Atletas que marcaram o esporte santista e brasileiro são homenageados em cerimônia póstuma
Ser atleta vai além de simplesmente praticar um esporte. É dedicação, paixão, frustração e realização. Se no passado faltavam investimento e valorização, hoje sabemos que muitos esportistas de alto nível brilharam em sua trajetória, mesmo que sem o devido reconhecimento, deixando um legado com histórias e exemplos. Nesta quarta-feira (4), em homenagem póstuma, Santos destacou quatro atletas que foram um marco em suas modalidades, em cerimônia no Museu Pelé (Valongo).
As homenagens foram alusivas ao Dia do Esportista Amador e direcionadas a nadadora Renata Câmara Agondi, José Maria Passos (handebol), Oswaldo Guerato (vôlei) e Roberto Menna (vôlei). O termo “amador” é subjetivo, pois embora fossem grandes atletas, não era possível se sustentar financeiramente com o esporte. O mais correto seria “desbravador”, já que eles abriram as portas para o sucesso de grandes campeões da atualidade.
EXEMPLO
Um exemplo é a campeã olímpica de águas abertas Ana Marcela que, ainda jovem, mudou-se para Santos para se aprimorar no esporte, justamente a cidade de Renata Agondi, um dos maiores nomes da modalidade. No auge da carreira, em 1988, Renata morreu de forma trágica enfrentando o desafio de atravessar o Canal da Mancha, entre França e Inglaterra. E agora Ana Marcela, em sua trajetória, acumula títulos de competição que leva o nome de Renata Agondi e nada com os cuidados de protocolos rígidos de segurança implementados após a morte da santista.
Em homenagem a Renata Agondi, Ana Marcela já anunciou que vai tentar a travessia do Canal da Mancha em 2026. Este é um dos seus maiores objetivos de carreira e que vem sendo planejado desde há algum tempo.
EMOÇÃO
Durante o evento, realizado pela Secretaria Municipal de Esportes (Semes), a emoção bateu forte com os vídeos, a leitura dos currículos e a entrega de placas às famílias dos homenageados. “Mesmo que esses grandes atletas não estejam ao lado de seus familiares nesta noite, ainda assim estamos em festa por tudo o que eles fizeram pelo esporte santista. O esporte é vida, transforma realidades e afasta males por meio da inspiração que essas pessoas oferecem aos nossos jovens — e que continuarão a levar adiante esse importante legado na nossa história”, disse a vice-prefeita e secretária de Educação, Audrey Kleys.
PASSADO GLORIOSO
“Só podemos vislumbrar um futuro de conquistas se nos inspirarmos em um passado glorioso”, destacou o secretário de Esportes, Rogério Sampaio, que também pode ser considerado um “desbravador”, afinal, conquistou a medalha de ouro olímpica em Barcelona/1992 no judô, em uma época sem investimentos, lutando com um quimono emprestado por um amigo e sem acesso aos melhores equipamentos para treinamento.
“O Dia do Esportista Amador na nossa cidade tem o objetivo de reconhecer aqueles que contribuíram na construção da história esportiva de Santos. Sabemos bem a importância das práticas esportivas em todas as fases da vida e da transformação social que o esporte proporciona. Por meio destes quatro atletas, também lembramos de centenas de outros esportistas que estão na memória dos santistas”, completou Sampaio.
HOMENAGEADOS
Renata Câmara Agondi (08/02/1963 - 23/08/1988)
Foi uma das principais nadadoras nas águas abertas da história brasileira. Começou no esporte aos oito anos de idade e representou a cidade de Santos na década de 80 em clubes como Saldanha da Gama, Internacional de Regatas e Associação Santa Cecília de Esportes. Começou nas maratonas aquáticas em 1983, conquistando o terceiro lugar feminino na Travessia Capri-Napoli, Itália, três anos depois.
No auge de sua carreira, em 23 de agosto de 1988, enfrentou o desafio de atravessar o Canal da Mancha, entre França e Inglaterra. A tentativa terminou de forma trágica com sua morte antes de completar o percurso, fato que levou a implementação de importantes protocolos de segurança. Sua memória permanece viva como símbolo de coragem e pioneirismo no esporte, inspirando livros, documentários e o Troféu Renata Agondi.
