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Conferência de aids discute propostas para minimizar o drama da orfandade

Publicado: 12 de outubro de 2003
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Discutir novas propostas de políticas públicas em conjunto com a sociedade, com objetivo de diminuir o impacto que a Aids trouxe para as crianças afetadas pela epidemia, está sendo o principal objetivo da I Conferência Órfãos da Aids, aberta nessa quarta-feira, no Mendes Plaza Hotel, e que tem prosseguimento nesta quinta-feira, com a presença de nomes de destaque do País e convidados internacionais. Ajudar famílias que recebem os órfãos, com um salário mínimo e projetos de geração de renda, entre outras iniciativas, estão entre as propostas levantadas e que devem ser colocadas em documento final. Entre os conferencistas de hoje, às 9h15, está o conselheiro de Proteção à Criança da Unicef de Nova Iorque, Mark Connolly, com o tema ‘Visão Global da Situação: Vulnerabilidade e Orfandade de Crianças pelo HIV/Aids Estratégias de Ação’. A presidente da conferência, psicóloga Regina Lacerda, que integra o quadro da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e da ASPPE – entidade promotora do evento – abriu a conferência, com um apelo à reflexão sobre esse importante tema. O evento atraiu cerca de 300 participantes da região e do restante do País, figurando como presidente de honra a condessa Albina du Boisrouvray, da Associação François Xavier Bagnoud, representada pelo diretor para a América Latina da instituição, Alejandro Haag. Ele deu um painel da situação dramática vivida por cerca de 13 milhões de crianças em todo mundo – especialmente da Ásia e da África – que perderam os pais em razão da pandemia e da estimativa de que no ano de 2010, esse número atingirá mais de 25 milhões de crianças. O trabalho desenvolvido pela Associação, que tem atuação global, tem minimizado os efeitos devastadores em centenas de comunidades, por meio de projetos de geração de renda, que permitem que as famílias que herdam os órfãos possam melhor se estruturar, e ainda no financiamento de tratamento e distribuição de anti-retrovirais, nos locais nos quais não há políticas públicas nesse sentido. Ele defendeu modelos de apoio em que as crianças não sejam institucionalizadas, criando-se meios de manter os órfãos no ambiente da comunidade e da família. Em Uganda, a Associação FXG atende 3.300 órfãos e 1.600 famílias, formando comitês de aldeias para projetos geradores de renda. Agiram também na Índia, onde os órfãos da Aids são principalmente filhos de migrantes, e na América Latina. Alejandro Haag enfatizou que milhares de crianças cujos pais morreram de Aids acabam engrossando o número de vítimas do mercado do sexo infantil, da drogadição, de trabalhos abusivos, tornam-se soldados infantis ou terroristas ou ingressam em outras situações de vulnerabilidade. Ele alertou que o trabalho de prevenção à doença tem sido insuficiente para impedir a disseminação, conclamando a criação de programas de suporte local. As crianças são as maiores vítimas, disse o representante da FXG, lembrando que elas não tem o poder do voto, não sabem articular lobby e não são consumidoras, fatores que desestimulam a tomada de decisões em seu favor. O ENFRETAMENTO NO BRASIL O Brasil vem mantendo a epidemia da Aids sob controle, com estabilização do número de casos da doença (cerca de 277 mil notificações desde o início da epidemia) diminuição sensível da mortalidade, em razão da distribuição dos anti-retrovirais a partir de 1996, e queda expressiva na transmissão vertical (da mãe para o bebê), sendo que em alguns municípios, no qual Santos se inclui, já estão conseguindo zerar a transmissão materno infantil. Esses foram alguns dados comentados pelo representante do Programa Nacional de DEST/Aids, Dráuzio Barreira, que representou Alexandre Grangeiro, do Ministério da Saúde, na conferência. Ele abordou a situação epidemiológica e as principais tendências da epidemia no País (feminilização, interiorização, pauperização e heterosexualização) lembrando que o País ainda enfrenta a difícil tarefa do surgimento de milhares de portadores do HIV por ano, ou seja, as pessoas infectadas e que desconhecem essa situação, já que os primeiros sinais da doença surgem quatro a cinco anos depois. No País, 70% dos municípios já apresentaram pelo menos um caso de Aids, o que significa 3.811 municípios, havendo porém a estabilização de casos em torno de 20 mil por ano. A estimativa do Programa Nacional de Aids é de que cerca de 400 mil pessoas sejam portadoras sem saber, o que dá uma média de 600 mil pessoas com HIV ou Aids, o que representa 6,5 pessoas em cada mil, entre 15 a 49 anos com Aids. Desde o início da epidemia morreram, no País, 138.507 pessoas. OS ÓRFÃOS DE SANTOS A Realidade dos Órfãos da Aids na Cidade de Santos foi o tema da conferência realizada após o almoço, com coordenação da psicóloga Regina Lacerda, diretora técnica da ASPPE, e participação da médica Maria Graciela Morell, da Unifesp. Foi abordada a pesquisa realizada no Município, que apontou estimativa de 605 órfãos, sendo 25% deles duplos (maternos e paternos). Também foi exposta a metodologia utilizada, que incluiu a pesquisa nos prontuários do Craids (de 1995 a 2001), visitas a entidades sociais em situação de orfandade, onde vivem 757 crianças de 7 a 12 anos, sendo que 4% delas (31), são órfãos da Aids. Houve avaliação do número de profissionais que atuam nesses locais e as dificuldades encontradas. Também foram feitas visitas domiciliares e entrevistas sendo essa a parte mais complexa, pela dificuldade em se localizar esses lares e a resistência de famílias em expor os problemas enfrentados, até a situação ética de abordar a doença para crianças que desconheciam, muitas vezes, a verdadeira causa da morte de seus pais. Apenas 50% das famílias que cuidam dos órfãos têm ajuda da previdência, sendo a renda familiar em torno de R$ 318,50. A pesquisa terá uma segunda etapa, para aprofundar esse conhecimento, sobretudo nos lares onde os cuidadores são avós, com muita idade, eles próprios necessitando de proteção e de cuidados. Também há casos de adolescentes órfãos com HIV, envolvidos com drogas, tráfico, gravidez precoce, pela falta de estrutura familiar.