Programa de atendimento à população de rua em Santos fortalece vínculos
“Sem palavras para agradecer, não só por mim, mas por todo esse povo que está aí fora. Noto que a procura pelo serviço assistencial aumentou do ano passado para cá; o pessoal está querendo uma oportunidade. Acredito que as pessoas nas ruas começaram a enxergar e admirar mais o trabalho. Quem me conheceu e me olha agora não acredita na diferença; é esta mensagem que pretendo passar: de que é possível mudar” (Emerson, 46 anos, viveu um ano nas ruas, foi acolhido na Casa de Inverno em 2018 e continua o atendimento em um dos abrigos da Prefeitura)
Mais de 7 mil atendimentos à população de rua, 10 mil abordagens sociais em toda a Cidade, 431 recâmbios (retorno à cidade de origem), além de ampliação de equipe, novas iniciativas e o engajamento gradativo da sociedade. Este é o balanço do primeiro ano do Programa Novo Olhar, da Prefeitura, celebrado nesta sexta-feira (19).
A comemoração, com bolo de aniversário para pessoas atendidas, no início da noite, na Casa de Inverno. Antes, às 15h, haverá a doação de cinco camas e cinco colchões de uma empresa de móveis para um dos abrigos municipais destinados a adultos, idosos e famílias (Seabrigo AIF), que funciona na Rua Manoel Tourinho, 352, Macuco.
Entre os vetores trabalhados no programa, o destaque deste primeiro ano é a busca pela empatia da sociedade em relação à situação vivida por quem está nas ruas. O projeto ‘Diálogos para um Novo Olhar’ já envolveu mais de 200 participantes que vão desde funcionários da própria Prefeitura até grupos da comunidade em um trabalho educativo e de conscientização sobre o tema com palestras, reuniões, rodas de conversa e atividades articuladas com diferentes segmentos.
“Incentivamos a reflexão, tirando dúvidas sobre o trabalho executado pela Prefeitura, oferecendo visitas aos serviços, falando sobre os direitos desse público, além de esclarecermos sobre o funcionamento de serviços como o Consultório na Rua, da Secretaria de Saúde, e os acolhimentos e abrigos municipais”, explica o secretário de Desenvolvimento Social, Carlos Mota. De acordo com ele, qualquer grupo interessado no tema pode solicitar uma atividade pelo e-mail novoolhar@santos.sp.gov.br
Participante do projeto, Cláudia Hansted Baganha, 52 anos, integra um grupo de auxílio a este tipo de população há seis anos e, a convite dos técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Social, foi conhecer de perto os serviços prestados. A partir daí, se tornou parceira, encaminhando as pessoas que aceitam ser ajudadas.
“Várias vezes recorri à equipe de abordagem para socorrer moradores; com alguns obtivemos sucesso com ajuda e perseverança da equipe. Sempre participamos das palestras e, assim, conseguimos andar lado a lado com o programa Novo Olhar que, ao meu ver, é sucesso e diferenciado”, relata a munícipe.
ABORDAGENS APRIMORADAS
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social, o aumento de uma equipe nas ruas durante o dia neste primeiro ano está garantindo um salto qualitativo no trabalho dos operadores sociais, com a divisão de tarefas para os tipos de atendimento.
“Uma das seis equipes fica responsável por atender às demandas que chegam através do telefone 0800 177766 (ligação gratuita e 24h) e outras demandas específicas; as outras ficam concentradas em estabelecer os vínculos de confiança com as pessoas em situação de rua, o que envolve tempo e bastante conversa. Desta forma, todos podem acompanhar os casos com maior atenção", explica a Coordenadora de Atenção Social à População em Situação de Rua, Miriam Araújo.
Para agilizar e facilitar o trabalho das equipes foi criado o Persist (Projeto de informatização da equipe de abordagem social) em parceria com a Secretaria de Gestão, para aprimorar o sistema on-line de gerenciamento de informações criado em 2015. Desde fevereiro, as equipes utilizam tablets para terem acesso ao sistema RIS Web. Com essa ferramenta, o programa Novo Olhar está apostando também na ‘ficha de abordagem digital’ ainda em teste.
