Ex-vigilante celebra vida renovada ao se mudar para o conjunto habitacional em morro de Santos
Leandro Ordonez
Em frente à nova moradia, no andar térreo do conjunto habitacional Santos R, no Morro da Nova Cintra, em Santos, o ex-vigilante José Jaílson Silva, 47 anos, recorda a trágica noite que mudou sua vida há três anos, quando trabalhava de madrugada na segurança de um posto de combustíveis.
“Foi um assalto. Sete homens me agrediram. Levei chutes e várias coronhadas. Eles me falavam: 'passa a arma e o colete' e eu explicava que não usava nada daquilo. Mostrei minha cabeça cheia de sangue e disse que não havia necessidade de violência. Até hoje tenho dores de cabeça e muita trepidação na vista, que está sempre lacrimejando”.
O trauma foi grande e, a partir dali, a profissão de vigilante passou a representar uma tensão no dia a dia de Silva, que não tinha alternativa para sustentar a esposa e três dos quatro filhos que tem com ela. A consequência do estresse contínuo veio poucos meses depois, com um acidente vascular cerebral (AVC) que o deixou com limitações nos movimentos, forçando-o à aposentadoria.
A situação era agravada pelas condições de moradia da família, no Monte Serrat, em uma casa de estrutura precária, com acessos íngremes, estreitos e escorregadios. Ao ser questionado se eram penosos os caminhos, responde certeiro: “sim, 360 degraus”.
MUDANÇA
Apoiado numa bengala, Silva se diz cansado por não ter dormido na última noite. Passara a madrugada aprontando a mudança, que chegou na manhã desta terça-feira (2) ao Morro da Nova Cintra. “Estava tudo muito difícil. Até que apareceu esse apartamento, uma benção para a gente. E no térreo, que é melhor ainda. Só tenho a agradecer. Meus filhos estão felizes. Já até escolheram o quarto deles”.
Agora, ele vive sob a expectativa de novos tempos. “Estou renovando a minha vida”. E relembra sem saudade as situações vividas na antiga casa. “Se chovia, nem pensávamos em sair. Os filhos, a gente não levava pra escola. A água chagava na altura da canela e ficávamos até de madrugada enxugando. Também tínhamos medo de que caíssem pedras sobre as crianças. Era um sofrimento terrível”.
APARTAMENTOS
A família Silva está entre as 79 que já se mudaram para o conjunto habitacional Santos R desde o início de fevereiro. Outras 49 ainda serão transferidas até maio. Cada unidade tem um ou dois dormitórios, sala, cozinha, área de serviço, banheiro e garagem.
As moradias contemplam ex-moradores do Monte Serrat, do Santa Maria, da Vila Progresso, do Morro do José Menino e do Morro da Boa Vista, além de abrigados em alojamentos do Município e beneficiários de auxílio-moradia removidos de áreas de risco.
O empreendimento é da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Estado de São Paulo. A Prefeitura, por meio da Cohab, atualiza o cadastro de famílias e promove trabalhos de pré-ocupação.
Fotos: Marcelo Martins