Passeio de bonde mostra patrimônio histórico na área central
Parada Buck Jones na Praça Mauá. É acionado o tímpano - uma espécie de buzina – que avisa a saída do bonde rumo ao seu itinerário. Trajados de calça, paletó e um quepe na cor cáqui, o motorneiro conduz o veículo, enquanto o cobrador, em acrobacias pelo estribo, arrecada o pagamento do bilhete. Se a cena remete a um passado distante, em Santos é o cotidiano da atração mais procurada do Centro Histórico: o passeio de bonde, que em janeiro teve a média de 470 passageiros por dia.
É uma viagem no tempo, começando pela originalidade dos cinco bondes totalmente restaurados. São 45 minutos de passeio por cenários com vestígios da história, hoje transformados em patrimônio.
Segundo a historiadora e guia da Setur (Secretaria de Turismo), Maria Leopoldina do Patrocínio e Silva, “preservar os patrimônios é garantir o acesso à memória e observá-los é a oportunidade de nos conhecer e reconhecer os outros, além de fortalecer a noção de cidadania”.
Dos 23 patrimônios ao longo do roteiro de 5 km, a Bolsa Oficial de Café é o primeiro a ser admirado. Na Rua do Comércio - palco de gravações de novelas e minisséries - o bonde passa em frente ao bulevar da Rua XV de Novembro, onde ao fundo está o prédio da Bolsa, de arquitetura eclética, de 1922. É o símbolo do período de prosperidade onde Santos era a maior praça cafeeira do mundo.
Na mesma rua, o casario de estilo neoclássico chama atenção pelos detalhes dos azulejos portugueses nas cores azul e amarelo, em alto relevo. Feitos à mão, enfeitam a Casa da Frontaria Azulejada, construída em 1856 pelo comendador e comerciante de café Manoel Joaquim Ferreira Netto, e que serviu de hotel, escritório e estoque de materiais.
Em outro ponto do trajeto, no Largo Marquês de Monte Alegre, desponta o amarelo da antiga Estação São Paulo Railway, atual sede da Setur. A torre do relógio ladeada por dois leões, que simboliza o poder inglês de 1867, expressa a importância da estação. No bairro fica também o Santuário Santo Antônio do Valongo e onde será construído o Museu Pelé.
Paradas - Em frente a uma casa em formato de castelo os passageiros desembarcam para visitar o Outeiro de Santa Catarina, marco de fundação da cidade, onde funciona a Fams (Fundação Arquivo e Memória de Santos), que abriga o acervo documental e iconográfico de Santos.
Já no Palácio Saturnino de Brito, sede da Sabesp, fica o grande vitral de Conrad Sorgenith, que introduziu a arte de vitrais no Brasil, e objetos curiosos usados por Saturnino, o pioneiro da engenharia sanitária e ambiental do Brasil.
Antes da parada final, o bondinho passa ao lado do Palácio José Bonifácio, sede do Poder Executivo de Santos, na Praça Mauá, que desperta curiosidade pela imponência do prédio em estilo eclético e com linhas clássicas que demonstravam o conceito grego de democracia.
Em visita ao Brasil, Valter Santana que vive em São Francisco (Estados Unidos), seguiu o conselho do pai, fez o passeio e não se arrependeu. “O patrimônio é a história e o passeio nos leva a vivenciar isso”. A gaúcha Rejane Lehugur ficou impressionada com a preservação da arquitetura. “São a parte mais importante de uma cidade porque revelam sua história”.
O bonde percorre mais de 40 pontos de interesse turístico, com monitoria de um guia de turismo.