Em ano especial, capoeira de Santos dá show com domínio total e título dos Jogos Regionais
Thadeu Aguiar
Em um ano especial da capoeira, em Santos, a equipe da Fundação Pró-Esporte (Fupes) brilhou neste sábado (12), com dois troféus de campeão (masculino e feminino) na 67ª edição dos Jogos Regionais, disputada em São Bernardo do Campo. Mais que os títulos, a seleção santista teve 100% de aproveitamento, com medalhas de ouro nas oito categorias em disputa e garantia de força total nos Jogos Abertos do Interior. Neste primeiro dia, a Cidade ainda ficou com o título no biribol.
Assistindo o desempenho dos capoeiristas santistas, o supervisor técnico da Fupes, Roberto Teles de Oliveira, o Mestre Sombra, é um dos motivos do ano histórico, afinal, sua academia de capoeira Senzala, responsável pela formação de várias gerações de professores e mestres, completou 50 anos. Ele é referência na disseminação da capoeira no Brasil e no mundo e foi bastante prestigiado na competição em São Bernardo por praticantes de outras cidades. Vale lembrar que o mestre participou ativamente da introdução da modalidade nos Jogos Abertos, em 1987.
Neste ano, a capoeira santista, reconhecida como patrimônio cultural imaterial, ganhou um espaço exclusivo para sua prática, no Novo Quebra-Mar, na orla da Praia do José Menino. A inauguração teve a presença do próprio Mestre Sombra, responsável por uma das linhagens da capoeira em Santos, em meados de 1960, assim como Mestre Bandeira (Luiz Sandro Barbosa). Agora, os capoeiristas tem seu lugar.
Discípulo do mestre Sombra, o técnico Ricardo Santos é o responsável pelo treinamento da seleção santista, que vem marcando presença no pódio em todos os jogos dos últimos anos. Em 2024, foi campeã no feminino e vice no masculino nos Regionais em São Caetano. Já nos Abertos, em São José do Rio Preto, título no masculino e vice no feminino.
Ele, que também é competidor e faturou mais um ouro neste ano, realiza seletivas todos os anos para formação democrática da seleção de capoeira. Os praticantes são de diferentes associações, mas o que se vê é uma grande e alegre família. “Parabenizo a todos pelo esforço, dedicação e persistência. O esforço vence o talento. Somos uma família onde todos se ajudam, ontem tivemos atletas precisando correr para perder peso e outros foram acompanhá-lo. Hoje todos foram campeões”.
O técnico da Fupes enfatizou a importância do Mestre Sombra, ao lado dos atletas. “Nos orienta, apoia, dá suporte com sua experiência e tranquilidade, que nos acalma e nos conforta. A medalha é muito importante, mas tê-lo como mestre é muito mais”.
Ele ainda confessa que sentia o peso de se dedicar ainda mais para poder dar os títulos de presente para o mestre. “Conseguir fazer uma associação completar 50 anos não é para qualquer pessoa”, disse o capoeirista que dá aulas na Senzala.
Quando o técnico fala em família na seleção de capoeira, um dos exemplos é Valter Ricardo Spolaor, que subiu no pódio nas últimas três edições dos Jogos, mas neste ano está se recuperando de lesão e não competiu. “Estou aqui para apoiar os mais novos. Posso ajudar quem disputa em meu lugar até com dicas sobre os adversários”, disse.
MENINAS CAMPEÃS
No peso leve feminino, Thaissa Gomes de Oliveira faturou o tricampeonato dos Jogos Regionais. Mesmo assim, diz que a ansiedade e a alegria são as mesmas do primeiro título. “Com muito treino, deu tudo certo”, disse a capoeirista.
No meio médio, Sara Pereira de Souza foi bicampeã dos Regionais em sua segunda participação por Santos. Agora, o foco é no título dos Abertos, que foi prata em 2024. “Dá sempre aquele frio na barriga. Mas agora é foco nos Abertos, que é ainda mais difícil, pois conta com os melhores do todo o Estado”.
Daniele Andrade Santos se emocionou ao receber a medalha de ouro na categoria meio-pesado. Em 2024, ela ficou com a prata. “Trabalhei muito, a sensação é de dever cumprido. Saio vitoriosa, mas o mérito é de toda equipe. Capoeira é minha vida desde meus oito anos. Agradeço meu mestre Gildasio, ao técnico Ricardo e ao Mestre Sombra.
Na categoria pesado, Janaina Bispo Celestino comemorava inicialmente a grande evolução. Ela foi quarto lugar por dois anos e agora, sendo ela, teria ficado com a prata. Só deu mais emoção na hora do anúncio e felicidade pelo objetivo alcançado. Aos 42 anos, ela pratica capoeira há 25 e compete há cinco anos e também dedicou a medalha ao Mestre Sombra.
MASCULINO TAMBÉM DOMINA
No masculino, Antônio Carlos Almeida Filho, após três anos na equipe, realizou sua primeira participação na disputa e não poderia começar da melhor forma. “Fiquei muito nervoso, é muita responsabilidade representar uma cidade como Santos, tão tradicional na capoeira, é muito bom estar vivendo este momento com eles”.
Vencedor dos Jogos Abertos em 2024, Lucas Pereira dos Santos já mostrou que mantém o ótimo nível nesta temporada. Vencedor na categoria meio-médio, ele afirmou que a competição não foi fácil, mas era necessário trazer o ouro, fazendo referência ao Mestre Sombra. “Mas o presente é ele que dá para a gente nos ensinando, retribuir com uma medalha é o mínimo”, disse o capoeirista que intensificará o treinamento em busca do bi nos Abertos.
No meio pesado, o ouro veio com o técnico Ricardo Santos e no pesado mais um santista bem acostumado com o pódio: Alberto Vidigal Costa Neto, que conquistou o tetracampeonato da competição em São Bernardo do Campo e buscará a mesma façanha nos Abertos.
PRESENTE
Aos 83 anos, Mestre Sombra afirma que o resultado não é especial, mas consequência de trabalho, treinamento e afinco, sobre todos os pontos de vista. “Dessa maneira, atingimos nossos objetivos”. Sobre a capoeira como competição, ele que foi o grande responsável pela introdução nos Jogos, faz um alerta: “Temos regulamento, normas e muitos estão jogando sem segui-las”, enfatizando a necessidade de preservar o espírito da capoeira.
Ele ressaltou os 50 anos da Senzala, um dos grupos mais influentes da história da capoeira, e a receita inauguração de um espaço para a capoeira no Novo Quebra-Mar, em Santos. “É muito importante, para manter todo mundo conectado. A capoeira ganha em uma cidade onde é referência internacional”, completou.
Mestre Sombra difundiu a capoeira por mais de 15 países no mundo, recebeu o Prêmio Berimbau de Ouro, foi convidado do Ministério da Cultura para o ato de tombamento da capoeira como patrimônio imaterial, entre outras honras. Desde 2015, promove o encontro internacional de capoeira na cidade de Santos, onde já recebeu as honras ao mérito Quintino Lacerda, medalha ao mérito Brás Cubas, Medalha Coração Nordestino, entre outros.
A Associação Senzala permanece até hoje na Rua Brás Cubas, 227. Está previsto para este uma série de eventos em comemoração, entre julho e agosto, com rodas de capoeira, encontros e celebração do seu legado, com a participação de mestres de todo Brasil.