Pelo quinto ano, Santos realiza simpósio sobre doação de órgãos e tecidos
Sensibilizar, capacitar e incentivar os profissionais da saúde sobre a importãncia da doação de órgãos. Este foi o objetivo do 5º Simpósio Setembro Verde, realizado nesta quinta (11), com a presença de referências desse segmento da área da saúde. Organizado pela Seção de Captação de Órgãos e Tecidos (Secapt), da Secretaria Municipal de Saúde, o evento foi realizado na Associação Comercial de Santos (Rua XV de Novembro, 137), com o apoio da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Os profissionais convidados se apresentaram individualmente, discorrendo sobre o tema, expondo números e detalhando os processos de doação, seja de córnea, tecidos ou órgãos. Além de contextualizar os pontos de melhora e comparar os dados de anos anteriores com os atuais. “É muito importante quando temos alusão a um mês ou um determinado dia que haja uma política pública. É fundamental que a sociedade reflita, que a imprensa faça cobertura em relação a essas datas. Neste Setembro Verde, conseguiremos trabalhar a campanha de doação de órgãos: não é um tema fácil por ser oriundo de óbitos, entretanto, do outro lado temos a salvação de vidas”, apontou o secretário municipal de Saúde, Fábio Lopez.
O secretário destacou também estar em estudo a disponibilização de um veículo exclusivo para uso da Secapt a partir do próximo ano, que auxiliará no transporte dos órgãos e tecidos coletados e no transporte de funcionários que atuam nas ações de conscientização, tornando os serviços do setor mais eficientes e seguros.
PLANEJAMENTO ESTADUAL
Arnaldo Sala, médico da Central Estadual de Transplantes, apresentou os gráficos do Plano Estadual de Doação e Transplantes, de 2025 até 2028. O plano busca ampliar os processos de doação de pacientes com morte encefálica, com aumento do número de transplantes de órgãos sólidos e de tecido ocular. O plano conta com 5 diretrizes: financiamento dos ações; gestão do SUS; formação de profissionais; serviços de apoio à doação e comunicação com familiares e a população em geral.
O médico destacou os três primeiros tópicos, detalhando financiamento das operações e procedimentos, as gestões do Sistema Único de Saúde (SUS) e seu rendimento e retorno com a captação dos órgãos. Para a formação dos profissionais, foi oferecido um curso à distância de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes. “Não vemos uma atuação das secretarias municipais de saúde colaborando no processo de identificação e viabilização de doadores, e aqui em Santos é uma exceção. Precisamos divulgar o trabalho de vocês, porque é importante que outras cidades abracem essa iniciativa, e é um prazer ver o secretário Fábio Lopez dando este apoio e recursos e estrutura ao Secapt”, pontuou Dr Arnaldo.
LISTA DE ESPERA
Edjane Apolinário, coordenadora de enfermagem da Organização de Procura de Órgãos da Escola Paulista de Medicina, apresentou dados de pacientes que aguardam seus transplantes e destacou a necessidade da melhora nos números de doadores. A enfermeira explicou os tipos de doadores e doações, como órgãos duplos — pulmão, rim ou até mesmo um pedaço do fígado —, que podem ser doados com o paciente em vida.
Ela apresentou as etapas do processo de doação. A identificação do paciente deve ser realizada o mais breve possível, realizar o protocolo de morte encefálica, comunicar o potencial doador à Central Estadual de Transplante, avaliá-lo e logo em seguida a manutenção do corpo. “Todo paciente suspeito de morte encefálica é um possível doador. Estes pacientes estão acompanhados de respiradores, então, onde temos unidades de terapia intensiva com respiradores, temos potenciais doadores. Além disso, todos são potenciais doadores, mas nem todo mundo pode doar. A avaliação de saúde do paciente deve garantir que ele esteja livre de condições como doenças crônicas ou infecções como HIV”, explicou.
COMUNICAÇÃO E HUMANIZAÇÃO
“Humanização é tornar humano. O profissional a receber a família precisa desse acolhimento. É o que as pessoas esperam da gente quando entram no hospital”, apontou o enfermeiro Edvaldo Leal, coordenador de enfermagem da Organização de Procura de Órgãos do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os profissionais têm um papel vital no acolhimento da família do potencial doador. O diagnóstico e o tempo curto exigem um trabalho ágil para o processo de doação, e os profissionais de saúde devem manter a relação de empatia e paciência com os familiares para garantir além da legibilidade da doação dos órgãos, o amparo aos parentes. Os funcionários precisam manter a postura de equilíbrio por serem referências no ambiente hospitalar. O desenvolvimento do tratamento e a inteligência emocional foram os principais pontos destacados,pois a doação de órgãos é consequência da relação terapêutica. É importante não insistir na mudança de opinião da pessoa, manter o respeito, saber acudir o luto e se colocar no lugar dela.
INSTITUTO DEIXE VIVO
Giovanna Fiori, presidente do Instituto Deixe Vivo, transplantada, contou o papel fundamental do instituto no trabalho dos profissionais da saúde, com a criação de conteúdos de conscientização em mídia e redes sociais. Cerca de 1,7 mil pessoas foram atendidas em ações de saúde, além de 570 pessoas impactadas em palestras e 5,4 mil pessoas impactadas em eventos comemorativos — como Natal, Páscoa, etc —, e 50 crianças em hemodiálise também foram amparadas pelo instituto.
Atualmente, o instituto busca ampliar as ações de sensibilização e conscientização com as oficinas, formações e eventos que disseminam conhecimento técnico e sensível sobre doação de órgãos. “Nosso trabalho é fruto das nossas experiências. Nós como pacientes transplantados entendemos como quem está na fila de espera se sente, e trabalhamos para isso”, conclui Olga Schekiera, coordenadora do Instituto Deixe Vivo.
O 5º Simpósio Setembro Verde teve ainda a apresentação de trabalhos de iniciação científica de dois grupos de alunos de fonoaudiologia do Centro Universitário Lusíada, que abordam a doação de órgãos.
RECONHECIMENTO
No Brasil, o transplante de órgãos é financiado integralmente pelo SUS, considerado um dos melhores sistemas de transplante do mundo. E, para sensibilizar a população e profissionais da saúde sobre o procedimento, Santos conta com a Secapt, criada pela Prefeitura em 2009 e que, desde a sua criação, vem realizando entrevistas com familiares de possíveis doadores.
Com isso, a Cidade ficou conhecida como Amiga dos Transplantes, sendo a única do País com uma seção própria voltada à captação de órgãos e tecidos nos serviços municipais de saúde e vinculada a uma Secretaria de Saúde. Nos outros municípios brasileiros que contam com esse serviço, a captação é subordinada a hospitais.
Esta iniciativa contempla o item 3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Saúde e Bem-Estar. Conheça os outros artigos dos ODS