Se aprovada, substituirá as fichas em papel geradas pelos operadores sociais, além de permitir a análise dos dados e perfil desta população de forma contínua, viabilizando estudos comparativos com os dados levantados pelos censos.
INVERNO AQUECIDO
Como parte do programa, a Operação Baixas Temperaturas visa o trabalho reforçado neste período do ano. Para acolher a população, a Casa de Inverno está disponibilizando, desde o ano passado, um canil para receber com segurança animais de estimação de quem está em situação de rua. Com apoio da Secretaria de Meio Ambiente, os animais recebem ração e cuidados pontuais.
"Acho esse lugar perfeito e a maneira que a equipe trabalha conosco está sensacional. Eu me sinto em casa aqui”, relata Marcos, de 34 anos, que viveu por cinco meses nas ruas da Cidade e está acolhido na Casa de Inverno. “Sofri muito no frio e na chuva. Na rua existe muito preconceito. Me sentia sozinho porque você acaba ficando invisível para a sociedade; senti isso na pele”.
Nos serviços, agasalhos e cobertores, cedidos pelo Fundo Social de Solidariedade e também pela Cruz Vermelha Brasileira Filial Santos, são distribuídos para quem passa as noites em vulnerabilidade. Para o presidente da entidade, Reinaldo Coelho Medeiros Júnior, o Novo Olhar oferece atenção humanizada, dando maior possibilidade de transformação social. “Oferecer ajuda de uma forma digna é realmente uma nova forma de olhar essas pessoas. Se necessário saímos em busca das que estão em situação de risco, expostas ao frio. É um verdadeiro mutirão”.
NOVO CENTRO POP
A inauguração em janeiro do novo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), à Rua Amador Bueno, 446, no Paquetá, marcou outro passo importante do programa. O novo edifício tem quatro pavimentos, incluindo subsolo, possui 900 m² e é três vezes maior que a unidade antiga.
O público atendido encontra banho, lanche, vestiário com fraldário, refeitório com área de convivência e jogos, armários para serem guardados pertences e quatro baias para cães, como já existe na Casa de Inverno. O local oferece também sala de informática e de cinema.
ADESÃO
No início deste ano, houve uma oficina fotográfica oferecida pelo repórter fotográfico francês Willian Wartel, com pessoas atendidas nos equipamentos públicos. O trabalho, em caráter voluntário, teve o objetivo de elevar a autoestima dos participantes. Para aderir a essa iniciativa, outras pessoas podem acessar o site Novo Olhar. No portal, há informações atualizadas sobre os serviços voltados à população em situação de rua em Santos, assim como os projetos em andamento, formas de participar e denunciar violações de direito. Para entrar em contato com o programa, outras formas são o e-mail novoolhar@santos.sp.gov.br e o WhatsApp (013) 99158-7115.
Projeto de pesquisa e extensão está na segunda etapa
Em outubro próximo, deve ficar pronta a pesquisa fruto de parceria entre a Prefeitura e a Universidade Federal de São Paulo, que envolverá o novo censo da população em situação de rua na Cidade. Em julho e agosto, ocorre a preparação do formulário do censo e construção do banco de dados. Já em setembro e outubro será feito o treinamento dos recenseadores e a aplicação do levantamento.
Segundo a gestora do programa Novo Olhar, Juliana Laffront, o censo de 2013 apontava cerca de 800 pessoas vivendo nas ruas e, segundo ela, o número pode aumentar devido a uma tendência mundial sobre esse fenômeno social, que está ligada diretamente ao aprofundamento da desigualdade social, ao desemprego, assim como à ruptura dos vínculos familiares e comunitários.
“Esses diferentes fatores impactam diretamente no aumento do número de pessoas vivendo nessa condição. Em Santos, em períodos sazonais, de verão e de inverno, há também a tendência de aumento dessa população na Cidade, pois há um público flutuante, os trecheiros, que migram de outras regiões do País por serem lugares mais frios, por exemplo”, comenta a gestora.