Cecoms adotam conceito de convivência familiar
Espaços de convivência comunitária, mas focados no atendimento a toda a família. Este é o conceito que está sendo adotado pela prefeitura nos Cecoms (Centros Comunitários), mantidos pela Seas (Secretaria de Assistência Social). Os equipamentos, que beneficiam diretamente cerca de 800 famílias, totalizando mais de 1.200 pessoas, promovem diversas ações socioeducativas por meio de atividades intergeracionais (entre gerações), incentivando a troca de saberes e potencializando a diversidade cultural. Entre as opções oferecidas, estão cursos e oficinas de artesanato, bordado, crochê, pintura em tecido, costura, alfabetização, culinária, dança de salão, capoeira, caratê, confecção de bijuterias, dança do ventre, teatro, balé e alongamento. Em alguns deles, também existem espaços lúdicos para a criançada, como brinquedotecas, salas de leitura e de jogos. Também há projetos desenvolvidos no conceito de rede, em parceria com ONGs (Organizações não governamentais) e instituições, a exemplo da Oficina de Gestão de Projetos Sociais, em conjunto com o Senac (Cecom Morro do São Bento), e da padaria industrial, com a ONG Pró-Viver (Cecom Mercado). Ao todo, a cidade dispõe de dez Cecoms (ver quadro), que seguem as diretrizes do Suas (Sistema Único de Assistência Social), do Ministério do Desenvolvimento Social, como ação complementar aos Cras (Centros de Referência da Assistência Social). Os Cecoms têm como papel garantir aos munícipes espaços que facilitem a convivência familiar e comunitária, um dos pilares da política de assistência social do país, explica a psicóloga responsável pelos Cecoms, Magali Leite de Freitas. CIRANDA DE SABERES Um dos projetos criados pela Seas com foco no desenvolvimento comunitário é a Ciranda de Saberes, realizada desde maio do ano passado no Cecom Arco-íris (Bom Retiro). A atividade consiste na troca de conhecimentos e habilidades em grupo e já teve 14 edições, somando quase 500 participantes. Técnicas de pintura, artesanato, decoração de chinelos, confecção de pipas, massagem, danças e conserto de guarda-chuva foram alguns dos saberes transmitidos. A experiência da Ciranda de Saberes foi transformadora para a dona de casa Eliange Marques Feitosa, 34 anos. Indicada à atividade por uma operadora social da prefeitura, devido a uma aparente tristeza causada por problemas pessoais, ela passou a ensinar forró e bordado. Esta última técnica havia aprendido na infância, quando era interna da Casa da Criança. Nunca imaginei que poderia ensinar alguém. Depois disso, minha autoestima melhorou e fiz coisas que não me achava capaz. Voltei a estudar e comecei a participar de outros cursos. Outra atividade de destaque em alguns dos centros comunitários é a Terapia Comunitária, método que vem sendo implementado em Santos desde 2006, criado pelo psiquiatra e antropólogo cearense Adalberto Barreto, e tem como base a construção de redes solidárias. PAIS E FILHOS O desenvolvimento de pais e filhos num mesmo espaço já é realidade nos Cecoms da cidade, com exemplos nas unidades Mercado, Morro Santa Maria e São José, respectivamente localizadas nas regiões do Centro Histórico, morros e Zona Noroeste. Nesses locais, muitas mães realizam oficinas e cursos de geração de renda, com a tranquilidade de terem seus filhos por perto também praticando atividades socioeducativas. No Cecom Mercado, Gláucia Paula da Silva Albino, 25 anos, participa das aulas de pintura em tecido, enquanto sua filha Aline Mayara, cinco anos, se diverte na brinquedoteca. Se não tivesse esse espaço para as crianças eu não teria como participar das aulas. Ela pretende que