Apadrinhamento afetivo ajuda jovens de abrigo a criar vínculos familiares em Santos
Egle Cisterna
Adolescentes que passam boa parte de suas vidas em abrigos acabam não tendo referência do que seja o convívio familiar e não criam vínculos afetivos, que são importantes nesta fase da vida. Para reverter essa situação para aqueles que têm poucas chances de adoção ou de retorno à família original, o Programa Apadrinhamento Afetivo é um caminho que vem ajudando jovens que vivem em instituições de Santos a descobrirem esse elo de afeição.
A funcionária pública federal Mariluce Silveira Barros queria fazer a diferença na vida de alguém e dar um sentido a mais no tempo livre que dispunha. Ela ficou sabendo do programa santista Família Acolhedora, no qual famílias voluntárias ficam temporariamente com crianças pequenas até que elas possam ser reinseridas em suas famílias biológicas novamente. Mas como ela e o marido trabalhavam muito durante a semana, não se enquadraram no perfil.
“Porém, logo depois, nos ligaram para falar do apadrinhamento e era algo que eu tinha disponibilidade”, lembra Mariluce, que conversou com o marido Washington Flores Junior, entrando juntos nessa missão.
O programa, desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), não permite que os padrinhos escolham os afilhados, então, quando foi apresentada à Camila, Mariluci teve uma grande surpresa ao descobrir que a adolescente, então com 17 anos, era uma pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e deficiência mental. “Nunca tinha lidado com pessoas com deficiência. Mas com essa convivência perdi os medos e os preconceitos, pois a Camila é dócil. É como qualquer adolescente”, conta.
Morando em abrigos desde os 3 anos de idade, todo o vínculo que a jovem tinha era com as equipes técnicas das instituições por onde passou. A atenção de Mariluce fez essa realidade mudar e, há pouco mais de 2 anos, o casal recebe a garota em casa mensalmente para atividades de rotina como um passeio, uma refeição ou simplesmente ficar em casa para assistir à TV.
“O apadrinhamento é muito importante. Durante a semana, esses jovens têm outras atividades, mas, aos finais de semana, é muito chato para eles ficarem em um abrigo. Além disso, é importante também criarem um vínculo afetivo”, avalia ela, que destaca que os interessados em participar do programa devem ter disponibilidade de tempo. “O objetivo não é dar coisas para esses jovens, mas dar atenção, se dispor a passar um dia com eles”, afirma.
A Prefeitura de Santos já participa do Programa de Apadrinhamento Afetivo, previsto em lei municipal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), desde 2020, e, tem por objetivo criar laços afetivos individuais e duradouros entre pessoas da sociedade civil com crianças e adolescentes que estão em abrigos, sem perspectiva de retorno ao convívio familiar.
A psicóloga Biancha Meneguin Pereira Bordinhon, que atua no programa, destaca que o apadrinhamento faz grande diferença na vida destes jovens que não têm chances de adoção ou retorno à família de origem. “Eles passam a ter a sensação de pertencimento e passam a ter nos padrinhos uma referência além das equipes das instituições. Torna-se um vínculo muito importante”, explica. Hoje, o programa conta com cinco jovens que aguardam por um apadrinhamento.
COMO PARTICIPAR
O apadrinhamento não é uma responsabilidade de guarda do adolescente, mas uma parceria de caminhar junto com ele e criar uma relação saudável e de compromisso. Para participar, os candidatos a padrinhos/madrinhas devem ter mais que 21 anos, ser moradores de Santos, ter disponibilidade de tempo para a criança e para encontros de apoio, capacitações e acompanhamentos. A pessoa não pode ter demanda judicial, ou seja, não podem existir ações ou processos nos quais ela seja acusada, indiciada ou citada como ré ou cúmplice de crimes previstos em lei. É preciso ainda apresentar cópias do RG, CPF, certidão negativa de antecedentes criminais, comprovante de residência, entre outros documentos.
Os interessados em apadrinhar participarão, antes de iniciarem uma aproximação sucessiva com o afilhado, de entrevistas individuais, familiares e visita domiciliar. Também farão a preparação teórica composta de oito módulos e entregarão documentação pessoal e dos membros da família para homologação do cadastro.
Interessados podem entrar em contato pelo e-mail apadrinhamentoafetivo@santos.sp.gov.br, pelo telefone (13) 3251-9333 ou presencialmente, na Avenida Dino Bueno, 16, Ponta da Praia, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
Esta iniciativa contempla o item 10 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Redução das Desigualdades. Conheça os outros artigos dos ODS.