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Tranquilo e moderno, bairro em Santos chega aos 131 anos

Publicado:
22 de junho de 2021
10h 04
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Rua com sobrados de fachadas coloridas. #paratodosverem

Por Andressa Luzirão

 

Da varanda de sua casa, na Rua Visconde de Faria, a fisioterapeuta Beatriz Craveiro Teixeira, 46 anos, consegue ver de perto o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), a feira da Av. Francisco Glicério, a ciclovia e o jardim com o calçadão, onde ela e o marido levam a filha Manuela, 6, para andar de bicicleta. Para a menina, Beatriz contou que, no passado, ali transitavam trens de carga e de passageiros intermunicipais, fazendo alusão ao personagem Harry Potter indo para Hogwarts.

Traços de evolução e modernidade, o recorte de paisagem que ela tem de sua janela é de um bairro com adjetivo no nome: o Campo Grande, região que completa 131 anos nesta terça-feira (22), aliando a tranquilidade da vocação residencial com ampla rede de serviços públicos e privados.

Morando no mesmo lugar há 43 anos com a família, Beatriz viu o bairro crescer com ela, logo, suas recordações de infância e adolescência envolvem, sobretudo, as ruas do bairro, onde jogava taco na porta de casa, andava de patins nos prédios dos amigos e brincava de amarelinha e esconde-esconde.

“É um bairro muito bem localizado, perto de centros de compras, praia, hospitais, lazer, cinemas, grandes mercados. Tem tudo perto, então dá para fazer tudo a pé. Um lugar muito agradável de morar, que cresceu, mas que preserva o charme de casas antigas”, conta ela, se referindo a chalés de madeira das décadas de 1950 e 60 e casarões ainda existentes em ruas como Teixeira de Freitas e Marquês de São Vicente.

Hoje, a fisioterapeuta aproveita o bairro para construir novas memórias afetivas em família. “Atualmente, gostamos muito do espaço aberto próximo ao Extra, onde funcionava o Mendes Convention. Há sempre famílias e crianças brincando com bola, patins. E também o jardim que temos em frente à nossa casa, com um calçadão que muitos usam para caminhar, passear com animais, pedalar, além do VLT, que é um meio de transporte para a Baixada Santista de grande utilidade”.

 

INGÁ FRONDOSO

No bairro, estudou na escola municipal Barão do Rio Branco. “Certa vez, vindo da escola, eu estava com fome e subi em uma árvore na esquina da Ministro Xavier de Toledo. Era um ingazeiro frondoso e carregado. Nem vi a hora passar. Como eu não chegava em casa, minha mãe foi atrás de mim. Minha mochila ficou encostada nas raízes da árvore e minha mãe a viu no meio das cascas que eu já tinha comido. Ela olhou para cima e lá estava eu de boca cheia. Sou santista raiz, comi ingá”, brinca.

Junto com os irmãos, a mãe, o marido e a filha, ela abre o baú de histórias construídas no bairro e lembra da quermesse e dos muros altos da linha férrea; da associação de melhoramentos do bairro; das quadras poliesportivas ao lado da linha férrea; do futebol da Doroteia na Ministro Xavier de Toledo com Visconde de Cairu. E ainda do trabalho social da Primeira Igreja Presbiteriana de Santos, que fica na Visconde de Faria com Marquês de São Vicente, onde participou de aulas de alfabetização de adultos, além do comércio Tem Tudo, na esquina das ruas Teixeira de Freitas e Duque de Caxias. “Vendia de tudo mesmo”.

 

REFERÊNCIAS E REDE DE SERVIÇOS

Localizado no quadrilátero entre as avenidas Pinheiro Machado, Ana Costa, Carvalho de Mendonça e Francisco Glicério, o Campo Grande é composto por várias edificações e equipamentos que são referência no bairro, um dos mais antigos de Santos.

No comércio popular variado, do pequeno ao grande, estão ícones como a doceria Praiano, na Rua Espírito Santo, e os supermercados Extra, Santa Terezinha e Varandas. Também compõem sua geografia locais como o Centro Espanhol de Santos e o Clube Vasquinho.

A rede de serviços de saúde proporciona qualidade de vida aos moradores, formada por policlínica, os hospitais Ana Costa e Santo Expedito, clínicas e laboratórios, além do Lar das Moças Cegas, que atende pessoas com deficiência visual. O bairro conta ainda com três escolas municipais, a Barão do Rio Branco, Olavo Bilac e Ayrton Senna da Silva.