a atividade aprendida se transforme num ganha pão. No começo era um hobby, mas agora já penso em vender as peças que faço. Na mesma unidade, Fabiana Aparecida Lima Bezerra, 24 anos, participa das aulas de bordado em chinelo com pedraria, crochê e pintura em tecido. Após três anos desempregada, hoje ela é uma artesã e obtém renda com o material que aprendeu a produzir. Agora consigo ajudar o meu marido com as despesas de casa. Dois dos seus três filhos, Paulo Roberto, quatro anos, e Pedro Henrique, de apenas sete meses, a acompanham durante as aulas. Assim, posso aprender tranquila. Já no Cecom Morro Santa Maria, a comerciante Gilmara Aparecida dos Santos, 34 anos, aluna de crochê e ponto cruz, tem a unidade como porto seguro para sua filha Sabrina, nove anos. A menina frequenta diariamente a brinquedoteca do local e participa das aulas de dança do ventre e dança de rua, além da oficina Hora do Conto. No Cecom ela aprende muita coisa. É muito melhor do que se ela ficasse em casa ou brincando na rua, diz a mãe. A mesma segurança tem a dona de casa Maria de Lourdes Silva Ferreira, 34 anos, moradora do Rádio Clube, aluna da oficina de costura e pequenos reparos do Cecom São José. A sua filha Danielly Silva, sete anos, participa de várias atividades, como balé e sala de leitura. Minha filha vem quase todos os dias. Fico tranquila ao saber que ela está aqui. Enquanto a filha se diverte, Maria aprende as técnicas, que estão resultando em benefícios emocionais. Para mim a aula serve como terapia. Quando venho para cá, fico mais calma e saio mais leve. COLCHA DE RETALHOS A oficina de costura e pequenos reparos é realizada no Cecom São José (Rádio Clube) desde 2005. Atualmente, cerca de 15 pessoas participam das aulas. Há cerca de um ano, a turma teve contato com o filme Colcha de Retalhos (EUA, 1995), que retrata a história de algumas amigas que, a partir da confecção de uma colcha de retalhos, trazem à tona suas lembranças em emoções, consequentemente reconstruindo suas trajetórias. A partir daí, teve início o projeto Colcha de Retalhos Resgatando História, Costurando Emoções, com a partilha de experiências entre os participantes. Começamos então a colher depoimentos dos alunos, relacionando a costura com as lembranças da infância. Foi trabalhado a atividade não só como uma oficina, mas também como um processo de mudança na vida de cada um, explica a operadora social Andreia Rodrigues. Para o auxiliar de limpeza Valdir Jesus da Cruz, único homem do grupo, as aulas trouxeram à tona boas recordações da sua mãe, falecida há um ano. Hoje, sabe utilizar a máquina de costura deixada por ela e realiza pequenos reparos nas roupas de familiares. Ele destaca o clima de amizade durante a oficina. Aqui não parece um local onde se aprende, porque se é recebido como em uma família. ENDEREÇOS ÁREA CONTINENTAL Cecom Caruara Rua Tamoio, 365, Caruara (tel.: 3268-1405). CENTRO HISTÓRICO/ZONA LESTE Cecom Mercado Praça Iguatemi Martins s/nº, Paquetá (tel.: 3221-8654). ZONA NOROESTE Cecom Arco-íris Rua João Fraccaroli s/nº, Bom Retiro (tel.: 3299-6743). Cecom São José Rua Tenente Durval do Amaral, 366, Rádio Clube (tel.: 3299-8656). Cecom Vila Gilda Av. Brigadeiro Faria Lima s/nº, Radio Clube (tel.: 3299-2203). Cecom Alemoa Marginal Anchieta, 218, Alemoa (tel.: 3203-5258). Cecom São Manoel Rua Professor Francisco Meira, 104 (tel.: 3291-6267). MORROS Cecom Morro da Penha Rua 2, ligação 2435 (tel.: 3296-3522). Cecom Morro do São Bento Rua Antero Loureiro, 76, Vila São Bento (tel.: 3219-1196). Cecom Morro Santa Maria Rua I, 70 (tel.: 3258-6763). * Os Cecoms funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h.