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Rotary clubs fazem doação de barracas para usuários da casa aberta

Publicado: 1 de novembro de 2000
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Na última terça-feira (31), o Rotary Club Santos-Praia e o Rotary Club – Ponta da Praia entregaram duas barracas para venda de artesanatos produzidos por usuários da Casa Aberta – Abrigo e Oficinas, equipamento da Secretaria de Ação Comunitária e Cidadania (Seac) que atende população de rua. Uma das barracas foi doada a Rosemeire Iracema da Silva, usuária que está em processo de desabrigamento e que, com a ajuda dos Rotary poderá reorganizar sua vida, contando inicialmente com um suporte para a comercialização do artesanato que ela mesma produz (peças em crochê e vagonite). A outra barraca poderá ser utilizada por qualquer um dos usuários da Casa que queira expor e vender seus trabalhos manuais, a partir de uma escala organizada pelos técnicos do serviço, sendo que os recursos obtidos na comercialização serão usados em benefício deles mesmos. Além disso, o Rotary – Ponta da Praia também fez a doação de uma série de itens que reforçarão o atendimento realizado na Oficina de Beleza da Casa Aberta, iniciativa que integra o ´Programa Auto-estima´ mantido na unidade desde o final de 98, quando o próprio clube colaborou com sua montagem. Hoje, segundo o professor de cortes de cabelo, Aguinaldo Higino Santana, a oficina atende em média 470 pessoas por mês. Os produtos doados pelo Rotary foram os seguintes: seis máquinas para corte de cabelo, cinco tesouras, cinco navalhas, dez litros de xampu, dez litros de creme para cabelo e dois potes de creme para barba. Para fazer a entrega dos materiais, estiveram na Casa Aberta: Marco Antônio Fernandes Ribeiro, Maurílio Malavasi e Maria Regina Ribeiro, respectivamente presidente, primeiro-secretário e diretora de patrimônio do Rotary Club de Santos – Ponta da Praia. Já o Rotary Club de Santos – Praia estava representado pelo presidente Arthur Cicone Júnior e pelo presidente da Avenida de Serviços à Comunidade, Ari Rodrigues. Estamos muito orgulhosos com o trabalho que é feito pela Seac na Casa Aberta. Por isso, fazemos o máximo esforço para que todos os Rotary se unam cada vez mais no sentido de ajudar a comunidade, o que é o objetivo de todos os clubes. Estamos mais felizes ainda porque vemos que, com pequenas ações, conseguimos resultados significativos para pessoas que realmente precisam de nossa ajuda, afirmou o presidente do Rotary – Ponta da Praia, Marco Antônio Fernandes Ribeiro. A mesma opinião é compartilhada pelo presidente do Rotary Santos – Praia Arthur Cicone Júnior, que pretende continuar colaborando com a Seac, proporcionando alfabetização para os usuários da Casa Aberta. Em nome de todos os abrigados na unidade, um dos usuários fez questão de agradecer aos Rotary pela iniciativa. Ela nos dá uma expectativa a mais para que possamos ocupar o tempo ocioso. É um incentivo para a recuperação de certos valores que já havíamos perdido. Só temos a agradecer. USUÁRIO PLANEJA REFAZER SUA VIDA Para Rosemeire Iracema da Silva, a doação da barraca e também a obtenção de uma licença que permitirá que ela trabalhe na ponta de feiras (conseguida com a ajuda de uma das funcionárias da Casa Aberta) é a grande oportunidade de mudança em sua vida. Se tudo der certo, é o passo inicial para que ela refaça um caminho que deixou para trás há algum tempo. É a chance de poder ter uma renda fixa e, a partir daí, sair do abrigo e ir morar sozinha. Estou muito feliz. Aos 44 anos, sua história não é nada simples, aliás, como a de praticamente todos que já passaram ou que estão no equipamento. Segundo conta, por causa das drogas há seis anos foi para as ruas. Lá aprendi a fazer crochê. Nesse período, teve várias passagens na Casa Aberta. Este ano aceitou ficar oito meses internada em uma casa de recuperação e, desde junho está abrigada na Casa Aberta, onde além do crochê foi incentivada pelos técnicos a participar das oficinas de vagonite (um tipo de bordado), pintura e confecção de caixas de presentes. Não uso mais drogas. Só cigarro. Também não é fácil largar tudo de uma vez. Mas vou conseguir. Hoje sua produção é grande, tanto que até expôs seus trabalhos durante a realização do 6º Encontro Santista da Terceira