'Bella storia'! Santos e Itália têm relação de carinho e contribuição mútua
Thadeu Aguiar
Neste final de semana (16 e 17), o Parque Valongo, em Santos, vai se transformar em um pedacinho da Itália. Exatamente em um dos principais pontos de chegada de imigrantes, entre os séculos 16 e 19, a 2ª edição da Festa Italiana busca homenagear a herança deixada pelos “novos moradores”, que participaram da construção da Cidade e do País. Clique aqui e saiba todas as atrações da festa.
Se a deliciosa culinária italiana, com os pratos típicos, das mais diferentes regiões, é a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se pensa nesta relação, não tem problema, afinal, suas massas, risotos e pizzas ganharam o coração dos brasileiros.
IMIGRAÇÃO
Embora algumas centenas de italianos passaram a vir para o Brasil desde 1870, a imigração italiana começou efetivamente em 1882. Deste ano até 1891, chegaram a Santos 202.503 italianos, um número que depois supera um milhão. A vinda de italianos fazia parte de um fluxo migratório contínuo, intensificado após a abolição da escravatura, com o Brasil buscando mão de obra para agricultura, especialmente para o cultivo de café, sendo inclusive estimulados pelo Governo Federal.
TERRA NOSTRA
Aliás, essas cenas dos italianos desembarcando nos nossos portos são bem marcantes e quem quer ver mais como foi em uma obra fictícia, a Globo vai reprisar a novela Terra Nostra a partir de 1º de setembro de 2025. Sucesso em 1999 em diversos países, tem uma história emocionante e um elenco estrelado.
O Porto de Santos foi cenário para o desembarque dos italianos nas cenas da novela. Além dos atores, foram mais de 300 figurantes selecionados, incluindo ingleses, gregos e italianos. A obra foi escrita por Benedito Rui Barbosa, autor de Pantanal e Resnascer.
INFLUÊNCIA NA ARQUITETURA
Se você quiser entender onde começa a influência italiana na cidade de Santos, a resposta é fácil: desde o começo. A Casa Acastelada do Outeiro de Santa Catarina, por exemplo, foi erguida pelo médico italiano João Éboli. Outro exemplo marcante é o edifício da antiga Banca Italiana de Sconto, na Rua XV de Novembro, com suas linhas inspiradas na arquitetura toscana, como o beiral saliente e tijolos aparentes.
O Banco Italiano de Santos, também na Rua XV de Novembro, é outro exemplo, com características que remetem à arquitetura veneziana, assim como o prédio Itália, na Avenida Ana Costa, onde fica a Società Italiana di Santos (Sociedade Italiana de Santos).
ESCULTORES ITALIANOS
É possível mensurar o quanto desfrutamos do talento italiano. A primeira estátua da Cidade, o monumento a Braz Cubas, com 115 anos, foi feita pelo escultor italiano Lorenzo Mazza. Ele confeccionou todas as peças durante dois anos em seu ateliê em Gênova. Ele também inaugurou, em 1922, o monumento a Bartolomeu de Gusmão, uma homenagem ao famoso inventor e padre, conhecido como "Padre Voador", que nasceu na cidade. O monumento fica localizado na Praça Rui Barbosa.
O andarilho monumento dos Pescadores foi idealizado durante a gestão do prefeito Antônio Gomide Ribeiro dos Santos (1941-1945), como uma homenagem à figura icônica do pescador santista, sempre avistado com suas redes de arrasto nas praias. A obra em bronze foi assinada pelo escultor italiano Ricardo Cipicchia. O monumento foi inaugurado em 16 de janeiro de 1943, na ocasião da visita do interventor federal (na época o cargo equivalente ao de governador do Estado de São Paulo) Fernando Costa a Santos. Seu local de origem foi o jardim da orla, defronte ao Instituto Escholástica Rosa. Atualmente, fica próxima ao Ferry Boat, na Ponta da Praia.
No mesmo bairro, no revitalizado espaço que recebeu o nome Praça Duas Rodas, tem uma peça escultural em homenagem aos motociclistas. Trata-se de uma réplica do troféu Real Console Generale D’Italia di San Paolo (Real Cônsul Geral da Itália), conquistado em 1937 pelo piloto santista Luiz Bezzi, campeão brasileiro por sete vezes e vencedor de mais de 140 provas.
OS BONDES
O sucesso da linha turística dos bondes passa também pela Itália. Em 2009, dois veículos foram doados pelos italianos. A boa relação foi marcada, em 1978, quando foi firmada a irmandade com a cidade italiana Trieste. Já no ano passado, na comemoração dos 150 anos de imigração italiana para o Brasil, foi assinado o vínculo de cidades-irmãs entre Santos e Gênova. O bonde turístico localizado na Praça das Bandeiras, no Gonzaga, também ganhou caracterização especial.
SANTOS E GÊNOVA
Histórias e vocações semelhantes concretizaram a assinatura do termo de geminação na Società Italiana di Santos. O acordo permite o intercâmbio e a cooperação entre as cidades para consolidar a amizade e realizar trocas nas áreas cultural, histórica, de turismo, esporte, portos e educação. Uma carta de intenções já havia sido assinada em outubro do ano passado pelo prefeito genovês Marco Bucci e Santos, durante visita de uma delegação santista à Itália.
