Nas escolas da rede municipal, espaços especiais estimulam a aprendizagem
Aprender de forma prazerosa é uma proposta oferecida todos os dias às crianças das 78 unidades municipais de ensino, todas inseridas na rede de prioridade integral à infância criada pelo programa 'Santos Criança'. Para garantir que assimilem o conteúdo pedagógico com mais facilidade e que gostem de estudar, a rede pública da prefeitura investiu em espaços lúdicos, que estimulam a criatividade. São salas de teatro de fantoches e fantasias, laboratórios de informática, piscinas, hortas, tanques de areia, videotecas, cantinhos da leitura, casa na árvore, brinquedotecas, cozinha experimental, casinhas de bonecas e amplos 'playgrounds' ao ar livre. O dicionário define a palavra lúdico, como 'referente a jogos, brinquedos e divertimento'. Nas escolas municipais tais conceitos ganham vida nos espaços especiais, onde a criançada brinca, canta, dança, interpreta, lê contos e estabelece um contato de respeito com o meio ambiente. É ali que os educadores têm a chance de observar melhor o comportamento dos alunos, e detectar pontos prioritários a serem ensinados, como aprender a dividir ou se relacionar de forma harmoniosa. O trabalho começa bem cedo, nas creches e escolas de educação infantil. Pedro Henrique Moreira, três anos, é um dos que aproveita. Brincando no tanque da areia, sai contando: 'Gosto de brincar com o baldinho, colocar a mão. A areia é fofinha'. Ele ainda não faz a menor idéia, mas por trás da simples brincadeira, além do contato tão saudável com a terra, a equipe da escola Olívia Fernandes, no Embaré, está estimulando a musculatura de suas mãozinhas para garantir a força e segurança necessárias nos primeiros movimentos com o lápis. COOPERAÇÃO Na mesma área de recreação, Larissa Rodrigues Teodoro, cinco anos, aproveita a casa de bonecas, uma das atrações prediletas da garotada. No meio dos brinquedos, escolhe o preferido para sair na foto. 'Gosto mesmo desse fogão rosa. Brinco de casinha, preparo as comidas igualzinho minha mãe'. O espaço, por remeter a uma situação do lar, permite aos professores interagir com as crianças sobre a importância de cuidar de seus próprios brinquedos e cooperar com a família nos afazeres da casa. Maria Eduarda Madureira, sete anos, desfruta dos benefícios físicos, pedagógicos e psicológicos propiciados no contato com a água. De acordo com os educadores, com as atividades na piscina, os alunos se tranqüilizam e trabalham aspectos relativos à segurança, equilíbrio, força muscular, respiração e sociabilidade. MÃO NA MASSA O estímulo para que as crianças aprendam através de múltiplas linguagens, incentivando todas suas potencialidades, também faz parte do cotidiano da escola municipal Cely de Moura Negrini, na Zona Noroeste. Que tal trocar lousa e caderno por ingredientes de uma saborosa receita na hora de aprender pesos e medidas? É neste ritmo que seguem as aulas na cozinha experimental instalada na unidade há três anos, dentro de um projeto-piloto da Seduc (Secretaria de Educação). Na cozinha, os alunos inovam e aprendem colocando a mão na massa. De forma prazerosa, trabalham os sentidos, como o tato, olfato e paladar, fixando de forma mais eficaz o conteúdo. Outro destaque é que as crianças passam a perceber a função social da linguagem oral e escrita. Pelo exemplo, constatam que a educação é fundamental até mesmo nos simples afazeres cotidianos, como no preparo da comida. As crianças provam e aprovam. 'Gosto mais de aprender aqui. É diferente e depois lanchamos coisas gostosas', conta Thatiely Martins, seis anos. A opinião é compartilhada por Michel Simões da Silva, da mesma idade. 'Aprendi um monte de coisas brincando'. As professoras trabalham as receitas aliando aos temas abordados em sala de aula. Na Páscoa, por exemplo, fizeram 'fondue' de chocolate com frutas. No 'Dia do Índio', tapioca. E aproveitaram a 'Semana do Folclore', em agosto, para ensinar a paçoca. Durante o tempo inteiro são respeitadas as restrições alimentares dos alunos, como no caso de crianças que devem ter ingestão controlada de açúcar. Neste caso, as professoras ensinam a utilização de produtos 'diet' e aproveitam a chance para trabalhar com os alunos o respeito às diferenças. Os resultados são sentidos na hora da merenda. Nesta escola, dentro do conceito implementado pela prefeitura de 'Alimentação Nota 10', os próprios alunos montam seus pratos, num balcão 'self-service'. Agora, frutas, verduras e legumes já caíram no gosto da garotada. COMUNIDADE Para estimular ainda mais, a exemplo de outras escolas municipais, a Cely de Moura está ganhando uma horta. Os alunos estão cuidando do plantio. A horta já conta com couve, cebolinha, louro, capim-cidrão e tomate. A escola também estende sua estrutura aos pais de alunos e comunidade, com cursos regulares na cozinha experimental, possibilitando, inclusive, geração de renda. Em outra sala, crianças participam do laboratório de informática, quando reforçam lições de alfabetização e ciências. Os joguinhos ensinam, também, atitudes de cidadania, como o combate à dengue. 'Aprendi a soletrar as letras e formar as palavras', diz Jamile Vitória da Silva, seis anos, que de forma animada indicava aos colegas as letras para completar a palavra 'leão' na tela do computador. Pedro Henrique Nascimento, cinco anos, também aproveitou. 'Aqui é mais divertido do que na sala, porque aprendo a ler com os jogos'. NATUREZA Na área continental, os mais de 140 alunos da escola Noel Gomes Ferreira, inaugurada este ano, desfrutam de muito espaço. O colorido dos brinquedos enfeita a área ao ar livre, que mais parece um sítio, contemplando a vocação ecológica de Caruara. No parque, Isabelle Ribeiro Nascimento, dois anos, se encanta com o balanço. Na sala de artes, outra turma se diverte com pincéis e tinta em mãos. Diego França Barbosa, três anos, é um dos mais entusiasmados, e na brinquedoteca aponta as muitas opções: 'Martelo, carrinho. Gosto de tudo, tudo'. Enquanto isso, outra turma se prepara para assistir a filmes na videoteca. Um mundo de magia se revela na sala de leitura. Com a orientação dos professores, as crianças ouvem contos e têm liberdade para criar suas histórias. Yasmim da Silva Barros, quatro anos, escolhe rapidamente uma fantasia, um vestido brilhante. Mais do que depressa, Joseph da Silva Rocha, mesma idade, faz sua opção: 'Eu quero a roupa do príncipe, porque ele é bonzinho'. Fantasiados, eles cantam, dançam, interagem e se divertem. São princesas, príncipes, heróis, protagonistas de suas próprias histórias. Dos contos de fada, ficam com a lição de que a escola é capaz de construir todos os dias um final feliz.