Idade, realizado no Sesc, no qual em dois dias conseguiu faturar mais de um salário mínimo. Quero trabalhar, vender minhas coisas e refazer minha vida. Só tenho a agradecer a todos que estão acreditando em mim porque sozinha não conseguiria. PROFISSIONAIS DA SEAC LIDAM DIARIAMENTE COM SITUAÇÕES DIFÍCEIS O trabalho com as pessoas que estão nas ruas é muito difícil e exige dos profissionais da Secretaria de Ação Comunitária e Cidadania (Seac) muita dedicação, paciência e, mais do que isso, um acreditar permanente de que é possível modificar a vida de quem há anos acumula sofrimentos. Em maio deste ano a Seac reformulou o atendimento à população de rua adulta e desmembrou o trabalho até então feito exclusivamente na Casa Aberta em duas frentes: plantão social e abrigo. A reformulação da Casa Aberta foi motivada por duas razões: Primeiro porque o imóvel onde funcionava a Casa Aberta, na Rua Visconde do Rio Branco, 30, precisava passar por ampla reforma. Segundo, porque repensamos nosso trabalho e verificamos que não estava sendo produtivo manter todos os serviços oferecidos a esta população misturados, já que entre eles havia desde pessoas crônicas na rua, que sofrem devido a vários problemas, principalmente o alcoolismo, e outras que já apresentavam alguns avanços em relação à perspectiva de mudança em suas próprias vidas. Em função disso, o plantão social da Casa Aberta foi transferido para a Praça dos Andradas, ao lado da Rodoviária. Neste local são feitos o cadastramento, a higienização e o encaminhamento do usuário, de acordo com suas necessidades. Há, inclusive, acomodações para os que precisam de pernoite, que conta atualmente com 30 vagas. Para os usuários que já se encontram em condições de ser albergados, a Prefeitura destinou um novo espaço, na Rua General Câmara, 249, onde funciona um abrigo com 30 vagas (18 para homens e 12 para mulheres). O local foi totalmente reformado para o início do atendimento, em uma parceria com o proprietário do imóvel, que colabora bastante com a Seac no sentido de garantir a manutenção da casa, que possui quatro quartos, banheiros individualizados, sala, copa, cozinha, área para oficinas e quintal. No mesmo imóvel, são realizadas assembléias entre os usuários e oficinas que visam a promoção e o resgate da cidadania, como por exemplo, as oficinas da palavra (incentivo à alfabetização e continuidade dos estudos); da auto-estima (que proporciona corte de cabelos, barba e outros); de ikebana e vagonite (conduzida por uma idosa que faz parte do ´Projeto Vovô Sabe Tudo´); de desenho, pintura em tecido, pintura em tela, tapeçaria, cestaria em jornal, caixa de presentes (conduzida por uma funcionária da própria casa) e crochê (dada por uma usuária). Além disso, eles também têm atividades interativas, como jogos e vídeo. A compreensão do trabalho com a população de rua precisa ser a mesma para todas as equipes que atuam com a demanda, desde os Educadores de Rua, que mantém o primeiro contato, ainda nas ruas, até a equipe que faz a primeira acolhida, na Casa Aberta – Plantão Social. FORÇA DA EQUIPE Para garantir o atendimento dos moradores por 24 horas na Casa Aberta – Abrigo e Oficinas, a Seac disponibiliza uma equipe formada por dois assistentes sociais, seis operadores, uma auxiliar de enfermagem, quatro merendeiras, uma instrutora e uma guarda municipal, além da chefe do equipamento. Para a operadora social Márcia Silveira Farah Reis, o maior desafio do trabalho é lidar, cotidianamente, com problemáticas tão diferentes. Mas, apesar de tantas dificuldades, a equipe não desiste e está sempre em busca de novas alternativas, principalmente de novos parceiros que colaborem com o atendimento. Além dos Rotary, que têm nos ajudado muito, outras pessoas também têm acreditado no trabalho com a população de rua. Só como exemplo, temos três floriculturas da Cidade que fornecem flores semanalmente para que possamos fazer a oficina de ikebana, a Ivan Flores, a Parisiense e a Brasília. Além disso, o Instituto Dermares acaba de garantir uma vaga para que uma de nossas usuárias possa fazer o curso profissionalizante de cabeleireira e manicure, o que sem dúvida ajudará sua inserção no mercado de trabalho e, mais do que isso, sua inserção social, diz Márcia. São iniciativas como estas que precisam ser reproduzidas e ampliadas.