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Saiba como ajudar pessoas com transtorno do espectro autista durante as festas

Publicado: 29 de dezembro de 2023 - 13h33

Rosana Rife

As festas de fim de ano são momentos de reunião familiar, celebração e muita alegria. Mas para crianças, adolescentes e até mesmo adultos com Transtorno do Espectro autista (TEA) e seus parentes, pode ser um período desafiador. A rotina alterada, a presença de muitas pessoas e os barulhos dos fogos de artifício podem causar desconforto e ansiedade para eles.

Com um planejamento adequado e estratégias específicas, é possível tornar esse momento mais tranquilo e agradável para todos. Lembre-se de que cada um é diferente e pode apresentar necessidades específicas durante as festas de fim de ano. Conhecer o limite de sensibilidade a estímulos de cada um é fundamental. Algumas pessoas podem lidar bem com barulhos e multidões, enquanto outras podem se sentir desconfortáveis e sobrecarregadas. Portanto, sempre que possível, pergunte se sentem-se confortáveis em participar das festas.

Envolvê-las na decisão pode tornar a experiência menos estressante para elas. Se a resposta for sim, o importante, principalmente para os pequenos, será criar um ambiente seguro, acolhedor e compreensivo, no qual se sintam confortáveis e apoiados. Com planejamento e estratégias adequadas, é possível proporcionar um momento agradável para toda a família.

“O primeiro ponto é planejar o que vai fazer e falar para a criança. Diga para onde vão, quem estará e o que vai acontecer. Antecipe em detalhes, por exemplo: vamos chegar, dizer boa noite para todo mundo, depois vamos comer, vamos conversar, brincar etc.”, ensina o neuropediatra Tiago Martins dos Santos Leal, que atende pacientes com TEA há 12 anos.

Criar uma rotina com tudo combinado para a data é fundamental, acrescenta o especialista. “Porque pensando na criança que já vem em atendimento, ela vai entender, pois a rotina é um combinado e a pessoa com espectro autista tem um apego à rotina, que é uma característica do transtorno”.

Outro ponto importante é também informar aos participantes dos festejos, sejam parentes ou amigos, sobre gatilhos e como pessoas com TEA agem para tentar evitar situações difíceis e se ocorrerem como agir. “Assim as pessoas não vão estranhar caso seja preciso retirar a criança ou adolescente do meio da festa, levar para outro cômodo ou adotar outras estratégias para aquele momento”, diz o neuropediatra.

Uma dica, principalmente para eventos com som alto ou devido a fogos de artifício, é o uso de protetor auricular ou abafadores para ouvidos. “Usar um abafador pode ajudar, mas o ideal é vir acostumando a criança aos poucos. Se ela nunca usou e meia-noite você colocar o acessório no ouvido dela, haverá um incômodo. Então, isso, ao invés de ajudar, pode ser até pior”, alerta o médico.

PREPARATIVOS

Janaína Borba foi diagnosticada com TEA aos 46 anos. E conta que, até lá, sofria sem saber com crises após participar de eventos que adora, como festas de Réveillon e carnaval. “Antigamente, eu ia para as festas, mas não entendia porque tinha muita irritabilidade depois e perdia o sono. Eu tinha ressaca social e ficava em casa até 48 horas sem querer falar com ninguém e, muitas vezes, até andando no escuro.

Depois de diagnosticada, o médico me falou sobre as crises de autismo”. Agora ela já traça estratégias próprias para aproveitar os festejos que tanto ama. “Eu criei habilidades e táticas para viver em sociedade, para quando eu for em festas que amo, não ter crises e poder me socializar. “Hoje tenho meu kit de sobrevivência para os eventos. Uso protetor auricular que compro em farmácia, que fica invisível e pode cair o mundo que estou tranquila. Levo óleos essenciais para fazer respiração. Também não fico no meio das aglomerações na queima de fogos, mas gosto de ver tudo à minha volta, então só fico um pouco afastada”, diz Janaína.

COLAR

O colar girassol com a carteirinha de identificação com o seu transtorno, que é o código CID, é muito importante nesta identificação. Eles, inclusive, foram instituídos como política pública em Santos com o objetivo de facilitar a identificação e o exercício dos direitos fundamentais desta parcela da população. Porque, ajudar alguém que está passando por uma crise de ansiedade ou outra condição não visível pode ser uma situação desafiadora, especialmente se você não tem conhecimento sobre a condição em questão.