Em seguida, foi inaugurado o ‘Boulevard Cidade de Gênova’, na Rua Tuyuti, entre o Largo Marquês de Monte Alegre e a Rua Frei Gaspar, no Centro Histórico de Santos. O espaço, completamente revitalizado, conta com fontes, brinquedos, bancos diferenciados, paisagismo, calçadas acessíveis com detalhes arquitetônicos, baias para ônibus de turismo e estacionamento para 15 caminhões.
MURAL ARTÍSTICO
O bulevar conta com o mural artístico ‘Um Mar de Esperança’. O mural foi idealizado pela italiana Giulia Lavinia Lupo, que há 7 anos chegou ao País e se apaixonou por Santos. “Sou da nova geração de italianos imigrantes que chegaram ao Brasil e estar aqui hoje entregando esta obra é emocionante para mim”, diz ela, que fez a curadoria do trabalho. "Escolhemos dois artistas, um de São Paulo e outro de Santos, que conseguiram dialogar de forma boa, resultando nesta belíssima obra”.
O artista e morador de São Paulo (Capital) Apolo Torres ficou encarregado de traduzir em imagens os aspectos da imigração, já a santista Julliana Rosa representou a arte de Santos.
O painel traz uma narrativa da história da imigração. No início da jornada, há uma italiana que saiu de Gênova, representada por uma garota olhando para um navio, ao lado da ‘Lanterna’ de Gênova, símbolo da cidade italiana que tem 77 metros de altura, sendo o farol mais alto do Mediterrâneo.
O painel também mostra a chegada a Santos com malas, ramos de café e pássaros. “Ela sabe que vai viajar para uma nova vida, levando todos os medos, as emoções e esperanças na bagagem. Depois, chega a Santos, sempre com muita esperança, sabendo que muitas coisas boas virão”, explica Giulia.
A ITÁLIA CONHECE BEM ‘O SANTOS’
Uma das grandes façanhas do time de Pelé, o bicampeonato mundial de clubes, teve como um dos protagonistas a forte equipe italiana do Milan. Em 1963, foram necessárias três partidas e o gol do lateral Dalmo, no terceiro jogo, para o Peixe confirmar o título e erguer a taça. O primeiro confronto aconteceu no estádio San Siro, na Itália, e o Santos sofreu um golpe duro, ao ser derrotado por 4 a 2 pelo time da casa. Com o resultado adverso, a equipe santista teria que ganhar o jogo de volta para provocar a terceira partida. Os problemas do jogo de volta começaram antes mesmo do juiz apitar, tendo em vista que o Alvinegro Praiano tinha três desfalques importantes (Calvet, Zito e Pelé).
A partida não começou como planejado e o primeiro tempo terminou 2 a 0 para os italianos. O Santos precisava de algo que iria além das quatro linhas de campo. Os deuses do futebol parecem ter ouvido as preces das quase 200 mil pessoas presentes, e mandaram um sinal: um verdadeiro dilúvio, responsável por encharcar o gramado, tornou o campo em uma arena de batalha. A chuva parece ter trazido inspiração para os jogadores santista, porque em 22 minutos, com dois gols de Pepe, de falta, um de Almir (substituto de Pelé) e um de Lima, o Santos virou o placar para 4 a 2. De uma forma quase inexplicável, forçou o terceiro jogo, que aconteceria dois dias depois.
A GRANDE EMOÇÃO
O Santos foi a campo com o mesmo time da virada. No decorrer da partida, o zagueiro Maldini acertou a cabeça do atacante e acabou cometendo penalidade máxima. Houve um protesto muito grande por parte dos italianos, Maldini acabou expulso. Nesse momento, algo inesperado aconteceu, no meio da confusão, Dalmo confiante, chamou a responsabilidade e pediu a bola para Pepe, que na ausência de Pelé seria o cobrador oficial.
Pepe, sem pestanejar, deixou a decisão nos pés do lateral. Em poucos segundos, o silêncio apreensível dos mais de 120 mil torcedores, se transformou em um grito aliviado de gol. A emoção tomou conta do Maracanã e milhares de pessoas presenciaram a história sendo escrita diante de seus olhos. O Milan até pressionou no final do jogo, porém Gylmar e Mauro comandaram a defesa até o juiz apitar o final da partida.
O Peixe fez muito sucesso na Itália. Em 1960, venceu o Troféu de Giallorosso, diante da Roma em 19861 conquistou o Torneio Itália. Em 1967 faturou o Torneio Triangular de Roma/Florença, mesmo ano onde foi o vencedor da fita azul do futebol brasileiro (11 jogos invictos na Itália), em 1968, Campeão da Recopa Mundial, após vencer a Internazionale de Milão.
TAMBORÉU
Um dos esportes que nasceram em Santos, o tamboréu, é um derivado do tamburello italiano. Ele surgiu por volta de 1937, trazido ao Brasil por imigrantes italianos chamados Danadellis, que jogavam com pandeiros de madeira e couro em praias, sem rede ou quadra.
