Com filhos vitoriosos e de “aço”, mãe de patinadores leva clima de Copa para prédio em Santos
Thadeu Aguiar
Talento, sorte, determinação e capacidade de superação são alguns dos fatores que formam um “campeão”. No esporte, muitos atletas ainda contam com um importante trunfo para brilhar. São três letras decisivas para deixá-los mais fortes, rápidos e confiantes. Chama-se “mãe”. Em Santos, muitos dos vitoriosos atletas da Fundação Pró-Esporte (Fupes) têm a mãe como aliada em suas carreiras promissoras ou de sucesso. Elas não aparecem nas fotos, mas são o suporte para conduzir os filhos ao lugar mais alto do pódio. Mais do que a presença em treinos e competições, elas são o porto seguro, a inspiração, o incentivo dos esportistas, mesmo diante de tantos desafios e frustrações. Nesta série especial de Dia das Mães, o Santos Portal contará algumas dessas histórias.
Com dois filhos vitoriosos, Erik e Kevin Medziu, patinadores da Fundação Pró-Esporte de Santos (Fupes), Soraya Medziu brinca com a mãe dos iniciantes da modalidade sobre aquela apreensão com uma possível queda. “Eles iniciam de cristal e se tornam de aço”. Ex-praticante do esporte, ela levou a “brincadeira” para a maternidade. A força e serenidade só parecem ficar um pouco de lado quando acompanha a apresentação dos atletas, pela televisão, em ginásios lotados pelo mundo. “Calma? O coração vem parar na boca. O prédio todo sabe quando eles entram para competir, é gritaria maior que em final de Copa do Mundo”, conta.
Erik, muito ligado à arte e à música, ganhou os primeiros patins com dois anos. O equipamento também conquistou Kevin, o mais novo, mesmo com seu talento para o futebol. O dom e o muito frisado pela mãe, técnicos excelentes, todos repetidamente citados, foram decisivos para hoje eles figurarem entre os dez melhores do mundo em suas categorias, com expressivas conquistas internacionais.
“FAZ O TEU MELHOR. SE TEU MELHOR FOR MELHOR QUE O OUTRO, OK. SE NÃO FOR, TREINA MAIS, MAS DIVIRTA-SE”
“Acho que minha principal participação é sempre incentivar, sem cobrar resultados. Sempre falei para eles, vai lá, faz teu melhor e se teu melhor for melhor que o outro, ok. Se não for, treina mais, mas divirta-se”, aconselha.
Com a mãe, os meninos conseguem lidar melhor com as quedas e frustrações. “Fazem parte do esporte e da vida. Quanto mais cedo a criança entender isso, mais fácil será a vida. As dificuldades não viram trauma e drama, apenas desafios a serem superados”, diz.
Os desafios não são poucos e o principal, como na vida da maioria dos esportistas, é o financeiro. Os equipamentos são caros e diferentes, inclusive dependendo da quadra, para cada modalidade da patinação (livre, dança e figuras obrigatórias), além de inscrições para competições fora do País, passagem, hospedagem e assistência técnica.
“A NOSSA VIDA É TRABALHAR PARA PAGAR CONTAS E PATINAÇÃO, MAS FELIZES POR VÊ-LOS BEM ENCAMINHADOS NA VIDA”
Ela ressalta a ajuda de técnicos e importantes apoios. “O resto vem de muita economia, rifas, vaquinhas. A vida da gente hoje é trabalhar para pagar as contas e a patinação. Sem viagens, passeios, mas felizes por saber que os meninos estão bem encaminhados na vida, como atletas e como seres humanos”.
TRAJETÓRIA VITORIOSA
Quem curte esporte já acompanha a trajetória vitoriosa dos irmãos desde pequenos. Neste ano, Erik foi o grande destaque do Brasil na Copa do Mundo de Patinação Artística com a medalha de prata na categoria livre e bronze na dança. Kevin está se recuperando de lesão, em tratamento de fisioterapia.
No ano passado, os dois foram ouro no America Cup 2024, realizado em Orlando (EUA), na Copa do Mundo em Brasília (DF), assim como em anos anteriores, sempre marcando presença no pódio em disputas internacionais e entre os primeiros do ranking mundial.
MEDALHAS EM MUNDIAL FORAM OS MOMENTOS MAIS FELIZES
A mãe descreve como um dos momentos mais felizes quando eles foram bronze no Mundial, competindo no Minigrupo de Show. “Saber que eles estão entre os top 10 do mundo nas modalidades que praticam, as medalhas que conquistam, o Kevin foi bronze no Mundial de Figuras Obrigatórias no ano passado, são emoções que nunca se apagarão.
Infelizmente, a patinação artística foi retirada dos Jogos Olímpicos de Verão, marcando presença apenas nos Jogos de Inverno, no gelo. Mas, se manteve nos Jogos Pan-Americanos. No Chile, em 2023, Erik ganhou os holofotes de todo o Brasil conquistando a medalha de ouro. Um momento especial, em que o País pôde assistir à bela apresentação do patinador.
"PELA TV, NO PAN, EU VI O CADARÇO DO ERIK QUEBRAR. EU JÁ ESTAVA GRITANDO E CHORANDO E ELE RETORNOU TRANQUILAMENTE"
“O Erik é engraçado. Ele não demonstra ansiedade nem nervosismo. No Pan, o cadarço quebrou no meio da apresentação, ele levantou a mão, mostrou o problema e retornou tranquilamente. Eu já estava vendo pela TV, gritando e chorando”, ri. “Fiquei muito orgulhosa dele, ele é um excelente filho, um atleta dedicado e espero que ele sirva de inspiração sempre para outros jovens”.
UNIÃO E ‘BRIGAS’
A mãe sabe que os dois atletas não estarão sempre no ápice, ao mesmo tempo, mas ressalta a união dos irmãos. As brigas são raras, geralmente por “grandes” motivos como um pegar a roupa do outro ou não trazer a bicicleta de volta, conta rindo. “Estão sempre juntos e para mim isso é o que mais importa”.
Logicamente, o sonho de toda família é ver a patinação artística de volta aos Jogos Olímpicos, que é o grande sonho de todo atleta. Mas Soraya afirma que o maior sonho dela é que eles sejam pessoas do bem, um bom exemplo no esporte e na sociedade.
MÃE INCENTIVOU PATINAÇÃO E "FAZ FALTA" NAS COMPETIÇÕES
Erik conta que começou na patinação por conta da mãe, que praticava o esporte. Quando vieram morar em Santos, ela colocou os filhos em uma aula experimental, eles com 8 e 3 anos. “Nos apaixonamos e começamos a competir, pequenos torneios, paulistas até chegar em circuitos internacionais, tudo graças ao esforço dela, com a parte financeira, com o apoio nos treinamentos. Ela fez sempre tudo que estava no seu alcance”. Quando eram menores, a mãe estava do lado dos patinadores em todas as competições. Agora, com as frequentes viagens para o exterior, o custo fica caro. “Muitas viagens ela não consegue nos acompanhar. Faz muito falta. Mas somos muito gratos por tudo”.
Kevin diz que a mãe é a sua maior inspiração no esporte e na vida. "Desde o começo, ela sempre esteve ao meu lado, me incentivando, acreditando em mim e me apoiando em cada treino e competição. Sempre me apoiou sem cobrar nenhum resultado em troca, por isso sou muito grato a ela. Eu só me tornei quem sou hoje por causa dela.
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