Rodolfo Agondi, irmão de Renata, não conteve a emoção ao falar da atleta durante a cerimônia. “Ela fez tanto em vida que chego a imaginar o que mais poderia ter feito se ainda estivesse entre nós. Sempre lembro de algo, que costumo repetir: minha mãe, mesmo com toda a gratidão e humildade, não entendia por que a filha era tão homenageada. Mas nós sabemos que, não importa quantas vezes o nome da Renata for lembrado, será sempre uma grata surpresa.”
José Maria Passos (27/05/1952 - 21/11/2009)
O santista José Maria Passos é, até hoje, referência no handebol. Ele contribuiu para a formação de atletas e o fortalecimento do esporte no País. Como atleta, foi campeão paulista, brasileiro e sul-americano pelo Clube Internacional de Regatas. Formado em Educação Física, atuou como professor, treinador e foi diretor técnico da Federação Paulista de Handebol. O Centro de Desenvolvimento do Handebol Brasileiro, um dos principais polos de treino do País, leva o seu nome como homenagem.
Representando seu legado, a esposa Isabel Passos e a filha Juliana Passos estiveram presentes na cerimônia. “Sinto muito orgulho de estar aqui hoje, porque o esporte era algo que ele amava profundamente. Presenciar essa homenagem, ainda mais na Cidade onde ele nasceu, é uma honra imensa. Só temos a agradecer”, disse Isabel.
Oswaldo Guerato (26/04/1936 - 06/09/2019)
Nascido em São Paulo, mudou para Santos ainda criança, época em que começou a jogar vôlei de praia e, aos 14 anos, ingressou na equipe do Clube Atlético Santista. Fez parte do time do Santos Futebol Clube na fase conhecida como os ‘Anos Dourados’ da modalidade e, durante 35 anos, foi administrador esportivo no Clube Internacional de Regatas. Sua dedicação ao vôlei e aos outros esportes rendeu uma homenagem com a tradicional Copa Oswaldo Guerato de Patinação. Foi reconhecido no Centro de Memória Esportiva De Vaney como um dos grandes nomes do esporte santista.
“Só tenho a agradecer de todo o coração por essa lembrança. Entre as inúmeras qualidades que o Oswaldo possuía, a simplicidade e a gratidão eram as principais. Ele foi uma pessoa de caráter forte, que contribuiu muito para o esporte”, recordou Denise Guerato, com quem o atleta foi casado por 53 anos.
Roberto Menna (20/06/1927 - 01/07/2011)
Paulistano, adotou Santos como sua cidade. Começou a jogar vôlei aos 15 anos, no Clube Atlético Santista. Sua qualidade técnica o levou a ser convocado para a seleção santista. Conquistou títulos regionais, estaduais, nos Jogos Abertos do Interior e no Campeonato Brasileiro de 1948. Como técnico, liderou a equipe da Liga Santista de Voleibol em uma vitoriosa excursão pela Argentina e Uruguai em 1960. Foi fundador da primeira escola de voleibol para iniciantes da Cidade no Clube Internacional de Regatas, que revelou grandes talentos. Considerado um símbolo do esporte santista, seu legado permanece vivo em diversos projetos que ajudou a criar.
O jornalista Eduardo Silva, também presente na cerimônia, relembrou com emoção a trajetória do amigo, ao lado da família de Roberto. “Um jogador fantástico, da época em que se amava o esporte com dor, porque você se dedicava ao extremo e não ganhava nada. Era movido pela paixão de competir, falar sobre o esporte e fazer a cidade ser reconhecida pela modalidade.”
DIA DO ESPORTISTA AMADOR
O Dia do Esportista Amador é celebrado em Santos há 45 anos, quando o prefeito da época, Dr. Paulo Gomes Barbosa, sancionou e promulgou a Lei Municipal nº 4.351, de 17 de setembro de 1980, revogada pela Lei nº 3265 de 2016, sob a gestão do então prefeito Paulo Alexandre Barbosa, passando a fazer parte do Calendário Oficial de Eventos e Datas Comemorativas do Município de Santos.
Esta iniciativa contempla o item 3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Saúde e Bem-Estar. Conheça os outros artigos dos ODS