“Acho que a primeira coisa a perceber é se a pessoa está com o colar girassol, isso indica que tem alguma condição que necessita de ajuda, mas que é algo não visível. A partir daí, tentar entender o que, naquele ambiente, pode estar fazendo com que ela esteja incomodada e que possa ser um gatilho”, informa o neuropediatra. Aliás, foi o colar girassol que ajudou Janaína durante uma crise no início do ano quando passou mal no transporte público. Ela teve uma crise de ansiedade durante um temporal no qual o ônibus ficou preso em um congestionamento. Ela desceu do coletivo e acabou se abrigando em uma casa de carnes onde foi socorrida. “Ando com meu colar girassol em todos os momentos e uso, justamente, porque, caso aconteça alguma coisa, as pessoas podem identificar qual é a minha deficiência e me ajudar em público”, informa Janaína.

Tenha em mente o seguinte: caso presencie alguma pessoa em crise, tente acalmá-la. Não deixe formar aglomerações na volta dela e procure identificar o motivo da crise (veja mais detalhes abaixo). Se você não tiver ideia do que fazer ou a pessoa estiver em uma crise intensa, ligue para um serviço de emergência, como o Samu (atendimento pelo 192).

 

VEJA AS DICAS

Preparação para as festas

  1. Planeje antecipadamente: é importante planejar com antecedência as atividades e situações que acontecerão durante as festas. No caso de crianças, informe em detalhes quem estará presente, quanto tempo durará e quais serão as atividades. Isso vai ajudá-la a ter uma compreensão do que vai acontecer e a se sentir mais segura e confortável.
  2. Converse com a família: O diálogo com familiares é fundamental para que todos entendam as necessidades e particularidades de pessoas com TEA. Explique, por exemplo, como a criança funciona e sugira estratégias para evitar gatilhos e lidar com situações desafiadoras. Todos devem estar preparados e dispostos a apoiá-la durante as festas.
  3. Crie um ambiente acolhedor: preparar o ambiente onde as festas ocorrerão é importante para ajudar crianças e jovens a se sentirem mais confortáveis. Evite mudanças drásticas na rotina alimentar delas e tente oferecer opções de alimentos que estejam acostumados. Além disso, pergunte à família se é possível usar alguns recursos que costumam ser utilizados durante as terapias, como objetos de conforto ou brinquedos favoritos.
  4. Teste estratégias de proteção auditiva: o barulho dos fogos de artifício pode ser bastante incômodo para pessoas com TEA. Para crianças, por exemplo, uma dica é utilizar protetores auriculares, mas é importante que ela já esteja habituada a eles. Portanto, é recomendado testar previamente o abafador de ruídos em situações diárias para que os pequenos se acostumem e se sintam mais confortáveis ao usá-lo durante as festas.
  5. Pratique empatia e compreensão: famílias com pessoas que têm TEA enfrentam desafios diários, especialmente durante as festas de fim de ano. É importante que todos pratiquem empatia e compreensão. É fundamental ser resiliente, paciente e compreensivo, reconhecendo que cada um é único e possui necessidades específicas.

Como ajudar

  1. Perceber os sinais: Se uma pessoa estiver usando o colar girassol ou outro objeto que indique uma condição específica, como o TEA, é importante estar ciente desses sinais. Isso pode ajudá-lo a entender que a pessoa pode precisar de ajuda e apoio. Mas lembre-se que nem todos que têm uma condição invisível possuem características externas, então fique atento a outros sinais comportamentais também.
  2. Identificar os gatilhos: Na maioria das vezes, uma crise tem um gatilho específico. Portanto, tente verificar o que pode ter causando desconforto para a pessoa naquele momento. Ambiente barulhento e cheio de pessoas pode ser um gatilho.
  3. Abordagem com calma: Ao iniciar uma conversa, é importante manter uma abordagem calma e empática. Evite se aproximar com muitas pessoas ao mesmo tempo, pois isso pode aumentar a ansiedade. Fale com um tom de voz mais baixo e tente criar um ambiente tranquilo e seguro.
  4. Chamar ajuda profissional: Se a pessoa estiver em uma crise intensa e você não souber como ajudar, chame um serviço de emergência, que pode fornecer suporte adequado.
  5. Oferecer suporte emocional: Pergunte à pessoa se ela tem algum contato próximo, como um familiar ou amigo, que possa ajudar. Se ela não conseguir se comunicar tente encontrar um número de emergência para ligar. É importante lembrar que cada pessoa pode responder de maneira diferente, então esteja preparado para oferecer diferentes tipos de suporte emocional.
  6. Eduque-se e mantenha-se informado: Para ser mais útil e compreensivo em situações de crise, é recomendável educar-se sobre diferentes condições invisíveis, como TEA ou transtornos de ansiedade. Isso ajudará você a entender melhor as necessidades e desafios enfrentados por essas pessoas.

 

Esta iniciativa contempla o item 3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Saúde de Qualidade. Conheça os outros artigos dos ODS