Pacientes com sequelas de covid-19 em Santos têm tratamento para reabilitação física e emocional

“Vem, que o sol raiou, os jardins estão florindo, tudo faz pressentimento, que este é o tempo ansiado, de se ter felicidade”. Para a auxiliar financeira Solange Carvalho, 59 anos, poder cantar a letra do seu samba favorito (Pressentimento, de Elton Medeiros), ao se recuperar da covid-19, representa uma vitória que emociona tanto quanto os versos do grande sambista carioca.

Solange foi infectada pela doença em fevereiro deste ano e, apesar dos sintomas aparentemente leves, foi depois de estar “curada” que começou a sentir os efeitos mais severos. “Três dias depois de estar clinicamente saudável tentei ir ao trabalho e percebi que estava sem fôlego; logo notei que estava com dores fortes nas pernas e já não conseguia mais cantar”.

O caso dela não é único, de acordo com pesquisa do Hospital das Clínicas da USP, que acompanhou 750 pacientes acometidos pela covid-19, 60% deles tiveram algum tipo de sintoma tardio, mesmo um ano depois da alta hospitalar.

Em Santos não é diferente. E, para contribuir na reabilitação dos casos, a Seção de Recuperação e Fisioterapia da Zona da Orla/Intermediária da Prefeitura (Serfis - Avenida Conselheiro Nébias, 267, Vila Mathias) se especializou no tratamento desses pacientes e já realizou mais de mil atendimentos de pessoas com sintomas tardios desde maio de 2021. 

“Oferecemos tratamento de fisioterapia para recuperação das pessoas que tiveram sintomas tardios, ou sequelas causadas pela doença, além de oferecer acompanhamento psicológico, pois muitas pessoas lidam com os traumas resultantes da covid”, explica a coordenadora da unidade, Lúcia Helena Santos e Silva.

Para esse acompanhamento, o psicólogo Fábio Serrão organiza grupos nos quais os pacientes podem compartilhar experiências, traumas e medos relacionados aos momentos mais difíceis de quando estavam doentes. “Existem dois trabalhos, o físico e o psicológico. Precisamos ajudar os pacientes a recuperar a confiança e muitas vezes a lidar com os traumas de sofrimento pela perda de algum parente, ou mesmo por estarem correndo um risco muito grande de morrer”.

É o caso da Vera Lúcia Hero, 70 anos. Ela passou dois meses internada com um quadro grave da doença respiratória. Ainda hoje ela se emociona ao lembrar dos momentos que passou entre a vida e a morte. Segundo conta, o carinho do atendimento humanizado que recebeu nas unidades de saúde em que estava internada juntamente com a fé foram o combustível para buscar forças e se recuperar.

“Foram muitos dias difíceis, mas ainda me lembro do carinho das enfermeiras que seguravam a minha mão, dos profissionais da saúde que sempre acreditaram em mim e de São José, para quem rezei todos os dias que estava consciente”. Basta conversar com dona Vera para perceber o quanto o trabalho de acompanhamento psicológico conseguiu ajudar a lidar com essas dores relacionadas ao momento que passou.

Depois da alta médica ela ainda ficou com algumas sequelas. “Meus braços doíam demais, não conseguia esticar nem mesmo para pentear os cabelos”. Segundo a aposentada, isso tem mudado com o auxílio da fisioterapia na Serfis. “Já consigo fazer quase tudo o que fazia antes de ficar doente”.

Esse é também o relato de Solange que segue na luta pela recuperação plena dos pulmões, motivada pelo amor ao samba, da mesma forma que venceu a depressão aos 50 anos através das aulas de música. “Todos os dias faço os exercícios que aprendo aqui e os vocais; estou me recuperando bem e logo mais estarei sem nenhum sintoma”.

GRUPOS DE REABILITAÇÃO

A Seção de Recuperação e Fisioterapia atende pessoas com sequelas de internação pela covid-19, sejam respiratórias, musculares ou emocionais, encaminhadas pela rede municipal de saúde. Os pacientes são divididos em grupos de cinco pessoas que se encontram uma vez na semana. O tratamento costuma durar 10 semanas, mas pode ser prolongado de acordo com a necessidade do paciente, observada pela equipe médica.

O local conta com infraestrutura completa de equipamentos para possibilitar o atendimento e a recuperação dos pacientes, além de uma equipe dedicada aos casos de sequelas e sintomas tardios de covid-19 que conta com dois psicólogos, duas enfermeiras, dois terapeutas ocupacionais, três fisioterapeutas, duas assistentes sociais e um médico vascular.