O esporte foi se desenvolvendo em Santos, com a criação de quadras, redes e regras próprias, tornando-se uma modalidade esportiva com características distintas do tamburello italiano. Atualmente, o tamboréu é praticado em quadras de areia ou saibro, com redes de 1 metro de altura, e pode ser jogado individualmente, em duplas ou quartetos.
SOCIEDADE ITALIANA
Entidade que reúne a colônia italiana e seus descendentes, bem como os brasileiros simpáticos à cultura da Itália. Foi fundada a 22 de agosto de 1897, sob a coordenação do Sr. Paolo Santucci, na Rua do Rosário, nº 106, com a denominação de Società Italiana di Beneficenza, com a finalidade precípua de prestar assistência aos imigrantes da Itália que chegavam ao Brasil, pelo Porto de Santos, e difundir a língua italiana.
Sua primeira sede foi na própria Rua do Rosário, hoje João Pessoa, nº 122. Seu primeiro presidente foi o sr. Silvério Maimone. Mais tarde transferiu-se para sua nova sede, em belo edifício da Rua Eduardo Ferreira nº 79 (hoje ocupado pelo Sindicato dos Estivadores de Santos), na qual teve grande esplendor, com bailes, eventos culturais, festividades típicas e uma excelente escola primária, pela qual passaram muitas personalidades da sociedade santista.
Com o advento da beligerância fascista da Itália, à qual o Brasil declarou guerra, conjuntamente com o Japão e a Alemanha, a 22 de agosto de 1942, todas as entidades que congregavam os súditos desses países foram fechadas e o prédio da Societá Italiana, em Santos, foi entregue à guarda do Consulado da Suíça, como representante dos direitos italianos, até o fim do conflito, a 8 de maio de 1945.
Após a guerra, o incremento da emigração trouxe novas diretrizes e novo calor à coletividade italiano-santista, fazendo com que a sede social necessitasse de ampliação, surgindo, então, o projeto e a construção de uma nova sede na Av. Ana Costa, nº 311 Nos anos 70 e 80 houve grande mudança social e os descendentes italianos foram se nacionalizando, deixando de freqüentar a sede, que já se apresentava superada em suas instalações.
A necessidade de novamente criar novos rumos para a entidade despertou a ideia da construção de uma outra sede, dentro dos padrões e exigências atuais e com a amplitude necessária para garantir um futuro promissor.
O então vice-cônsul da Itália em Santos, Cláudio Capurso, acionou esse projeto, que havia sido gerado em conjunto com o seu antecessor, comendador Paolo Leone, e contando com a valiosa colaboração da diretoria da Società Italiana, presidida pelo sr. Domênico Antônio Di Iório, coadjuvada por todo o quadro associativo, passou a executá-lo, derrubando a antiga sede e dando início, no mesmo local, à construção do Edifício Itália - com nove andares, dos quais seis destinados a conjuntos comerciais e ao próprio Consulado Italiano, e três andares e meio (33,33% de toda a construção) destinados, exclusivamente, à Società Italiana di Santos, compreendendo em suas dependências salões sociais, área administrativa, piscina, sauna, restaurante panorâmico, cozinhas e seus complementos, salas de aulas e zeladoria.
O belo Edifício Itália, construído em curto período, foi inaugurado a 21 de agosto de 1993, com a presença do embaixador italiano no Brasil, Paolo Tariny, do cônsul geral adjunto em São Paulo, Pierfrancesco Sacco, e do cônsul em Santos, Cláudio Capurso. A entidade mantém cursos de Língua e Cultura Italiana para todos os níveis.
CULINÁRIA
Para os fãs de massa, o “Babbo Américo” também ganhou fama por servir um dos melhores couverts de Santos. A entrada sozinha já é um clássico santista. Mas o cardápio segue no mesmo nível e fica até difícil escolher o que pedir. Uma dica: nhoque e a pizza de champignon. Desde 2002, a Cantina di Lucca é uma opção para os fãs da gastronomia italiana em Santos. O atendimento carinhoso faz o match perfeito com a comida – tão boa quanto. Na dúvida, peça uma lasanha e seja feliz. Na sobremesa, aumente a felicidade com um tiramisù. Por fim, mais um clássico santista no quesito comida italiana: Liliana. Há 50 anos em Santos, o menu oferece massas deliciosas e uma versão de fast food também de 'responsa'. O endereço? Av. Washington Luiz, 302, Boqueirão.
Entre as pizzarias, destaque para a Van Gogh, clássico restaurante de Santos é uma referência na área. Ficou famoso por seus recheios generosos na pizza e pelo ótimo atendimento no salão da casa. Fica na Avenida Marechal Floriano Peixoto, 314, Pompeia. E a Pizza Casabona que, pela segunda vez consecutiva, entrou para o ranking 50 Top Pizza, que lista as melhores pizzarias da América Latina. A pizzaria de Santos, especializada em massas de longa fermentação, ocupou a 37ª colocação no ranking Criado em 2017, o 50 Top Pizza é um guia online internacional atualizado todos os anos. Além da América Latina, também há edições com as melhores pizza.