Central de Libras de Santos celebra 10 anos promovendo acessibilidade e dignidade
Incluir é garantir que todos possam ser compreendidos, independentemente da forma de comunicação. Esse é o papel da Central de Mediação em Libras de Santos, única na região, que completa 10 anos nesta segunda-feira (22). O serviço realiza, em média, cerca de 80 atendimentos presenciais e remotos por mês, promovendo acessibilidade e fortalecendo o sentimento de pertencimento na Cidade.
Atualmente composta por oito profissionais, a Central atua como ponte entre a população surda e os serviços públicos municipais. Para compreender a dimensão desse trabalho, basta imaginar um atendimento em uma unidade de saúde: relatar sintomas, explicar há quanto tempo eles surgiram e entender orientações médicas que nem sempre são claras apenas por escrito. Para uma pessoa surda, essa barreira de comunicação pode representar um risco - e até levar à negligência - quando não há mediação adequada.
É nesse contexto que a Central se torna essencial para santistas como Manoel Rei, 69 anos. Atendido há oito anos pelo serviço, ele encontrou nos intérpretes o suporte necessário para enfrentar situações cotidianas com mais segurança e autonomia. Com o tempo, o atendimento deixou de ser apenas um serviço e passou a representar uma rede de apoio constante, presente até mesmo nas chamadas de vídeo feitas pelo celular.
“Eles me ajudam muito, desde o primeiro contato até hoje. Quando fiz faculdade, fui isolado e não me ensinavam corretamente. Naquela época, não existia a orientação que há hoje em Santos, e esse trauma acabou me fazendo desistir de estudar. Mesmo assim, continuei buscando o meu lugar na sociedade, e hoje temos esse suporte”, conta Manoel.
Morador do bairro Vila Belmiro, ele vive com a mulher, também surda, e os dois filhos - um surdo e outra com deficiência auditiva, com perda parcial da audição. Sua trajetória é conhecida de perto pelos intérpretes da Central, que o acompanham com cuidado e atenção. “Eles são meus amigos de verdade. Quando preciso, ligo e vão comigo fazer exames, conversar com médicos. Sem esse serviço, tudo ficaria muito mais difícil e até perigoso. Ter essas pessoas comigo faz toda a diferença”, afirma.
REDE DE APOIO
De forma presencial ou remota, a Central realiza atendimentos diários em diferentes frentes: participação em eventos da Prefeitura, capacitações e atendimentos em equipamentos municipais, solicitados tanto por servidores quanto pela população. As demandas chegam por WhatsApp ou e-mail, geralmente sob agendamento. Quando necessário, os atendimentos também ocorrem por chamadas de vídeo.
Vinculada à Coordenadoria de Defesa de Políticas Públicas para a Pessoa com Deficiência (Codep), da Secretaria da Mulher, Cidadania, Diversidade e Direitos Humanos (Semulher), a Central mantém média mensal de 80 atendimentos.
“Nosso principal objetivo é garantir inclusão e acessibilidade, assegurando o direito dessas pessoas de receberem informações corretas, muitas vezes de forma urgente, e de acessarem os serviços públicos. Não é um trabalho fácil, mas é extremamente gratificante”, destaca a intérprete Ana Lúcia dos Santos.

FICOU PARA A HISTÓRIA
Durante a pandemia da covid-19, o papel da Central foi ainda mais decisivo. Por meio de videochamadas, os intérpretes orientaram sobre sintomas, formas de prevenção e a importância do isolamento social. A comunicação pelas redes sociais e WhatsApp também foi fundamental para incentivar pessoas surdas, especialmente com mais de 60 anos, a se vacinarem.
Alguns atendimentos, no entanto, marcaram de forma especial a história do serviço. Entre eles, o acompanhamento de um parto, com a tradução detalhada das orientações médicas à mãe antes, durante e após o nascimento do bebê.
“Também temos um atendido muito especial para nós, que é surdo e, após um acidente, ficou cego. Com ele, realizamos um acompanhamento contínuo, por meio da Libras Tátil, em que os sinais são feitos na palma da mão da pessoa surdocega. É desafiador, mas não podemos hesitar, especialmente quando não há um familiar por perto”, relata o intérprete Fernando Ribeiro.
OLHAR PARA O FUTURO
Ao projetarem os próximos anos da Central, os intérpretes compartilham um desejo em comum: que mais municípios da região implantem serviços semelhantes. “Muitas vezes atendemos pessoas de outras cidades, e a queixa é sempre a mesma: a falta de apoio. Para construir uma sociedade mais justa, a acessibilidade é um passo fundamental”, reflete a intérprete Márcia Pereira.
COMO ACIONAR O SERVIÇO
A Central de Mediação em Libras oferece diferentes canais de atendimento para facilitar o acesso da população surda aos serviços públicos municipais:
WhatsApp: pelos números (13) 99155-2377, (13) 99643-2523 e (13) 99659-6123, por meio de chamadas de vídeo, para atendimentos remotos, das 9h às 17h. O serviço pode ser acionado tanto pelo munícipe surdo quanto por agentes públicos municipais.
E-mail: centraldelibras@santos.sp.gov.br, utilizado para agendamento de consultas médicas, exames clínicos e laboratoriais.
Instagram: @cmml_santos, com divulgação de informações, notícias e conteúdos de relevância e utilidade pública.
Esta iniciativa contempla os itens 3 e 16 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Saúde e Bem-Estar e Paz, Justiça e Instituições Eficazes. Conheça os outros artigos dos ODS.