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Acervo digital de publicações de Santos poderá ser consultado em 2020

Publicado: 2 de setembro de 2019 - 17h34

MARIA ESTELA  GALVÃO

 

A partir de 2020, o acesso digital a jornais, revistas e outras publicações de importância histórica para a Cidade estará disponível para o acesso da população. A novidade será possível devido a um projeto desenvolvido pelo Instituto Histórico e Geográfico de Santos, em parceria com a Hemeroteca Municipal Roldão Mendes Rosa, ligada à Secretaria de Cultura, com a Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio e a Fundação Arquivo e Memória de Santos. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (2), dia em que se completam os 170 anos de lançamento da Revista Commercial, periódico que marca o início da imprensa santista.

Cerca de 50 títulos diferentes de jornais serão digitalizados. Uma tarefa árdua, que começou há três meses com a meta de digitalizar 2 milhões de páginas de jornais e revistas. Segundo Sérgio Willians, jornalista e vice-presidente do Instituto, todo o trabalho está sendo realizado por meio de termos de cooperação técnica. Em junho, após uma pausa com livros, a equipe iniciou o trabalho com periódicos, a partir do acervo da Sociedade Humanitária, que tem mais de 20 títulos de jornais e revistas históricos de Santos. O primeiro a ser escaneado foi a Gazeta Popular, tabloide de mais de mil exemplares, editado na Cidade entre 1931 e 1938.

Em paralelo, no mês de agosto, o instituto começou a digitalizar a famosa Revista Commercial, lançada em Santos no dia 2 de setembro de 1849, pelo médico alemão Guilherme Délius.

 

A digitalização da Revista Commercial termina nesta segunda-feira (2). Agora, o Instituto parte para outras empreitadas, uma delas envolvendo o acervo da Hemeroteca Municipal Roldão Mendes Rosa (Vila Mathias), que tem edições antigas do Diário Oficial, Jornal da Orla, Boqueirão News e outras publicações de relevância histórica.

 

‘’É fundamental ampliar e modernizar o acesso dos nossos acervos à população. As pessoas poderão optar entre ir à hemeroteca, que conta com estrutura preparada para receber os frequentadores, ou fazer a consulta sem sair de casa, muitas vezes economizando tempo precioso para uma pesquisa", afirma o secretário de Cultura, Rafael Leal.

HISTÓRIA

 

A Revista Comercial ‘’é o periódico mais antigo da história de Santos, cuja coleção, com mais de três mil exemplares, é extremamente importante para o conhecimento da sociedade santista no século 19’’, destaca Willians.


A publicação circulava apenas às segundas-feiras. Depois, passou a ser vendida às terças, quintas e sábados. E um detalhe chamava a atenção no periódico: os anúncios. Era por meio de publicidades pagas que as pessoas sabiam sobre fuga de escravos, quem estava viajando (e para onde) e muitas curiosidades como a venda de ‘’bichas importadas’’, propaganda que se referia às sanguessugas, parasitas muito utilizadas no tratamento de problemas na circulação sanguínea no Brasil dos anos 1800.

 

‘’A Cidade não tinha um órgão de imprensa. E a população queria, de alguma forma, falar do cotidiano. A Revista Commercial tinha notícias da Cidade, ações do Município e, em função do Porto, era muito dedicada ao comércio local e exterior’’, explica Willians.

 

Integrante da equipe, o jornalista Silvio Bergamini conta que, inicialmente, o veículo circulava com quatro páginas. Depois, aumentou de tamanho, publicava edições extraordinárias e trabalhava até mesmo com assinaturas (apesar da dificuldade de entregar o periódico). Para ele, cada página digitalizada representa uma volta no tempo. ‘’Havia muita coisa opinativa, mas que é como se você estivesse vivendo aquele dia. Digitalizar faz você se envolver com a história’’.

 

Outros periódicos foram surgindo como o Cidade de Santos e o Diário de Santos. A Revista Commercial ia perdendo público até parar de circular, em 1872. E, assim como ocorreu com vários veículos impressos antigos, uma boa parte do seu acervo se perdeu no tempo, incluindo a primeira edição. A mais antiga é de 1851. 

 

VERBA

 

Para prosseguir na difícil missão, o Instituto Histórico e Geográfico de Santos busca formas de captar verbas para comprar mais digitalizadores e contratar técnicos e operadores. “Estamos aguardando recursos do Ministério Público para potencializar o nosso programa e trabalhando na captação pela Lei de Incentivo à Cultura, a antiga Lei Rouanet, para a digitalização do jornal A Tribuna, que é o título com mais exemplares a serem digitalizados, cerca de 1,5 milhão’’, esclarece Sérgio Willians.

O jornalista frisou que todo o dinheiro utilizado até agora no trabalho é de origem privada. Já passaram pela máquina digitalizadora do Instituto dezenas de obras de Afonso Schmidt, Rui Ribeiro Couto, Martins Fontes, Francisco Martins dos Santos, Alberto Souza, Olao Rodrigues, Costa e Silva Sobrinho, entre tantos outros que se dedicaram à literatura e aos estudos da terra santista. Sem contar obras raras como o Cais de Santos, de Alberto Leal, ou Minhas Poesias, de Xavier da Silveira. |

E, para uma cidade como Santos, diz Willians, a importância de todo esse trabalho é ainda maior. ‘’Numa das cidades mais antigas do Brasil, onde surgiram dezenas de títulos de jornais e revistas, desde o ano de 1849, não havia, até poucos meses atrás, muita coisa para ver do ponto de vista digital. As poucas páginas disponibilizadas desta forma surgiram dos acervos da Biblioteca Nacional e do Arquivo Público do Estado de São Paulo. De um universo de aproximadamente dois milhões de páginas, não há mais do que 10 mil disponíveis’’.

 

BIBLIOTECA NACIONAL

Assim que boa parte do acervo estiver digitalizada, a meta é repassá-la à Fundação Biblioteca Nacional, entidade ligada à Secretaria de Cultura Federal, com sede no Rio de Janeiro.

 

Willians reuniu-se em junho com a presidente da instituição, Helena Severo, quando foi firmado o compromisso de uma parceria da Cidade com o programa Hemeroteca Digital Brasileira, o maior banco de jornais e revistas digitalizados do Brasil e um dos maiores do mundo, com mais de 20 milhões de páginas disponibilizadas.

 

A parceria, conforme explica, é fundamental para desonerar a parte mais dispendiosa do processo, que é a conversão das páginas digitalizadas para a promoção de busca por palavras-chave e a alocação desse repositório digital no servidor. 

‘’Vamos digitalizar tudo, nem que leve 10 anos. E a expectativa é de que, no começo de 2020, a sociedade já possa começar a navegar gratuitamente e acessar as coleções que forem sendo liberadas’’.