 

O GRANDE CAMPO

O nome Campo Grande se dá porque, no final do século 19, começo do 20, a região do Monte Serrat até a praia era um descampado, já que a maioria das pessoas morava na Região Central, de acordo com a Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams).

“Essa região do Campo Grande era vazia e vai se modificar quando começa a ter transporte coletivo. A partir de 1907 começam a circular os bondes, que facilitam o deslocamento das pessoas e a ocupação dessa área”, explica o historiador José Dionísio de Almeida, ressaltando que, entre as décadas de 1930 e 60, o bairro contava com a Estação Ferroviária Sorocabana, onde hoje está o Extra.

Segundo ele, nessa época começam a ser construídos os canais para drenar essa região, que era um alagadiço muito grande. “A data de aniversário faz alusão à fundação da sociedade de melhoramentos do bairro, em 22 de junho de 1982, mas ele já era ocupado desde 1890”, completa.

 

A SUISSA DO BAIRRO

 

Na Avenida Bernardino de Campos, bem próximo à Francisco Glicério, está a Suissa, uma das primeiras padarias de Santos, em funcionamento há 105 anos no Campo Grande e conhecida por seus doces saborosos e variados. “Na década de 1980 era uma das casas que mais vendia doce, como quindim, torta de banana e bomba de doce de leite. O pessoal vinha de longe para comprar. Tinha freguês do morro que descia para comprar sonho da padaria Suissa”, se orgulha o gerente Jorge Barbosa Sobrinho, 63, funcionário no local desde 1976, onde passou de balconista à gerência.

Com os fregueses do bairro, ele acumula histórias. “Tem freguês que chega e fala que o pai ou o avô comprava pão aqui. Lembro de crianças de 3 anos que entravam no caixa e faziam questão de que eu as pegasse no colo. Até hoje continuam me chamando de tio”, diz ele, contando que os atuais donos estão desde 1968 à frente da padaria.

Para ele, que morou por 19 anos no bairro, o Campo Grande é um dos melhores de Santos. “É tudo fácil, temos mercados grandes, a Francisco Glicério, que ficou muito boa, e o VLT, que mudou a cara do Campo Grande”.  

 

MARREIRO E SUA CLIENTELA FAMILIAR

 

No número 338 da Avenida Bernardino de Campos, esquina com a Rua Pedro Américo, está o restaurante Marreiro. A placa na fachada revela sua tradição: “Desde 1920”, período que começou ao lado da Alfândega de Santos, no Centro Histórico. Só no Campo Grande, o comércio está instalado há 35 anos, conta o comerciante Dirceu Veiga do Rio, 53, que comanda o estabelecimento junto com a esposa, Marcia Denise Ramalho do Rio, 49.

“Meu pai, Alberto Hermínio do Rio, falecido há um ano, é o terceiro dono do Marreiro e já estava há 50 anos tocando o restaurante com minha mãe, Maria Augusta. Os dois ficavam aqui no restaurante e eu, desde pequeno, acompanhava. Comecei a trabalhar com eles a partir dos 14 anos. É um prazer dar continuidade ao sonho deles. A vida deles era o Marreiro”, afirma ele, mostrando um prato com o nome do restaurante grafado. O casal português dominava a parte da cozinha, conta o filho, ressaltando que o prato chefe da casa é a caldeirada, muito conhecido pela freguesia fiel do bairro. “Aqui as pessoas são comunicativas e prestativas. É uma clientela familiar”.

 

Fotos: Francisco Arrais e Isabela Carrari

 

Galeria de Imagens

Beatriz segura a filha Manuela no colo e a aproxima de plantas. #paratodosverem
Beatriz e Manuela
Linha do VLT com pessoas circulando na calçada ao lado e uma menina na bicicleta. #paratodosverem
Jorge Barbosa posa para foto no caixa de padaria, com várias produtos à venda. #paratodosverem
Jorge Barbosa
Dirceu Veiga do Rio segura prato com inscrição do restaurante Marreiro. #paratodosverem
Dirceu Veiga do Rio
Fachada da Padaria Nova Bandeirantes com pessoas na porta. #paratodosverem
Fachada do Centro Espanhol. #paratodosverem