão e só via as imagens. Agora escuto mesmo, não me escapa nada', conta animada, com a jovialidade de seus 80 anos.